Controle de plantas tigueras de milho, soja e algodão

O controle de plantas tigueras de milho, soja e algodão, em grande parte oriundas de cultivos resistentes a glifosato, é um dos novos desafios presentes em lavouras

27.10.2017 | 21:59 (UTC -3)

Plantas cultivadas, que infestam culturas em sucessão, são consideradas daninhas, e chamadas na prática de voluntárias. Em condições favoráveis de sucessão de cultivos, qualquer cultura pode se tornar planta voluntária na cultura subsequente. As perdas causadas pelas plantas voluntárias nas culturas em sucessão não são apenas observadas na produtividade, mas também na qualidade industrial da matéria-prima, dificuldade nas operações de colheita e transporte. O problema das plantas voluntárias é agravado quando a sucessão de cultivos ocorre entre culturas tolerantes ao glifosato, exigindo diversificação de medidas de controle, especialmente de herbicidas. Sendo assim, este é um dos novos desafios que estão surgindo no cenário da agricultura brasileira, uma vez que plantas voluntárias estão se tornando novas inimigas das lavouras de produção de grãos e fibras.

Apesar dos benefícios trazidos pelas tecnologias de culturas tolerantes ao glifosato, alguns problemas também estão sendo gerados e requerem atenção do produtor. Muitas vezes, por conta de ocasionais perdas de colheita ou excesso de maturação dos órgãos reprodutivos, perdas de grãos das culturas comerciais acabam ocorrendo e estas plantas são deixadas no campo. Assim, por não germinarem de maneira constante, podem dar origem a plantas denominadas tigueras ou voluntárias resistentes ao glifosato, vindo a interferir na cultura subsequente, causando perdas.

Muitas vezes, o produtor não tem informações precisas da quantificação das perdas que as plantas voluntárias acarretam, mas os valores são bem preocupantes, principalmente porque plantas cultivadas têm vigor maior que muitas plantas daninhas. No caso de voluntárias de milho resistente ao glifosato tem sido observadas perdas significativas na produtividade de soja a partir da infestação de 6,5 plantas voluntárias/m2. Em pesquisa realizada nos EUA foi relatado que a ocorrência de 50 plantas voluntárias por hectare de soja cultivada pode reduzir até 12% da produção total da lavoura.

Atualmente, um dos fatores que intensificaram a necessidade do controle de plantas voluntárias foi o aumento expressivo do cultivo em sucessão, a exemplo do plantio do algodão em segunda safra (safrinha), logo após a colheita da safra de soja. Essa estratégia utilizada por muitos produtores é vantajosa na redução do ciclo e no porte do algodoeiro, resultando na redução do uso de insumos e maior rentabilidade comparada às outras opções para a segunda safra. Entretanto, junto à emergência do algodão cultivado em segunda safra, é comum a ocorrência de plantas voluntárias de soja, levando a prejuízos para o desenvolvimento desta cultura, devido à interferência inicial. Como a taxa de crescimento inicial da soja é mais rápida que a do algodão, as plantas voluntárias provocam sombreamento, reduzindo a taxa fotossintética destas plantas e estimulando o seu estiolamento. E, ainda, devido às poucas opções de herbicidas indicados para folhas largas registradas para essa cultura, a soja pode se tornar uma planta daninha de difícil controle no algodão.

Outro problema que intensificou a necessidade de controle de plantas voluntárias foi a dificuldade de realizar práticas culturais como “vazio sanitário", que tem por objetivo reduzir a incidência de pragas e de inóculos, por meio de um período instituído na entressafra em que não deve haver a presença de plantas emergidas. A presença de soja voluntária na entressafra, por exemplo, serve de hospedeira para a sobrevivência do inóculo e multiplicação do fungo da ferrugem asiática, doença que tem causado danos significativos nas lavouras. As plantas voluntárias de algodão também apresentam problemas associados à ausência de vazio sanitário, uma vez que a presença de tiguera em meio ao seu cultivo favorece incidência de pragas, como o bicudo do algodoeiro.

