Benefícios do silício para a agricultura

O uso de fontes de silício para o controle de doenças na agricultura tem apresentado resultados animadores, por promover o aumento da dificuldade de penetração e colonização de fungos nas plantas

18.08.2016 | 20:59 (UTC -3)

O silício (Si) é um dos elementos químicos mais abundantes na crosta terrestre, sendo que algumas plantas, como o milho e outras gramíneas, principalmente, são acumuladoras desse elemento. A utilização de fontes de silício na agricultura vai ao encontro da necessidade de alternativas para um eficiente controle fitossanitário, além da busca por estratégias que ofereçam risco reduzido ao ambiente.

Quando o silício é absorvido pela planta e depositado na parede da célula vegetal, não se move mais, posteriormente se polimeriza e provoca a formação de uma dupla camada de silício cuticular, ocorrendo enrijecimento da parede, o que traz diversos benefícios já comprovados, seja em fatores abióticos e/ou bióticos.

Em fatores abióticos estão entre os principais aspectos a regulação da evapotranspiração, além da redução da toxidez ocasionada por alumínio e ferro nas plantas. Já em fatores bióticos, destaca-se o controle de insetos, inclusive de Spodoptera frugiperda em milho, principal praga da cultura. Observa-se também efetivo controle de doenças, que pode ser atribuído ao aumento da dificuldade de penetração e colonização de fungos. O silício já tem seu efeito benéfico comprovado para esses dois fatores em diversas culturas, como arroz, algodão, café, cana-de-açúcar, milho, soja e trigo. Atualmente, o silício pode ser obtido de diferentes formas, sua aplicação também pode ser variada, como aplicações no solo seguidas de incorporação e aplicações foliares.

Em trabalho conduzido no município de Campo Verde, Mato Grosso, utilizando o delineamento em blocos casualizados, testaram-se oito tratamentos (Tabela 1), repetidos em quatro blocos, com o objetivo de se avaliar a redução da incidência de helmintosporiose, doença que tem como agente causal o fungo Exserohilum turcicum. Trata-se de doença agressiva, que pode levar a perdas de até 50% em ataques antes do período de floração. Os tratamentos consistiram em duas fontes de silício: silicato de cálcio e magnésio, utilizado em quatro doses aplicadas em cobertura e incorporadas ao solo em pré-plantio e também o silicato de potássio (aplicação foliar em estágio de seis folhas verdadeiras expandidas) em dose única. Além disso, foi adotado um tratamento em que se utilizou uma interação entre estas fontes. Também foram utilizadas duas testemunhas, uma de milho convencional e outra de milho transgênico, com a tecnologia Yieldgard.

TABELA 1 - Diferentes doses e formas de aplicação de silício para controle de helmintosporiose em milho. Campo Verde – MT, 2012

Tratamento

Híbridos

Dose (Kg.Ha-1)

1

Testemunha - Milho Convencional – Com Inseticidas

-

2

Testemunha - Milho Bt (Yieldgard)

-

3

Milho Convencional - Silicato de Ca e Mg1

400 (Kg.Ha-1)

4

Milho Convencional - Silicato de Ca e Mg1

600 (Kg.Ha-1)

5

Milho Convencional - Silicato de Ca e Mg1

800 (Kg.Ha-1)

6

Milho Convencional - Silicato de Ca e Mg1

1000 (Kg.Ha-1)

7

Milho Convencional - Silicato de Potássio2

1 (Lt.Ha-1)

8

Milho Convencional – Silicato de Ca e Mg1e Silicato de Potássio2

400 (Kg.Ha-1) + 1 (Lt.Ha-1)

Tratamento

Híbridos

Dose (Kg.Ha-1)

1

Testemunha - Milho Convencional – Com Inseticidas

-

2

Testemunha - Milho Bt (Yieldgard)

-

3

Milho Convencional - Silicato de Ca e Mg1

400 (Kg.Ha-1)

4

Milho Convencional - Silicato de Ca e Mg1

600 (Kg.Ha-1)

5

Milho Convencional - Silicato de Ca e Mg1

800 (Kg.Ha-1)

6

Milho Convencional - Silicato de Ca e Mg1

1000 (Kg.Ha-1)

7

Milho Convencional - Silicato de Potássio2

1 (Lt.Ha-1)

8

Milho Convencional – Silicato de Ca e Mg1e Silicato de Potássio2

400 (Kg.Ha-1) + 1 (Lt.Ha-1)

1Aplicação sobre o solo e incorporado

2Aplicação via pulverização foliar no estágio de seis folhas expandidas (V6)

