A melhor estratégia de adubação do milho depende do sistema de produção utilizado

Muitos agricultores e técnicos buscam definir “pacotes tecnológicos” para adubação do milho, os quais, uma vez estabelecidos, não mais precisariam de ajustes ao longo do tempo.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

No entanto, não é possível indicar um modelo de manejo da adubação que possa ser considerado padrão ou ideal para a cultura, sobretudo considerando a competitividade do setor e as inconstâncias do mercado de grãos e do custo de fertilizantes.

A melhor estratégia deve atender às prioridades de intervenção conforme o histórico da lavoura, de forma conectada à capacidade de investimento e à expectativa de produtividade, visando proporcionar maior eficiência agronômica e rentabilidade ao agricultor. Tal estratégia só pode ser definida quando se dispõem de informações detalhadas sobre o ambiente de produção, as particularidades de cada talhão e as opções de fertilizantes disponíveis. Ou seja, o melhor manejo da adubação depende do conhecimento mais detalhado do sistema de produção adotado em cada propriedade.

Não importa se estamos falando de grandes empreendimentos de produção agrícola ou de pequenas lavouras da agricultura familiar. Em todos os casos, eventualmente por meio de procedimentos diferentes, é preciso buscar subsídios para um diagnóstico consistente, pré-requisito para uma tomada de decisão sensata e que represente maior garantia de retorno da cultura.

Os responsáveis pela assistência técnica, pública ou privada, precisam entender que existem numerosas possibilidades de se cultivar milho, incluindo variadas combinações com outras culturas, envolvendo menor ou maior investimento em tecnologia de sementes, fertilizantes, defensivos e máquinas agrícolas.

Assim, por exemplo, tem-se desde a realidade da chamada “agricultura de baixo insumo”, com manejo mais rudimentar e mínimo investimento em sementes melhoradas (ex: uso de variedades tradicionais) e fertilizantes, até a “agricultura de ponta”, a qual caracteriza-se pela uso intensivo de tecnologia e pelo elevado custo de produção associado à aquisição de sementes híbridas de última geração e insumos diversos para obtenção dos maiores tetos de produtividade. Em qualquer caso, é conveniente identificar um ponto de equilíbrio entre investimento e retorno em produtividade física e econômica.

O manejo da fertilidade do solo merece especial atenção, visto que, na maioria das vezes, os gastos com corretivos e fertilizantes representam uma parcela muito expressiva do custo das lavouras. Ao mesmo tempo, a construção da fertilidade do solo é uma das práticas de manejo que promovem maiores ganhos de produtividade do milho em todas as regiões produtoras do Brasil, devido à baixa fertilidade natural dos nossos solos.

Tendo em vista a ampla diversidade de sistemas de produção de milho atualmente utilizados, o primeiro passo para acertar o manejo da adubação é identificar as prioridades de intervenção conforme as características da propriedade agrícola. Algumas iniciativas podem ser desastrosas, como por exemplo:

• Aplicar calcário e fertilizantes sem dimensionar suas quantidades com base na análise do solo.

• Investir em adubação com fertilizantes NPK (alto custo) sem antes corrigir a acidez do solo com calcário (baixo custo e fundamental para o melhor aproveitamento dos fertilizantes).

• Investir em híbridos mais modernos sem o correspondente esforço para fornecer nutrientes de acordo com a análise de solo e recomendações de adubação para maiores patamares de produtividade.

• Aplicar fertilizantes em quantidades exageradas, esperando que os ganhos de produtividade aumentem continuamente.

Via de regra, em lavouras menos tecnificadas e com produtividade abaixo de 5 t/ha de grãos, a melhor estratégia de manejo para melhoria do sistema de produção envolve o uso da análise de solo para identificação das limitações de fertilidade e a priorização do investimento de recursos financeiros na seguinte ordem: calagem > P > N > K > S > Zn. Ou seja, de acordo com a análise do solo, o agricultor deve inicialmente corrigir a acidez utilizando calcário. Em seguida, aumentar a disponibilidade de fósforo (P), nutriente cuja deficiência é generalizada nos solos brasileiros. Na seqüência, maiores ganhos de produtividade do milho são obtidos ao se fornecer nitrogênio (N), potássio (K), enxofre (S) e finalmente o micronutriente zinco (Zn). Obviamente, se qualquer um desses nutrientes estiver em deficiência extrema numa determinada lavoura, este passa a representar a prioridade na adubação. Daí a importância de se utilizar a análise de solo.

