Ataque noturno de lagartas rosca

O complexo de lagartas tipo “rosca” tem apetite voraz, com incidência sobre culturas que vão desde tomateiro e fumo até algodoeiro e outros cultivos comerciais. Sua investida sobre as plantas ocorre à noite, com dan

14.02.2018 | 21:59 (UTC -3)

Lagarta “rosca” é o nome popular dado a alguns gêneros de lagartas que ao serem tocadas enrolam-se rapidamente, à semelhança de uma rosca, permanecendo assim por algum tempo, como se estivessem mortas. Lagartas pertencentes aos gêneros Agrotis, Anicla e Peridroma são popularmente conhecidas e fazem parte de um complexo de lagartas-rosca que atacam diversas culturas, tais como fumo, tomateiro, algodoeiro, hortaliças, plantas de jardim e outras culturas alimentares. São insetos pertencentes à família Noctuidae, subfamília Noctuinae, possuem hábitos subterrâneos e caracterizam-se por viverem, durante o dia, enterradas ou debaixo de restos culturais, próximas das plantas que atacam. À noite, para se alimentar, vão ao encontro de plantas recém-germinadas ou transplantadas. Os danos se caracterizam pelo corte do caule ao nível do solo (região do colo) ou um pouco acima (daí o nome “cutworm”), fazendo com que as plantas tombem. Várias plantas por lagarta são destruídas em uma única noite. Em tubérculos, podem causar danos superficiais, brocando-os. Outras lagartas que não são “rosca” em determinadas situações se apresentam como tal, e seccionam a base do caule da planta, como é o caso de Spodoptera frugiperda, Paracles fusca, Pseudaletia sequax. Uma das razões que parecem contribuir para este fato é em relação às ações humanas, que alteram o ambiente e desalojam a fauna do seu habitat natural, como, por exemplo, a prática da monocultura. Na procura de outros nichos de sobrevivência, na busca de alimento e local para reprodução espécies de insetos, passam a se alimentar de outras plantas para sobreviver, tornando-se problemas para determinadas culturas em diferentes situações.

Dos gêneros aqui mencionados, Agrotis ipsilon é a mais citada quanto à ocorrência de pragas de solo no estabelecimento de uma cultura. No entanto, verifica-se uma lacuna quanto a estudos que elucidem as espécies de lagarta-rosca que danificam as culturas nas diferentes regiões produtoras. Concorre para isso o fato de muitas lagartas-rosca apresentarem ampla variação morfológica nos estágios adulto e larval, levando a conclusões errôneas quanto à determinação da(s) espécie(s). Assim, estudos com o objetivo de conhecer as espécies de lagartas, bem como elucidar a sua biologia, são de extrema importância para que medidas de controle sejam tomadas com mais segurança.

Agrotis ipsilon é uma espécie cosmopolita e polífaga, podendo se alimentar de culturas em fase de semeadura, plantas tuberosas, hortaliças e frutas. A lagarta é marrom com uma linha dorsal e tubérculos pretos em cada segmento; no seu tamanho máximo mede de 40mm a 50mm de comprimento. Nos primeiros instares alimenta-se de folhas próximas ao solo e nos últimos corta plantas abaixo ou ao nível do solo. Durante a noite é ativa, escondendo-se debaixo de folhas ou torrões de solo durante o dia. Findo o período larval passa para a fase de pupa é de coloração marrom brilhante e mede cerca de 20mm a 30mm de comprimento em uma célula de terra solta. Depois de dez a 20 dias emerge o adulto com envergadura de 35mm a 50mm, sendo as asas anteriores cinza-escuro, algumas vezes com manchas pretas na forma de uma banda larga transversal; asas posteriores peroladas com uma margem estreita. O tórax e o abdome são cinza. Os adultos depositam ovos isolados ou em grupos principalmente em ervas daninhas. Dificilmente colocam ovos em plantas de milho e soja, por exemplo. Assim, áreas infestadas com ervas daninhas antecedendo o plantio de milho são favoráveis à presença de A. ipsilon pois servem de local para a deposição de ovos. Áreas mais baixas nos campos, próximos a zonas com vegetação permanente e excesso de resíduos em culturas (como em áreas de plantio direto), são favoráveis ao aparecimento de A. ipsilon.

