Campo limpo

Com o correto uso de herbicidas, pode-se aumentar a produtividade da lavoura de milho. Veja dicas de especialista.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Tem sido cada vez mais freqüente a utilização de herbicidas em milho. Atualmente, são 4 milhões de hectares tratados no Brasil, mas estima-se que poderá chegar em 6 milhões num prazo de 8 anos. O êxito no emprego deste insumo está diretamente relacionado a fatores técnicos, econômicos e climáticos.

O principal fator de sucesso da utilização dos herbicidas está no conhecimento prévio dos objetivos do controle das plantas daninhas. Tendo em vista este objetivo, torna-se mais fácil selecionar um produto capaz de atingi-las.

Os objetivos do controle de plantas daninhas no milho são três:

• Evitar perdas devido à competição com plantas daninhas: o milho, na ausência de controle de ervas daninhas, pode obter perdas de até 85,5% na produção. Sem o controle dessas ervas até os 30 dias após o plantio, a redução poderá ser de 30,3%, CRUZ & RAMALHO(1985).

• Beneficiar as condições de colheita, pois a presença de ervas na colheita, torna-se um problema para o produtor, principalmente se a colheita for mecanizada. Plantas daninhas como a corda-de-viola (

a spp) e mata-pasto (

Point.) tornam-se um problema, pois reduzem principalmente o rendimento das máquinas e, em alguns casos, inviabilizam a colheita mecânica.

• Evitar o aumento da infestação de ervas, tomando-se o cuidado de proteger o meio ambiente, pois herbicidas são substâncias químicas que possuem diferentes propriedades físico-químicas, com diferentes comportamentos no solo.

Uma informação fundamental que se deve buscar obter antes da escolha do herbicida é a identificação da erva daninha existente na área.

Além disso, as doses dos herbicidas devem ser baseadas no tipo de solo, grau de infestação, fase de desenvolvimento das plantas daninhas, textura do solo e condições climáticas vigentes.

Vários fatores podem influenciar na eficiência dos herbicidas, podendo reduzi-la ou provocar a perda da seletividade da cultura. Dentre esses fatores, podemos citar chuvas pesadas após a aplicação de pré-emergentes, lixiviando os produtos, fazendo com que ocorra um acúmulo deste ingrediente ativo próximo da semente, intoxicando-a ou levando-a até a morte.

Por outro lado, alguns produtos requerem substâncias protetoras (antídotos) como “safener”, mais conhecido como antídoto para o milho, que visa proteger o embrião da ação do herbicida. Em alguns produtos, o “safener” possui uma solubilidade diferente do ingrediente ativo, que em caso de condições desfavoráveis para o bom funcionamento do herbicida pode favorecer a absorção/ação do princípio ativo separadamente da solubilidade do “safener”, causando fitotoxidade à cultura.

Os herbicidas pré-emergentes são aqueles aplicados logo após a semeadura do milho, porém antes da emergência do mesmo. Para um bom desempenho desses herbicidas, é necessário que o solo esteja úmido - que se irrigue ou chova 48 horas após a sua aplicação. Em preparo de solo convencional, é de extrema importância que o solo esteja bem destorroado.

Esses herbicidas têm por função controlar as plantas daninhas no estágio mais inicial, ou seja, quando as sementes estão germinando e as plântulas de milho ainda não emergiram. Como conseqüência, o milho nasce no limpo e assim permanece até que o efeito residual termine. É desejado que estes herbicidas pré-emergentes possuam um residual suficiente para manter as plantas daninhas controladas até o fechamento da cultura.

A seletividade é sempre desejável. No entanto, a utilização de novos herbicidas deve ser avaliada, pois em alguns casos, sua seletividade perante a cultura do milho não é observada, apresentando toxidade que é favorecida pelas condições climáticas, tipos de produtos e diferentes reações dos genótipos utilizados, causando por exemplo redução de população, Gráfico 01

. Além da redução de população das plantas, outros efeitos indesejáveis podem aparecer e são conhecidos como fitotoxidade, provocando plântulas mal formadas ou mortas, bem como sementes que não nascem e, em alguns casos, formam plantas debilitadas que são dominadas durante o desenvolvimento da cultura.

