A ameaça do córus e pulgões para as lavouras de trigo

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A cultura do trigo serve de alimento a uma gama variada de insetos, mas a maioria ocorre em baixas densidades ou em fases do ciclo da planta que não mais causam prejuízos econômicos.

O número de espécies que provocam danos significativos ao cultivo desta gramínea é pequeno, mas sob determinadas condições podem resultar em grandes prejuízos. Entre os principais insetos estão pulgões, corós e lagartas.

A partir da semeadura, os corós já podem causar prejuízos, ao destruírem sementes, plântulas ou o sistema radicular durante a fase vegetativa do trigo. Os corós são larvas de solo, com a forma imatura de besouros. Durante o seu desenvolvimento se alimentam das sementes recém semeadas e das raízes das plantas. Três espécies são aquelas de maior freqüência nas áreas cultivadas com trigo no sul do Brasil.

As espécies mais comumente encontradas são o coró-das-pastagens (Diloboderus abderus), o coró-do-trigo (Phyllophaga triticophaga) e o coró-pequeno (Cyclocephala flavipennis). Todas apresentam ciclo biológico relativamente longo, passando pelas fases de ovo, de larva (coró), de pupa e de adulto (besouro). Somente as larvas, que são polífagas, são capazes de causar danos às culturas. Em geral, a infestação ocorre em manchas na lavoura.

Coró-das-pastagens - A espécie apresenta ciclo anual: os adultos podem ser encontrados de dezembro a março. A postura é feita nessa época, com mais freqüência em janeiro, principalmente em áreas onde há ocorrência de palhada sob a cultura de verão ou mesmo nos pastos. Após um período de incubação, que dura entre uma e duas semanas, eclodem as larvas, que passam por três ínstares até empuparem, geralmente em novembro. Costuma escavar galerias no solo e ocorre mais em sistema de plantio direto e em pastagens, devido à necessidade de palha para nidificação e oviposição, e mesmo para a alimentação das larvas. O dano decorre da ação das larvas, especialmente as de terceiro ínstar, que consomem sementes, raízes e partes verdes da planta, que carregam para dentro da galeria. As larvas se concentram entre 10cm e 20cm de profundidade, podendo em anos de pouca precipitação atingirem até 60cm. Os maiores danos às culturas ocorrem de maio a setembro.

Coró-do-trigo - A espécie apresenta uma geração a cada dois anos: os ovos são postos em novembro do ano 1; a fase de larva ocorre desde o final do ano 1, prolonga-se durante todo o ano 2 e termina em janeiro/fevereiro do ano 3. As pupas ocorrem de janeiro a abril do ano 3. Os adultos surgem a partir de março e permanecem no solo até outubro/novembro do ano 3, quando vêm a superfície para acasalamento e dispersão. Ocorre tanto em sistema de plantio direto como em convencional. As larvas apresentam três ínstares; não escavam galerias, são favorecidas por solos não compactados e vivem muito próximas da superfície, concentrando-se até os 10cm de profundidade. Os danos ocorrem em anos alternados e devem-se às larvas, especialmente as de terceiro ínstar, que se alimentam de sementes, raízes e da parte área das plantas (que puxam para o interior do solo). O período mais crítico para as culturas vai de maio a outubro/novembro do ano 2, quando as larvas param de comer e permanecem inativas até a pupação. De maneira geral, tem se observado que os danos geralmente são elevados no ano de alta ocorrência de larvas grandes e no seguinte, os prejuízos são mínimos.

Coró-pequeno - Apresenta uma geração por ano e é mais comum em lavouras com abundância de palha e em pastagens. Os adultos fazem revoadas em setembro/outubro de cada ano. As larvas não escavam galerias, têm reduzida capacidade de causar danos às plantas e, provavelmente, também consomem matéria vegetal em decomposição. Mesmo em populações elevadas, como 80 larvas/m2 a 100 larvas/m2, não tem causado danos às culturas. Sua ocorrência é mais freqüente em áreas de rotação de pastagens perenes com cultivos de inverno.