Para que as voluntárias sejam controladas logo no início do cultivo de novas safras, evitando qualquer tipo de perda por matocompetição, os herbicidas aplicados em condições de pré e pós-emergência das plantas daninhas, com mecanismos de ação distintos do glifosato, são as principais alternativas de manejo. Os pré-emergentes têm sido usados com vantagem, pois podem ser aplicados sobre o sistema de plantio direto, dispensando sua incorporação. Além disso, pelo seu período residual, evita que ocorram muitas reaplicações, economizando tempo, combustível e maquinário, além de evitar a compactação do solo. Os principais cuidados que se deve ter com esse tipo de herbicida estão relacionados à sua seletividade, de modo a prevenir injúria na cultura comercial.

O manejo com herbicidas de pós-emergência deve ser feito quando as voluntárias ainda estão nos primeiros estádios de desenvolvimento, de três a cinco folhas (V3 a V5). Caso o controle seja realizado tardiamente será necessária a aplicação de um graminicida (no caso do milho voluntário). Quanto às plantas voluntárias em soja e algodão, cujo controle é mais complicado devido à menor seletividade de herbicidas para essas culturas, o controle deve ser nos primeiros estádios de desenvolvimento.

Notificados os problemas que as plantas voluntárias podem causar e a medida com que eles vêm se intensificando, o controle dessas plantas se tornou uma medida legislativa obrigatória em diversos estados da federação. Fato que evidencia a importância de se investigar e avaliar possíveis alternativas de controle para plantas tigueras, especialmente aquelas resistentes ao glifosato.

Considerando as três culturas anuais mais importantes no Brasil, soja, milho e algodão, e levando em conta que a sucessão/rotação pode ocorrer em todas as combinações possíveis, destacam-se os principais herbicidas recomendados (Tabela 1).

Tabela 1 - Principais herbicidas seletivos para controle do milho, soja e algodão voluntários, nas culturas de soja, milho e algodão, respectivamente

Plantas voluntárias

Soja

Milho

Algodão

Culturas

Pré*

Pós**

Pré

Pós

Pré

Pós

soja

---

---

Sem opção

Clethodin, haloxyfop, sethoxydin, tepraloxydin, fluazifop-butil e quizalofop-butil

Sem opção

Amônio glufosinato***, lactofen, flumioxazin e fomesafen

Milho

Atrazina

Tembotrione, atrazina mestotrione e 2,4-D****

---

---

Atrazina

Mesotrione, Amônio glufosinato***** e 2,4-D****

Algodão

Diuron

Trifloxysulfuron sódio, Pyrithiobac e amônio glufosinato***

Diuron

Clethodin, haloxyfop, tepraloxydin, fluazifop-butil e quizalofop-butil

---

---

* Herbicidas aplicados em condições de pré-emergência

** Herbicidas aplicados em condições de pós-emergência

*** para o caso da cultura ser tolerante ao amônio glufosinato

**** Observar o estádio adequado da cultura de aplicação para evitar fitotoxicidade

*** para o caso da planta voluntaria não ser tolerante ao amônio glufosinato

Plantas voluntárias

Soja

Milho

Algodão

Culturas

Pré*

Pós**

Pré

Pós

Pré

Pós

soja

---

---

Sem opção

Clethodin, haloxyfop, sethoxydin, tepraloxydin, fluazifop-butil e quizalofop-butil

Sem opção

Amônio glufosinato***, lactofen, flumioxazin e fomesafen

Milho

Atrazina

Tembotrione, atrazina mestotrione e 2,4-D****

---

---

Atrazina

Mesotrione, Amônio glufosinato***** e 2,4-D****

Algodão

Diuron

Trifloxysulfuron sódio, Pyrithiobac e amônio glufosinato***

Diuron

Clethodin, haloxyfop, tepraloxydin, fluazifop-butil e quizalofop-butil

---

---

* Herbicidas aplicados em condições de pré-emergência

** Herbicidas aplicados em condições de pós-emergência

*** para o caso da cultura ser tolerante ao amônio glufosinato

**** Observar o estádio adequado da cultura de aplicação para evitar fitotoxicidade

*** para o caso da planta voluntaria não ser tolerante ao amônio glufosinato

Clique aqui para ler o artigo na edição 179 da Cultivar Grandes Culturas.

Compartilhar

Mosaic Biosciences Março 2024