No caso de Alachlor e Metalachlor os sintomas são: plântulas mal formadas, folhas torcidas e não abertas totalmente (chicote), plantas amareladas e sem emergência, ficando deformadas abaixo do solo. Praticamente os mesmos sintomas são notados no Acetochlor. Já no Isoxaflutole as plantas que nascem com problemas apresentam folhagem amarelada ou branca (albina). Dependendo do grau de fitotoxidade, a coloração das plantas poderá evoluir para o marrom e continuar o ciclo. Além disso, essas plantas podem, ainda, serem dominadas pelas plantas vizinhas com desenvolvimento anormal, ou morrerem.

Em áreas com saturação de bases alta e/ou áreas recém-calcareadas verifica-se com mais freqüência problemas de fitotoxidade com este princípio ativo. Ultimamente tem sido observada com maior freqüência uma fitotoxidade que vulgarmente chamamos de “fito oculta”. Nesse caso, os sintomas visuais de toxidade pelo herbicida não são observados pelos produtores, fazendo com que por ocasião da colheita ocorram redução na produtividade sem um motivo aparente. (Gráfico 02).

Normalmente, quando se avalia o efeito de herbicidas na população de plantas, o mesmo não está diretamente proporcional à redução de produtividade, devido principalmente a uma menor competição entre as plantas de milho na linha, capacidade do híbrido de compensar as falhas ou mesmo um desfavorecimento climático como um veranico, que beneficia as menores populações de plantas (compare o Gráfico 01 com o Gráfico 02

.

Verificamos, ainda, que alguns produtos que afetaram a população de plantas não afetaram nas mesmas proporções a produtividade relativa. Já outros produtos afetaram simplesmente a população inicial e tiveram uma boa produtividade, favorecidos por um número menor de plantas por hectare.

Esta modalidade de aplicação geralmente está ligada à atrasos na aplicação de pré-emergente, quando as plantas daninhas já emergiram. Normalmente, esta aplicação é feita quando o milho apresenta de um a dois pares de folhas não verdadeiras e as plantas daninhas, menos de 4 cm (latifoliadas) e antes de perfilhar (gramíneas). Vários produtos recomendados para pré-emergência são aplicados em pós-inicial, principalmente misturas com atrazina.

Alguns problemas são freqüentemente notados nesta modalidade de aplicação, tais como algumas fitos nas folhas do milho com atrazinas, que são amarelecimento das bordas e pontas das folhas, seguido de tonalidade marrom, na maioria dos casos não comprometendo a cultura.

É importante que se verifique com os fabricantes qual a modalidade que o herbicida se enquadra, assegurando-se dos possíveis problemas que uma aplicação inadequada pode ocasionar.

Os produtos recomendados para esta modalidade de aplicação devem possuir certas características importantes, como uma alta seletividade à cultura e rápida ação no controle da planta daninha, para parar imediatamente o processo de competição.

O 2,4D, herbicida hormonal, utilizado como pós-emergente em área total, é muito difundido, principalmente, pelo seu baixo custo. No entanto, este poderá facilmente causar fitotoxidade, verificada através das seguintes características: presença de colmo torcido e curvado (epistasia); folhas que não se abrem (encharutadas); as raízes de fixação curtas e fundidas; raízes que crescem para cima e, ainda, falhas na granação, AGRI-GROWTH (1996). Sua aplicação deverá ser realizada até o estágio 3 a 4 folhas, antes da formação do “cartucho”, isoladamente ou em mistura com atrazine. Aplicações após esta época poderão causar deformações na planta e tornar os colmos quebradiços, RODRIGUES & ALMEIDA (1998).