Manejo dos corós

Os pontos a serem considerados e as medidas a serem adotadas são:

• - observar e demarcar as áreas com ocorrência de corós, com vistas ao acompanhamento nos anos seguintes;

• - a mortalidade natural, normalmente provocada por patógenos e condições extremas de umidade do solo, pode ser expressiva, e o colapso de uma população ocorrer de uma geração para outra;

• - identificar a(s) espécie(s) de coró existente(s) na lavoura e a respectiva densidade, através de amostragens em trincheiras de 25cm x 50cm x 20cm de profundidade, para D. abderus, e de 25cm x 100cm x 20cm de profundidade, para Phyllophaga triticophaga;

• - estima-se que danos expressivos ocorram a partir de 5 corós/m2 (nível de dano);

• - não plantar trigo em áreas infestadas acima do nível de dano; a aveia preta tem maior capacidade de tolerar danos de corós e pode ser uma alternativa nessas situações;

• – o coró-das-pastagens, apesar dos danos causados, também pode proporcionar benefícios, como melhorar a capacidade de absorção de água do solo, em função das galerias que escava, e melhorar características físicas, químicas e biológicas do solo, através da incorporação de matéria orgânica;

• - os sistemas de rotação de culturas e de manejo de resíduos que reduzam a disponibilidade de palha no período de oviposição de D. abderus desfavorecem o estabelecimento ou o crescimento populacional do inseto;

• – o tratamento de sementes com inseticidas é tecnicamente viável no controle de corós.

• - a constatação de áreas infestadas pelo coró, após a implantação da cultura e durante a fase vegetativa, pode-se lançar mão do tratamento curativo com pulverização total da área infestada com organofosforado Clorpirifós, na dose de 1,5 litros/ha, em alto volume e antes de uma chuva ou irrigação de 25/30mm, pois há necessidade da penetração do inseticida no solo, para realizar um bom controle. Devido ao alto custo desta técnica, somente áreas com alta infestação, mais de 10 corós/amostra, compensam sua utilização.

Os pulgões iniciam o ataque a partir da emergência das plantas e ocorrem durante todo o ciclo. As espécies de pulgões tanto podem ocorrer de forma conjunta como isolada. O ataque se inicia com a chegada das formas aladas às plântulas recém emergidas e ali se estabelecem sugando a seiva, inoculando viroses e se reproduzindo. A temperatura ambiente é fundamental na reprodução do pulgão. Em temperaturas frias, abaixo de 12ºC, dificilmente surgem alados e as formas são ápteras apresentando densas colônias sobre as folhas, colmos e espigas. Em temperaturas superiores a 25ºC, somente alados são formados e as colônias são pequenas e com alto fator de dispersão. De maneira geral, a primeira espécie que infesta o trigo é o pulgão verde dos cereais, Schizaphis graminum, encontrado facilmente em aveia, azevém e trigo guachos ou gaudérios ocorrentes na cultura de verão.

Durante a fase vegetativa, a espécie mais freqüente é o pulgão verde da folha, Metopolophium dirrhodum, que ataca as folhas, localizando-se em toda a sua extensão, formando, por vezes, extensas colônias, sempre na dependência de temperaturas amenas e com baixa intensidade durante as precipitações.

A partir do elongamento, a espécie mais comum é o pulgão da espiga, Sitobion avenae, que ataca preferencialmente a espiga, mas também pode ser encontrado nas folhas e hastes da planta.

O aumento da incidência de pulgões nas últimas safras deve-se a vários fatores entre os quais, pode-se citar: o aumento da área cultivada, a utilização de áreas com maior temperatura média no inverno, o baixo efeito do controle natural verificado nestas últimas safras e o desconhecimento do sistema de manejo de pragas especialmente pelo pequeno produtor.

Os danos causados pelos pulgões podem ser importantes na redução do peso de mil sementes, do peso do hectolitro, do poder germinativo das sementes e do número de grãos por espiga. Além desses danos, os pulgões podem ser vetores de viroses.

A decisão do uso de inseticidas deve obedecer aos seguintes critérios:

• - Fase de emergência ao afilhamento: controlar quando encontrar, em média, 10% de plantas com pulgões.

• - Da fase de alongamento ao emborrachamento: controlar quando a população média atingir 10 pulgões por afilho.

• - Na fase de enchimento de grãos reprodutiva (do espigamento/antes e até grão em massa): controlar quando a população média atingir 10 pulgões por espiga.

As aplicações devem ser repetidas sempre que forem constatados esses níveis, durante os períodos considerados. Após o estádio de grão em massa, não é necessário o controle de pulgões.

A determinação da população média de pulgões deve ser efetuada semanalmente, através de amostragem de plantas em vários pontos representativos da lavoura.

Os inseticidas indicados para o controle de pulgões encontram-se na Tabela 1. Entre os inseticidas recomendados, deve-se dar preferência aos que apresentem menor toxicidade aos inimigos naturais e aos mamíferos. O uso generalizado de produtos seletivos permitirá, especialmente, o aumento das populações de inimigos naturais.

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