Adubação contínua

Nos solos do Brasil, a intensificação da produção da pastagem sem o uso de fertilizantes é extremamente difícil. A recomendação é investir de 15 a 20% da receita bruta por ha/ano em aduba&cced

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Elementos químicos presentes no sistema solo-planta-animal desempenham funções vitais para o normal funcionamento desse sistema. O estabelecimento e a produtividade das plantas forrageiras são influenciados pela disponibilidade de nutrientes no solo. Por sua vez, os herbívoros utilizam as plantas forrageiras como fonte básica na alimentação e têm um relevante papel na movimentação de nutrientes minerais nesse sistema.

A produção animal a partir das pastagens deve ser compreendida como um ecossistema, no qual os fatores solo-planta-animal, clima e manejo, estão interrelacionados. Uma parte dos nutrientes ingeridos nas pastagens é retida para a formação do corpo dos animais e para integrarem os produtos sistematicamente fornecidos por esses animais (Tabela 1 -

). Cerca de 90% dos nutrientes minerais retornam ao solo através das excreções dos animais em pastejo. Um sistema leiteiro produzindo 8000 kg de leite/ha/ano exporta o equivalente a 42; 8 e 11 kg de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), respectivamente, e em sistemas de produção de carne (500 kg de peso vivo/ha/ano) os valores seriam respectivamente 12, 4 e 1 kg/ha/ano para aqueles nutrientes (Humphreys, 1991). Esses dados sugerem que sistemas de produção baseados em pastejo seriam, praticamente, auto-sustentáveis exigindo baixas quantidades de insumos (fertilizantes e corretivos) para reporem as perdas exportadas no produto animal. Para se ter uma idéia, a quantidade de fertilizantes fornecida através das fezes de animais pastejando áreas com produtividade de 15 toneladas de matéria seca (MS)/ha/ano seria de 100 kg N, 45 kg K2O, 78 kg de P2O5 e 14 kg de enxofre (S)/ha/ano. Esses níveis de deposição de nutrientes representam quantidades superiores às adubações normalmente utilizadas em pastagens.

Entretanto, os animais sob pastejo interferem significativamente alterando a distribuição das excreções pela pastagem. Esta distribuição depende de fatores como a taxa de lotação animal, a forma de pastejo, a área de descanso e a quantidade e frequência de excreção. Um bovino adulto defeca a cada duas horas e urina a cada três horas, sendo cobertos 0,09m2 e 0,28m2, respectivamente, em cada defecação e micção. Estima-se, sem considerar a sobreposição de excreções, que 35,5% (11,8% como fezes e 23,7% como urina) da área total da pastagem seriam cobertos pelas excreções de bovinos ao final de um ano de pastejo (Wilkinson e Lowrey, 1973). Em trabalho realizado em piquetes de Brachiaria decumbens utilizados de forma rotacionada (três a quatro dias de pastejo e 26 a 28 de descanso) por gado zebuíno, verificou-se que mais da metade das fezes estava distribuída no terço das pastagens onde os animais se concentravam para descanso. É normal que apenas 12% da área da pastagem recebam os excrementos dos animais, e que os

outros 88% da área fiquem submetidos ao mesmo sistema onde a forragem é cortada e transportada para outro local.

A forragem não consumida pelos animais apresenta-se como uma fonte de retorno de nutrientes para o sistema bem como as várias associações entre raízes de forrageiras com microrganismos, significando importantes contribuições ao sistema, particularmente em termos de fixação de N. Um ponto importante a ser destacado é que a contribuição através das plantas apresenta distribuição uniforme na área da pastagem, ao contrário das excreções animais que se distribuem de forma desuniforme na pastagem. O retorno de nutrientes ao solo por lavagem das folhas (como ocorre com N e K) e por tecidos mortos da parte aérea e das raízes (por decomposição) chegam a atingir de 9,0 a 13,4 kg/ha (para P, S, Ca e Mg) até 97,3 kg/ha (para K) num ciclo de um ano (Wilkinson e Lowrey, 1973). A taxa de fixação de N através de associações simbióticas de bactérias (Rhizobium, Bradyrhizobium) com leguminosas forrageiras tropicais e subtropicais tem sido relatada, em termos médios, entre 40 e 290 kg N/ha/ano. Uma estimativa de contribuição das leguminosas para pastagens consorciadas em comparação com a aplicação de fertilizantes nitrogenados e em termos de quantidade de proteína bruta na área, tem oscilado de 50 até mais que 225 kg N/ha/ano.

As perdas de nutrientes no processo produtivo ocorrem por exportação no corpo dos animais, erosão, lixiviação, volatilização, fixação e acúmulo nos malhadouros (Tabela 2). O somatório dessas perdas pode chegar a mais de 40% do total de nutrientes absorvidos pela pastagem em um ano de crescimento, o que provoca o empobrecimento contínuo no solo e a redução no crescimento das pastagens a uma taxa de cerca de 6% ao ano.

A pesquisa nas regiões tropicais e subtropicais tem evidenciado a necessidade de suprir o sistema da pastagem com macro e micronutrientes, bem como os corretivos de solos. Além do efeito direto e benéfico na produção de MS e na qualidade da forragem e, consequentemente, na produção animal, o emprego de fertilizantes e corretivos acaba por aumentar a disponibilidade de nutrientes para a reciclagem no sistema.

Uma vez equilibrados os outros nutrientes, a maior resposta em produção de forragem é atribuída à adição de fertilizantes nitrogenados. Entretanto, o N é um dos mais caros por unidade dentre os macronutrientes utilizados nas pastagens. As perdas de N por lixiviação e volatilização podem representar a principal forma de saída do elemento do sistema de uma pastagem exclusiva de gramínea e vir a constituir-se na principal causa de degradação das pastagens, caso não haja reposição desses nutrientes por meio de fonte externa. O P e K são igualmente importantes para a manutenção estável de uma pastagem, e devem ser repostos, segundo a análise de solo e exigências das forrageiras, com a adição de fertilizantes.

A produção animal por hectare e a taxa de lotação dos pastos, durante um período de seis anos, tenderam a estabilizar-se com o nível médio de adubação, aumentaram com o nível mais alto e diminuíram onde não houve adubação de manutenção (Tabela 3). Essa estabilização ou aumento na produção animal foram conseguidos graças à maior porcentagem de leguminosas e de capim-guiné nos pastos adubados em relação ao não adubado. É importante observar que a estabilização na produção dos animais mantidos a pasto foi conseguida com doses de aplicação de fertilizantes relativamente baixas.

Nos solos do Brasil parece ser muito difícil a intensificação da produção da pastagem a ponto da atividade pecuária tornar-se competitiva com outras alternativas de uso da terra, sem o uso de fertilizantes. Nestas condições não seria possível trabalhar com taxas de lotação acima de 2,5 UA/ha durante o período chuvoso ou 1,25 UA/ha/ano.

Com relação aos níveis de nutrientes a serem repostos, deve-se levar em conta, além da análise de solo e da planta, a produtividade desejada (em função do potencial da espécie em uso). Como prática geral, recomenda-se a utilização de 15 a 20% da receita bruta/ha/ano em adubação de manutenção.

Antônio Ricardo Evangelista e Joadil Gonçalves de Abreu

UFLA

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