Avaliar a pastagem para evitar desperdício

O planejamento alimentar do rebanho bovino deve iniciar com a avaliação da disponibilidade de foragem das pastagens.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Manter bovinos em pastagens é considerado o modo mais prático e econômico de se produzir proteína de origem animal. Por esse motivo, grande parte do rebanho bovino no Brasil é mantido exclusivamente a pasto. No entanto, as espécies forrageiras mais utilizadas para a formação de pastagens no Brasil têm comportamento sazonal, o que significa que sua produção varia drasticamente ao longo do ano.

Em torno de 75 a 90% da produção do capim se concentra no período chuvoso. A variação na distribuição das chuvas nas regiões tropicais resulta em acentuada queda na oferta e qualidade da forragem nas pastagens durante o período da seca e, conseqüentemente, diminuição no desempenho dos animais. Essas oscilações no desempenho animal acarretam em grandes prejuízos para o pecuarista.

Para mudar essa realidade, o produtor deve iniciar um processo de planejamento alimentar do rebanho, o qual deve iniciar por meio de avaliações de disponibilidade de forragem das pastagens que está relacionada com a produção de matéria seca (MS) do capim por unidade de área (kg/ha).

Sabendo-se a quantidade de forragem disponível por área, é possível estimar a taxa de lotação da pastagem para evitar o sub ou superpastejo, os quais são caracterizados quando a disponibilidade de forragem para os animais é alta ou baixa, respectivamente. Em condições de subpastejo a ampla disponibilidade de forragem permite que os animais pastejem seletivamente e ingiram quantidades máximas de pasto segundo o consumo voluntário, mas há desperdício de pasto; já o inverso ocorre em condições de superpastejo.

Existem várias técnicas de estimativa de disponibilidade de pasto, as quais podem ser agrupadas em métodos diretos (ou destrutivos) e indiretos (ou não-destrutivos). Na técnica direta, a massa de forragem (MF) existente nos vários piquetes é obtida por meio do corte e da pesagem de amostras da planta levando-se em conta o tamanho da área, enquanto que na técnica indireta essa massa de forragem é obtida por estimativa. Em ambas as técnicas, a massa de forragem é dada em quilos de matéria seca/ha (kg MS/ha) e a identificação do seu perfil disponível ao longo do ano se constitui num ponto-chave de sucesso na produção animal a pasto.

Na Embrapa Rondônia, as avaliações de disponibilidade de forragem das pastagens são realizadas pelo método do quadrado que consiste em lançar ao acaso, na pastagem, uma moldura de ferro ou de madeira de área conhecida que pode variar de 0,25 até 1 m2. A escolha do tamanho do quadrado depende do tipo da forrageira que predomina na pastagem. No caso das braquiárias e dos capins do gênero Panicum recomenda-se o uso de quadrados com 1 m2 de área e os do gênero

recomenda-se os de 0,25 m2. O número de vezes e de pontos que são amostrados dentro do piquete depende da uniformidade da pastagem. Em geral, opta-se por oito a dez pontos de amostragem.

Quanto mais heterogênea maior deve ser o número de amostras. Após o lançamento do quadrado, toda a forragem encontrada dentro da área do mesmo deve ser cortada, pesada e uma sub-amostra deve ser retirada para se fazer a determinação da matéria seca.

A grande crítica feita para esse método, principalmente quando considera-se sua aplicabilidade em propriedades rurais, está relacionada ao custo elevado, à necessidade de mão-de-obra treinada e do acompanhamento técnico para realizar os cálculos de disponibilidade. Estas dificuldades podem levar a diminuição do número de amostras, o que torna a amostragem inadequada e o resultado de pouca confiabilidade. Por outro lado, se o número adequado de amostras for obedecido, o problema será a destruição de forragem na área pelo corte de grande número de amostras. Apesar das críticas, o método direto do corte da forragem geralmente proporciona maior precisão quando comparado com outros métodos.

Em sistemas de pastejo rotacionado, a aplicação da técnica do quadrado permite estimar a taxa de acúmulo de forragem durante o período de descanso da pastagem. Para tanto é necessário medir a diferença entre a altura do capim antes da entrada e após a saída dos animais do piquete. Essa diferença dividida pelo número de dias do período de descanço fornece a taxa de crescimento diário do capim que indica o acúmulo de forragem.

No caso das pastagens manejadas em sistema de pastejo contínuo, pode-se estimar o acúmulo de forragem pelo método das gaiolas de exclusão ao pastejo que consiste em medir a forragem antes da colocação da gaiola e após um determinado período de descanso. Este método, no entanto, tem a desvantagem de não considerar a interação animal-planta que afeta a produção do capim devido aos efeitos de pisoteio e acúmulo de fezes e urina na pastagem.

Independente do método empregado para avaliar a disponibilidade do pasto, o que não pode mais deixar de ser considerada é a importância de se avaliar esse parâmetro durante o manejo das pastagens e planejar anualmente como as pastagens serão utilizadas dentro da propriedade, evitando a falta de alimento para rebanho ou desperdício de forragem.

Pesquisadora Embrapa Rondônia

Contatos: sac@cpafro.embrapa.br

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