Agricultores que visam produtividades acima de 6 t/ha de grãos devem investir firmemente na construção da fertilidade no perfil do solo, considerando, além da estratégia já mencionada, a possibilidade de uso da gessagem e a necessária adoção do sistema de plantio direto.

Os produtores que já trabalham com produtividades mais elevadas, próximas de 10 t/ha, também devem buscar aprimoramento do manejo da adubação. Contudo, a partir deste nível de produtividade, os ganhos advindos do investimento em adubação são mais sutis. A estratégia nesse caso deve envolver procedimentos mais específicos, tais como:

• O monitoramento dinâmico dos talhões ao longo do tempo, por meio de análises de solo e foliares.

• O registro histórico das produtividades observadas em diferentes partes da lavoura ou da propriedade, assim como, a mensuração de incrementos de produção decorrentes de eventuais modificações no manejo da adubação (ex: utilização de adubação foliar, uso de “coquetéis” contendo mistura de vários macro e micronutrientes, etc.).

• O refinamento do manejo, com readequação de doses conforme a evolução da fertilidade dos talhões (a aplicação excessiva de fertilizantes é cada vez mais comum na agricultura com elevado grau de tecnificação).

• Uso de ferramentas da agricultura de precisão (ex: amostragens georreferenciadas de solo e planta, mapeamento da produtividade dos talhões, manejo sítio-específico da adubação, etc.).

É muito importante identificar as diferenças entre os sistemas de produção de milho que tem implicações na definição da estratégia de adubação. Existem, por exemplo, variações regionais das recomendações de adubação devido às condições edafoclimáticas distintas nas diversas regiões de plantio de milho do País. Contrastes marcantes nos requerimentos nutricionais também são observados quando se considera o cultivo em safra ou safrinha e, da mesma forma, quando finalidade da lavoura é produção de grãos ou de silagem. Maiores quantidades de fertilizantes devem ser empregadas nas lavouras de safra normal e menores nas de safrinha, basicamente porque a produtividade esperada no segundo caso é normalmente menor. Quando o milho é cultivado para silagem, toda a parte aérea (colmo, folhas e espigas) é removida da lavoura e, portanto, há maior exportação de nutrientes comparativamente à colheita apenas dos grãos. Nesse caso, a adubação deve ser reforçada para repor os nutrientes exportados e evitar que haja comprometimento da fertilidade do solo.

Qualquer que seja a condição da propriedade, os técnicos e agricultores conscientes devem sempre buscar a melhoria do sistema de produção. Dada a gama de variáveis que condicionam a produtividade das lavouras, a generalização do manejo da adubação não é conveniente e, muitas vezes, desperdiçam-se oportunidades para reduzir custos ou aumentar os lucros. Dentre as práticas que viabilizam o aprimoramento do manejo destacam-se, ainda, a experimentação na fazenda (testar novos insumos ou tratos culturais numa área menor para depois adotar em área total) e a construção do histórico dos talhões (incluindo o registro de eventuais modificações no manejo e seus efeitos na produtividade e no custo de produção).

Por fim, é importante frisar que as inovações tecnológicas em adubação devem ser buscadas, mas sem perder de vista as práticas elementares de manejo cultural, que constituem a base da construção da produtividade. Pouco adianta caprichar no fornecimento de nutrientes para o milho se aspectos como uniformidade de semeadura, população de plantas e controle de pragas comprometem o estande final da lavoura. Diferentemente de outras culturas, cada planta de milho perdida ou mal formada representa uma espiga a menos na colheita, o que pode significar várias sacas a menos na produtividade média de um talhão.

Álvaro Vilela de Resende e Flávia Cristina dos Santos

Pesquisadores do Núcleo de Desenvolvimento de Sistemas de Produção da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG)

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