Controle químico da macieira: como manejar

Mais do que apenas controlar doenças, atualmente a cultura da macieira exige o emprego de produtos que atuem sobre a fisiologia da planta e resultem em benefícios para a produtividade e a qualidade dos frutos

20.10.2016 | 21:59 (UTC -3)

A moderna cultura da macieira não é caracterizada pelo simples uso de produtos fitossanitários de última geração para o controle de doenças, mas sim pelo conhecimento da ação dos produtos sobre a fisiologia da planta e aspectos relacionados à qualidade dos frutos. Dessa forma, a distinção entre fungicidas não deve ser baseada unicamente na eficiência de controle a doenças, devendo ser efetuada avaliando-se os efeitos benéficos de determinadas moléculas sobre a produtividade e a qualidade da produção.

Afora o controle de doenças, determinadas moléculas possuem outras características positivas, como atividades sobre enzimas, podendo atuar sobre o equilíbrio hormonal da planta. Mais recentemente, tem-se ressaltado a importância do efeito fisiológico benéfico ao desenvolvimento das plantas de fungicidas à base de estrobilurinas, de modo que seu efeito em fruteiras deve ser melhor estudado. Nos últimos anos, pesquisas sobre propriedades fúngicas de estrobilurinas destacaram influências diretas em processos fisiológicos das plantas, onde esses produtos eram utilizados, mesmo em plantas não infectadas ou ameaçadas por patógenos. Essa influência é referida como Efeito Fisiológico. Esses efeitos fisiológicos variam do chamado efeito verdejante e melhora dos fatores estressantes no campo e sob condições controladas, até influências de regulação hormonal e assimilação de carbono e nitrogênio pela planta. As estrobilurinas são derivadas sintéticas de produtos naturais que têm se mostrado adequadas para o manejo integrado no controle de doenças de plantas, sendo que além do efeito fungicida, estas moléculas promovem alterações fisiológicas em várias culturas com influência positiva sobre a produtividade. Estes efeitos secundários incluem um escurecimento do verde das folhas, atrasando a senescência, aumentando a concentração de clorofila, proteínas e produção de biomassa, favorecendo o índice de colheita (Venâncio et al, 1999). Com isto proporcionam um melhor desenvolvimento à planta, promovendo mudanças fisiológicas que permitem melhor utilização de CO2, incremento na atividade da enzima nitrato redutase, maior teor de clorofila e uma redução do estresse, associado à redução da produção de etileno, permitindo assim uma maior duração da vida das folhas. Dentro do grupo das estrobilurinas, destaca-se o metiram + piraclostrobina como um fungicida de amplo espectro de ação e que também apresenta efeitos fisiológicos sobre as plantas, associado ao modo de ação do produto, que atua na respiração celular, na mitocôndria, interferindo transitoriamente no transporte de elétrons e, como conseqüência, ocorre uma melhor utilização do CO2, reduzindo gastos de energia, resultando em maior acúmulo de carboidratos, incremento da atividade da nitrase de etileno, permitindo assim maior duração da área foliar.

Avaliou-se um programa de tratamentos fitossanitários envolvendo quatro aplicações de metiram + piraclostrobina em relação a um programa sem a inclusão de piraclostrobina. Foram avaliados a qualidade dos frutos, os teores de nutrientes minerais nos frutos e folhas e outras características relacionadas à fisiologia do fruto como incidência de bitter pit, russeting, qualidade dos frutos em pós-armazenagem e teor de vitamina C nos frutos.

Objetivos específicos:

a. Efeito sobre os teores de nutrientes na polpa fresca do fruto;

b. Efeito nos teores de vitamina C.

c. Efeito sobre os teores de nutrientes foliares;

d. Efeito sobre produção

e. Efeito na incidência de russeting;

f. Efeito na coloração da epiderme dos frutos;

g. Efeito na conservação dos frutos;

h. Efeito na frutificação efetiva;

i. Efeito na incidência de doenças.

O trabalho se desenvolveu no município de Fraiburgo, Santa Catarina (Latitude 26o46'31" S e Longitude 51o00'54" W), nos ciclos 2006/2007, 2007/2008, 2008/2009 e 2009/2010 e em Vacaria, no Rio Grande do Sul, no ciclo 2007/2008. O pomar, em Fraiburgo, foi implantado em 2002, com as cultivares Imperial Gala e Fuji Suprema, sobre o porta-enxerto Marubakaido com interenxerto de M-9. O pomar foi dividido em dois blocos, com área mínima de 1,1 hectare por bloco, contendo em cada bloco as duas cultivares. Em cada bloco adotou-se um programa de tratamentos fitossanitários, sendo o programa padrão utilizado na cultura da macieira e o programa envolvendo o uso de quatro aplicações de metiram + piraclostrobina. Em Vacaria foi adotado o mesmo sistema, porém, foi utilizada a cultivar Gala. As demais atividades realizadas no pomar foram iguais em ambos os blocos.

Resultados

Nas cultivares Imperial Gala e Fuji Suprema observou-se um aumento dos teores de cálcio na polpa dos frutos na pré-colheita, com aumento de 4% a 18,9% em relação ao tratamento padrão, de acordo com o ano. Na cultivar Fuji Suprema os teores de Ca na polpa dos frutos na pré-colheita apresentaram aumento dos teores de cálcio inferiores aos observados na cultivar Imperial Gala. Esta diferença entre as cultivares Imperial Gala e Fuji Suprema pode estar relacionada à produção de etileno, onde a Imperial Gala produz mais que Fuji Suprema, sendo que piraclostrobina interfere na produção de etileno. Referente aos demais nutrientes, na cultivar Imperial Gala observa-se um aumento dos teores de K aos 45 dias após a plena floração. Como houve uma influência nos níveis de Ca e K, a relação N/Ca, na cultivar Imperial Gala, mostra uma pequena redução nos quatro anos estudados, o que é benéfico para a conservação dos frutos.