Outro produto bastante utilizado é o nicosulfuron. Sua seletividade consiste na capacidade dos híbridos em metabolizar o nicosulfuron em compostos não ativos. Devido à diversidade genética existente ser extremamente ampla e dinâmica, diferentes reações ao produto poderão ser encontradas. Em vários híbridos Pioneer e outros comerciais testados, mencionamos que a utilização da dosagem cheia de 1,5 litros/ha do produto comercial apresenta uma certa redução na produtividade, nas condições que foram realizadas os ensaios, Quadro 03.

A época recomendada para a aplicação do nicosulfuron deverá ser quando o milho estiver com 2 a 4 folhas verdadeiras (folha com a presença da lígula - V2 a V4). Deve-se sempre tomar o cuidado com a matocompetição, pois como foi visto nos objetivos do controle de plantas daninhas, o milho é sensivelmente prejudicado quando sofre competição por ervas daninhas nos estágios iniciais da cultura.

Em áreas onde se atrasou a aplicação ou as condições de seca ou chuvas que não possibilitaram um bom controle dos pré emergentes, alguns produtores fazem uso da aplicação de jato dirigido. São aplicados através de jato dirigido na entre linha do milho, geralmente com um produto não seletivo à cultura, de forma que atinja as plantas daninhas e somente as folhas baixeiras do milho. O milho deverá estar no estágio de 4 folhas ou mais, com uma altura mínima de 40 a 50 cm, para não atingir folhas importantes da cultura.

1) Herbicidas pré-emergentes

• São produtos com ótimo controle de ervas, com efeito residual prolongado, porém a utilização destes produtos requer boas condições climáticas após a aplicação, pois são produtos bastante propensos a interferirem no processo de germinação. Deve-se, sempre que possível, utilizar na maior parte da propriedade produtos tradicionais, deixando para “experimentar” novos produtos em áreas menores.

• A maioria dos problemas com o uso de pré-emergentes ocorre devido à mudança de produto por parte dos produtores agrícolas que mudam de produto simplesmente devido às reduções de custos, sem ainda tê-lo testado, abandonando produtos tradicionais sem motivo técnico aparente. Esta decisão passa a ser muito grave, pois estes novos produtos/tecnologias são adotadas em toda a área mesmo sem um teste anterior em uma área menor

2) Utilização de Nicosulfuron

• No caso do nicosulfuron, deve-se respeitar o intervalo de aplicação de nicosulfuron, devendo-se esperar em média 7 dias antes e 7 dias após a aplicação deste herbicida para se utilizar inseticidas organofosforados e/ou adubos nitrogenados. Como a seletividade do produto está em função da metabolização do nitrogênio, alguns fatores poderão interferir grandemente no favorecimento da fitotoxidade no híbrido causado pelo nicosulfurom, dentre eles destacam-se: a fonte de nitrogênio utilizada, uma vez que a uréia, por exemplo, se solubiliza rápido enquanto que o sulfato de amônio e nitrato de amônio possuem uma solubilização mais lenta, proporcionando uma absorção mais demorada pela planta, propiciando um agravamento dos danos causados pelo herbicida, necessitando, neste caso, de períodos maiores de espera para aplicação do mesmo. Em locais de baixas temperaturas, como é o que ocorre no sul do Brasil, existe uma demora por parte da planta em metabolizar este nutriente, favorecendo grandemente a fitotoxidade causada pelo nicossulfuron.

• É importante que técnicos e produtores, ao recomendarem ou usarem produtos à base de nicosulfuron, peçam às empresas uma lista atualizada de sensibilidade dos híbridos a essa molécula.

• A utilização das doses integrais de 1,5 litros/ha do produto comercial à base de nicosulfuron, apresentou reduções nas produtividades médias de vários híbridos comerciais;

• Nos híbridos 3021, 30R07, 30F80 e 30F33, a dosagem deste produto a ser utilizada é de 0,5 litros /ha, associados ou não a atrazina;

Pioneer

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