​Agricultura da Informação

Por Márcio Albuquerquel, engenheiro, diretor da Falker e membro da Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão

15.06.2016 | 20:59 (UTC -3)

A agricultura vive um momento de transição histórico no qual o principal insumo passa a ser informação de qualidade. Na história da humanidade, viveu-se inicialmente um longo período da agricultura da experiência, durante o qual o conhecimento era passado pelas gerações e os aperfeiçoamentos obtidos pela observação da natureza. A partir do século XIX, com aceleração no século XX, a ciência definiu uma nova era de expansão agrícola, na qual a sistematização científica trouxe grandes avanços nos campos da agronomia, biotecnologia, agroquímicos e máquinas. Estamos no início de uma nova era, na qual a experiência e a ciência estão sendo somadas a decisões baseadas em uma quantidade crescente de informações.

A agricultura de precisão, na qual os insumos são aplicados de acordo com a necessidade de cada porção das lavouras, graças a ferramentas como GPS, softwares e equipamentos sofisticados, é apenas a primeira manifestação de maior visibilidade da agricultura da informação. As dezenas de decisões críticas que os produtores tomam a cada safra, com impacto direto na produtividade e rentabilidade, exigem mais do que apenas o conhecimento, experiência e percepção dos agricultores e seus consultores técnicos. Em um mundo e sociedade conectados digitalmente, gera-se diariamente enorme quantidade de dados sobre os mais diversos temas. No mundo empresarial, as melhores práticas recomendam as decisões baseadas em fatos e dados, acompanhadas da melhoria contínua. Na agricultura, deve-se seguir o caminho das decisões baseadas em números e dados. Ao mapear áreas, a agricultura de precisão permite o conhecimento de detalhes perdidos no aumento de escala das décadas passadas.

As novas técnicas permitem um conhecimento cada vez mais detalhado dos solos, das lavouras, das operações de maquinário e das colheitas. Tudo conectado e armazenado digitalmente, sendo observado desde o espaço via satélite até com sensores enterrados no solo. Em breve, monitoramento contínuo e sem fio, direto para o celular do produtor, deixará de ser ficção ou novidade para ser uma ferramenta diária. Os mapas deixarão de representar hectares, para representar metros e logo adiante estaremos olhando planta a planta. Novos sensores permitirão que os resultados de análises ao invés de demorar semanas em laboratórios sejam obtidos em segundos ou mesmo em tempo real.

Para avançar nesta direção, a gestão rural deve ser continuamente aprimorada, acostumando-se a usar dados nas decisões. Isto exige mudanças culturais, educacionais e técnicas, mas é um caminho sem volta para termos empresas rurais de classe mundial, prontas para a nova agricultura. Estrategicamente como país, devemos desenvolver partes significativas destas tecnologias no Brasil, para não nos tornarmos simples campo para aplicação de tecnologias importadas. Neste contexto, cada nova ferramenta deve vir somar novas informações, que serão usadas em conjunto com o que já se dispõe, adicionando camadas de dados para auxiliar nas decisões que devem sempre desafiar os limites de produtividade.


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