O número de frutos por planta na cultivar Imperial Gala em Fraiburgo foi superior no tratamento com piraclostrobina, nos quatro anos estudados, o que poderá estar relacionado a um possível efeito no aumento da frutificação efetiva. Em consequência houve aumento da produção por planta, representando 36,6% na produção acumulada dos quatro anos. Resultados quanto ao peso médio dos frutos, na cultivar Imperial Gala, em Fraiburgo, aumentou significativamente no tratamento com piraclostrobina nos anos de 2006 e 2007, sendo que em 2008 e 2009 apresentou menor peso médio dos frutos, o que pode ser atribuído aos constantes aumentos de produção. Ressalta-se que mesmo com um maior número de frutos por planta, houve um incremento no peso médio dos frutos, no tratamento com piraclostrobina em Fraiburgo nos dois primeiros anos de avaliação. Os efeitos fisiológicos das estrobilurinas são citados como aumento de concentração de clorofila, proteínas e produção de biomassa, favorecendo o índice de colheita. Na cultivar Fuji Suprema o número de frutos por planta apresentou pequeno aumento nos dois primeiros anos e nos demais anos muito similar, comportamento este também observado na produção por planta, sendo que o peso médio dos frutos foi superior no tratamento com piraclostrobina em 2006, 2008 e 2009.

A cor vermelha da epiderme dos frutos não apresentou diferença significativa na cultivar Imperial Gala, o mesmo ocorreu quanto à incidência de russeting, com o que se pode afirmar que piraclostrobina não aumenta a incidência de russeting.

Os teores de vitamina C dos frutos foram aumentados em análises realizadas dez dias antes do ponto de colheita e no ponto de colheita na cultivar Imperial Gala (Figura 1). Nas amostras no ponto de colheita a concentração de vitamina C aumentou significativamente no tratamento com piraclostrobina, em maçãs com e sem casca, com o que mostra evidência do efeito de piraclostrobina no aumento da concentração de vitamina C em frutos de maçã. Na cultivar Fuji Suprema, mesmo comportamento foi observado nas análises realizadas no ponto de colheita, porém, o percentual de aumento foi de 23,96% em maçãs sem casca, enquanto que em maçãs com casca foi de 14,95%. Os teores de vitamina C foram superiores na cultivar Fuji Suprema, em relação à cultivar Imperial Gala.

Referente ao controle de doenças, em ambos os tratamentos a incidência foi muito baixa, porém, o tratamento com piraclostrobina (metiram + piraclostrobina) reduziu em relação ao tratamento padrão na cultivar Imperial Gala a sarna (Venturia inaequalis) e mancha foliar de Gala (Colletotrichum sp.). Quanto a podridões na cultivar Imperial Gala em frutos armazenados houve uma pequena redução no tratamento com piraclostrobina, porém, esta diferença aumentou em relação ao tratamento padrão quando os frutos foram avaliados sete dias após a retirada da câmara fria.

CONCLUSÕES

1.Piraclostrobina (metiram + piraclostrobina) aumentou os teores de vitamina C na polpa dos frutos de maçãs.

2.Os teores de cálcio na polpa dos frutos aumentaram no tratamento com piraclostrobina, sendo mais pronunciado na cultivar Imperial Gala.

3.Com o aumento dos teores de Ca, a relação N/Ca foi reduzida no tratamento com piraclostrobina.

4.Os teores de K da polpa dos frutos foram aumentados nos tratamentos com piraclostrobina, porém, em alguns casos sem diferenças significativas.

5.A incidência de russeting e a cor vermelha da epiderme dos frutos não foram influenciadas pelo tratamento de piraclostrobina.

6.O peso médio dos frutos e o número de frutos por planta apresentaram resultados variáveis, necessitando a realização de maiores estudos;

7.No tratamento com piraclostrobina ocorreu menor incidência de sarna e mancha foliar de Gala no tratamento com piraclostrobina.

Tabela 1 – Teor de cálcio (mg kg-1) na polpa de frutos de macieira cultivares Imperial Gala e Fuji Suprema no período de pré-colheita sob dois sistemas de manejo fitossanitário. Fraiburgo (SC), 2010

Ciclo

Cv. Imperial Gala

Cv. Fuji Suprema

Manejo

padrão

Manejo

Pyrocl.

Manejo

padrão

Manejo

Pyrocl.

2006/2007

42,3

49,9

36,6

35,2

2007/2008

36,7

38,2

42,1

43,1

2008/2009

64,3

76,5

48,3

51,3

2009/2010

44,6

52,3

63,6

64,4

Ciclo

Cv. Imperial Gala

Cv. Fuji Suprema

Manejo

padrão

Manejo

Pyrocl.

Manejo

padrão

Manejo

Pyrocl.

2006/2007

42,3

49,9

36,6

35,2

2007/2008

36,7

38,2

42,1

43,1

2008/2009

64,3

76,5

48,3

51,3

2009/2010

44,6

52,3

63,6

64,4

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