Citros: manejo de Helicoverpa armigera

Problema grave em lavouras de soja, algodão, milho, tomate e feijão, a lagarta Helicoverpa armigera também afeta citros

20.07.2016 | 20:59 (UTC -3)

A espécie Helicoverpa armigera constitui um grupo que engloba as principais pragas responsáveis por perdas em culturas agrícolas em todo o mundo. Esse status lhe é atribuído devido, principalmente, ao hábito alimentar polífago e pela grande capacidade de mobilidade. A H. armigera é considerada uma importante praga em diversas culturas de importância econômica e nas duas últimas safras agrícolas no Brasil causou perdas expressivas, da ordem de R$ 2 bilhões em danos às culturas como soja, algodão, milho, tomate, feijão, entre outras. Recentemente, essa espécie também foi encontrada em altas infestações em plantios comerciais de citros no estado de São Paulo, o que comprova o seu aspecto polífago.

A ocorrência de H. armigera em citros foi comprovada no ano de 2012 na região de São Manuel e nesta safra já foi detectada em outras diferentes regiões produtoras de São Paulo. Em citros, as altas infestações são favorecidas, pois nos pomares há o plantio de variedades com diversos ciclos de maturação dos frutos. Dessa forma, a alimentação das lagartas não é interrompida, uma vez que nos pomares comerciais há plantas desde a fase de florescimento até a de frutos maduros para a colheita e as lagartas infestam todas as fases sem apresentarem preferência alimentar. Além disso, na entressafra das culturas anuais, há uma grande oferta de frutos maduros e logo após as primeiras chuvas surgem as floradas, aumentando ainda mais a disponibilidade de alimento para a praga. O ataque de H. armigera em citros é drástico, pois as lagartas consomem o alimento disponível, ou seja, se alimentam das folhas, frutos verdes e maduros, além de plantas invasoras de ocorrência espontânea nos pomares. Quando o ataque ocorre nos frutos maduros, há uma intensa queda, tornado-os imprestáveis para comercialização, o que representa prejuízo direto ao produtor.

H. armigera é um inseto que, em clima tropical, completa o ciclo em aproximadamente um mês e cada fêmea tem a capacidade de produzir entre mil e 1,5 mil ovos, características estas que englobam uma série de outras, e fazem com que esta espécie tenha alta capacidade de sobrevivência em condições adversas. Os ovos são colocados individualmente e têm período de incubação de aproximadamente três dias. O adulto é uma mariposa com cerca de 40mm de envergadura, com asas anteriores na coloração amarelo-parda, que possuem uma faixa transversal mais escura e manchas escuras dispersas sobre as asas. As asas posteriores são mais claras, com uma faixa mais escura nas bordas externas. As lagartas possuem coloração variável do verde ao preto e apresentam listras longitudinais. A fase larval completa-se em um período de 13 a 25 dias, apresentando cinco instares, sendo que as lagartas podem chegar a medir 50mm de comprimento quando completamente desenvolvidas. As lagartas de último instar abandonam a planta/frutos e vão para o solo, onde se transformam em pupa. Essa fase tem duração de aproximadamente 14 dias de acordo com a variação de temperatura e a fase subsequente dura de 12 a 15 dias.

Como manejar

A ocorrência dessa praga em território brasileiro demanda a necessidade de adoção do manejo integrado de pragas (MIP) para conseguir exercer eficaz controle dos insetos, pois se trata de uma praga agressiva, com grande capacidade de causar danos e é considerada de difícil controle. Em todas as culturas, inclusive em citros, é extremamente necessário realizar o monitoramento de H. armigera para a tomada de decisão, controlando a praga no momento adequado, uma vez que as lagartas, a partir do 3º instar, são mais difíceis de controlar via aplicação de inseticidas, em função de apresentarem o tegumento coriáceo que faz com que os produtos não tenham alta eficácia e ocorram possíveis falhas no controle. Outro ponto importante sobre essa praga reside no fato de que as lagartas maiores têm tendência de permanecerem na porção mediana das plantas, ao contrário das menores que ficam no ponteiro e por isso são mais expostas à ação dos inseticidas.

No caso de citros, o monitoramento pode ser realizado de duas formas: via amostragem visual, em que se identifica e se quantifica a presença de lagartas, e utilização de armadilhas com ferômonio sexual, com a qual se monitora a presença de adultos. Com base nos resultados define-se a necessidade ou não de controle da praga (tomada de decisão), que no caso de citros tem sido priorizado com o uso de inseticidas. No entanto, o citricultor não possui muitas alternativas de inseticidas para serem pulverizados para o controle de H. armigera. Em citros, o histórico de ocorrência de pragas indica que insetos da ordem Lepidoptera, em geral, ocorrem em baixas populações e por isso não há um grande portfólio de inseticidas para o controle de lagartas. Por isso, poucas são as alternativas do citricultor para controlar H. armigera.

Enfim, o mais importante para obter um manejo eficaz de H. armigera é compreender que as táticas para o controle desta praga devem ser utilizadas de forma integrada entre os sistemas produtivos, ou seja, o controle precisa ser realizado em culturas agrícolas que são plantadas em uma área, e que as estratégias envolvam vários aspectos e um deles, e não o único, é o controle químico. Outras táticas de manejo de pragas são recomendadas para manter a praga em níveis que não causem danos, tais como a preservação e utilização de inimigos naturais nas áreas produtivas. Nesse caso, além de conhecer o programa de controle biológico a ser adotado, é fundamental dispor de informações sobre o mecanismo de ação e seletividade dos inseticidas, pois este conhecimento indica se os inseticidas utilizados no controle de H. armigera têm ação sobre a população de inimigos naturais, de forma a integrar as táticas de manejo.

No caso de H. armigera, a adoção de diferentes estratégias é fundamental, pois uma das hipóteses é que a população introduzida no Brasil é resistente a um grande número de inseticidas, dificultando ainda mais o seu controle.

Citros é mais uma cultura hospedeira da lagarta. H. armigera, inseto que representa séria ameaça, capaz de causar grandes prejuízos aos citricultores e de comprometer a produção dos próximos anos. Esse cenário justifica a elaboração de ações que possam caracterizar a magnitude do problema e propor estratégicas para aprimorar o manejo integrado de pragas.


Confira o artigo na edição 83 da Revista Cultivar Hortaliças e Frutas.

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