A avaliação da incidência de helmintosporiose foi realizada em R5 (formação de dentes), em três folhas específicas: a folha abaixo da espiga superior, folha da espiga superior e folha acima da espiga superior. Como consta na Tabela 2, foi possível observar a redução significativa da incidência da doença nas folhas e abaixo da espiga quando se fez uso de qualquer uma das duas fontes de silício empregadas, independentemente da dose. Já para a folha acima da espiga, não se evidenciou diferença estatística devido à baixa incidência na parte superior da planta, visto que essa doença ocorre progressivamente da base para o ápice da planta. Também o número de plantas com incidência da doença foi reduzido, evidenciando aumento da resistência à infecção desse patógeno. Embora não tenha havido diferença estatística, os dados de produção apresentaram valores maiores para os tratamentos onde o silício foi utilizado (Tabela 3).

TABELA 2 - Incidência de helmintosporiose (%) nas folhas abaixo da espiga (Abaixo), folhas da espiga (Espiga), folhas acima da espiga (Acima) e percentual de plantas apresentando doença (Plantas). Campo Verde – MT, 2012

Tratamento

Abaixo1

Espiga

Acima

Plantas

1

7,45

B

6,75

B

4,05

A

8,61

B

2

8,70

B

7,66

B

5,84

A

9,52

B

3

3,68

A

2,79

A

1,89

A

4,59

A

4

4,49

A

1,00

A

1,89

A

5,38

A

5

3,24

A

4,59

A

2,79

A

6,75

A

6

4,71

A

4,58

A

1,89

A

6,59

A

7

1,89

A

3,24

A

4,14

A

5,84

A

8

4,59

A

3,68

A

3,68

A

6,29

A

CV%2

45,73

40,96

66,05

23,52

Média Geral2

4,89

4,29

3,27

6,70

Tratamento

Abaixo1

Espiga

Acima

Plantas

1

7,45

B

6,75

B

4,05

A

8,61

B

2

8,70

B

7,66

B

5,84

A

9,52

B

3

3,68

A

2,79

A

1,89

A

4,59

A

4

4,49

A

1,00

A

1,89

A

5,38

A

5

3,24

A

4,59

A

2,79

A

6,75

A

6

4,71

A

4,58

A

1,89

A

6,59

A

7

1,89

A

3,24

A

4,14

A

5,84

A

8

4,59

A

3,68

A

3,68

A

6,29

A

CV%2

45,73

40,96

66,05

23,52

Média Geral2

4,89

4,29

3,27

6,70

1Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste de Scott-Knott, a nível de 5% de significância.

2Dados transformados pela equação: (X+1)^0,5

TABELA 3 - Produção de milho (peso de 100 grãos e sacas/ha) após aplicação de diferentes formas e doses de silício. Campo Verde – MT, 2012

Tratamento

Peso de 100 Grãos

Produção de grãos

Sacas.hectare-1

Grupo

1

31,80

A

115,59

A

2

31,35

A

116,65

A

3

30,98

A

117,14

A

4

32,32

A

117,58

A

5

32,23

A

119,2

A

6

32,04

A

119,27

A

7

31,65

A

119,48

A

8

32,44

A

119,98

A

CV%2

6,05

5,45

Média Geral2

31,85

118,11

Tratamento

Peso de 100 Grãos

Produção de grãos

Sacas.hectare-1

Grupo

1

31,80

A

115,59

A

2

31,35

A

116,65

A

3

30,98

A

117,14

A

4

32,32

A

117,58

A

5

32,23

A

119,2

A

6

32,04

A

119,27

A

7

31,65

A

119,48

A

8

32,44

A

119,98

A

CV%2

6,05

5,45

Média Geral2

31,85

118,11

1Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste de Scott-Knott, a nível de 5% de significância.

2Dados transformados pela equação: (X+1)^0,5

Com base nos preceitos do Manejo Integrado de Pragas e Doenças, a utilização de silício nas fontes passíveis de serem encontradas no mercado é benéfica. Este elemento se constitui em importante ferramenta no combate a pragas e doenças, principalmente devido à crescente seleção de indivíduos resistentes a agroquímicos, seja pela falta de conhecimento técnico ou variabilidade da população. O silício pode vir a colaborar como uma alternativa de controle para aqueles que persistiram após a aplicação de defensivos agrícolas, dificultando a sobrevivência e posterior multiplicação.

Clique aqui para ler o artigo na edição 178 da Cultivar Grandes Culturas.

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