Agrotis malefida (Guenée, 1852)

Tem como hospedeira uma ampla variedade de culturas e plantas de jardim. A mariposa possui como característica envergadura de 28mm a 45mm, asas anteriores com mancha claviforme bem desenvolvida, a reniforme grande e escura e a orbicular bem pequena. Deposita os ovos em locais úmidos, hastes e folhagens baixas. As larvas atingem cerca de 35mm de comprimento quando totalmente desenvolvidas. Possuem coloração cinza-escuro na parte dorsal e ventral com duas listras esbranquiçadas ou pálidas ao longo das laterais, separadas por uma linha escura. A pupa se localiza no solo.

Agrotis subterrânea (Fabricius, 1794)

O adulto possui asas anteriores com o bordo anterior mais claro e mancha orbicular e reniforme com faixa mais escura. Envergadura de 34mm a 42mm. Os ovos são depositados em pequenos grupos na superfície de folhas de seedlings junto ao solo, em terra cultivada ou em solo úmido. A larva é cinza-marrom com leves manchas dorsais diagonais. Quando bem desenvolvida atinge o comprimento aproximado de 40mm. As larvas de primeiros instares se alimentam de folhas novas junto ao solo; mais tarde se dispersam atuando como lagartas-rosca, se alimentam à noite e se escondem de dia. A fase de pupa se dá no solo.

Peridroma saucia (Hubner, 1808)

É um inseto polífago com preferência por hortaliças e mudas, mas alimenta-se também de frutas e brotos. Os ovos são colocados em grupos em folhas, ramos, no solo etc. A larva possui textura lisa e coloração variável: de cinza pálido a marrom suave salpicado de vermelho e amarelo; linha médio-dorsal terminando bruscamente em sucessão com manchas claras; desenho em forma de W e mancha amarela no 8º segmento abdominal da larva desenvolvida. Linha abaixo dos espiráculos amarela.  O adulto possui de 30mm a 50mm de envergadura; coloração variando do castanho-avermelhado ao cinza-amarronzado claro, com manchas pretas ou castanhas, com uma mancha em formato de rim no centro das asas anteriores; asas posteriores cinza-perolado.

Anicla ignicans (Guenée, 1852)

Lagarta verde medindo cerca de 35mm de comprimento quando no máximo desenvolvimento, coloração castanho a castanho-amarelado ou verde brilhante, algumas vezes com manchas pretas; com uma linha dorsal e uma proeminente linha subespiracular; cabeça reticulada castanho-clara a verde. A lagarta alimenta-se de diversas plantas nativas e cultivadas como batata, fumo, melancia, melão e, especialmente, gramíneas, tais como arroz, trigo, aveia, milho, azevém etc. Empupa no solo. Adultos possuem envergadura de 30mm a 35mm, asas anteriores castanho-amarelado claro ou castanho-acinzentado salpicado com preto, com uma mancha central e margens distais cinza pálido.

Manejo

No Brasil há um carência muito grande de informações a respeito do manejo de lagartas-rosca. O método de controle mais recomendado para o controle de lagartas-rosca tem sido o uso de iscas contendo um atrativo misturado com um inseticida recomendado para o inseto e a cultura. No Brasil, oficialmente há o registro de inseticidas somente para A. ipsilon. A aplicação de inseticidas curativamente para o controle das lagartas-rosca tem sido preferida em relação à aplicação preventiva, pois não se pode prever se vai haver infestação ou se será grande ou pequena. Outras ferramentas para auxiliar no manejo como o uso de graus/dia para a predição de desenvolvimento larval para saber quando vai começar o corte de plantas e o uso de armadilhas de feromônio já estão sendo estudadas em outros países.

Clique aqui para ler o artigo completo na edição 77 da Cultivar Hortaliças e Frutas. 

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