Coqueiro sob ataque

O bicudo do coqueiro (Rhynchophorus palmarum) causa danos severos a cultura do coco. Porém, pode ser controlado com o uso de iscas de cana-de-açúcar e feromônio sintético.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O

, conhecido como bicudo do coqueiro, é entre os curculionídeos que atacam as palmeiras o pior, pois além da capacidade de localizar sua planta hospedeira a longas distâncias através do olfato, transmite uma doença letal conhecida como anel-vermelho.

O besouro pode viver até 60 dias e, durante esse período a fêmea pode colocar até 700 ovos. A larva ao nascer tem tamanho médio de 3 a 4 mm de comprimento. Quando completamente desenvolvida chega a medir 74 mm de comprimento. Apresenta a região cefálica bastante esclerotizada e mandíbulas e maxilas desenvolvidas. A pupa é do tipo exarada e, a transformação do estádio pupal ao estádio adulto ocorre dentro de um casulo com tamanho variando de 8 a 10 cm, construído com a fibra da planta hospedeira. O

quando no estádio adulto apresentam coloração preta opaca, tamanho variado podendo medir de 40 a 60 cm de comprimento; rostro recurvado; élitros com oito sulcos longitudinais e de aspecto aveludado não cobrindo totalmente a extremidade do abdômen. Apresentam dimorfismo sexual; somente machos possuem pêlos no dorso do rostro

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA

O

ocorre em todos os países da América do Sul, Central e alguns países da América do Norte. No Brasil, está presente em todos os estados brasileiros, mas a maior concentração está nos estados do norte e nordeste. Possivelmente no Estado da Bahia a ocorrência deste inseto seja maior que nos demais estados do Brasil. Provavelmente isso se deva a piaçava (

) e ao dendê subespontâneo (

), que por sofrerem um processo extrativista severo e constante, tornam-se vulneráveis ao ataque de

, propiciando assim, o aumento populacional deste inseto.

IMPORTÂNCIA ECONOMICA

As culturas de maior importância econômica que o

são responsáveis pela mortalidade são os coqueiros, dendezeiros e piaçaveiros. Observações de campo no Estado da Bahia mostraram que apenas uma larva de

é suficiente para matar uma planta jovem de coqueiro recém-introduzida. No entanto, as maiores perdas são com plantas adultas pelo fato de o inseto ser vetor de uma doença letal comumente chamada de anel-vermelho que tem como agente patogênico o nematóide Bursaphelenchus cocophilus. Trata-se de um verme fitoparasita de dimensões muito reduzidas, aproximadamente um milímetro de comprimento, muito estreito e transparente, só visivel sob lupa. O ciclo de vida comprende um estádio de ovo e quatro estádios larvais. O ciclo completo, de ovo a adulto, é um dos mais curtos do reino animal, ocorrendo em apenas 9-10 dias. O nematóide é tipicamente endoparasita, desenvolvendo-se no interior dos hospedeiros. Alimenta-se extraindo o suco das células vegetais, fazendo uso de um estilete semelhante à gulha hipodérmica. Quando recuperado do tecido do hospedeiro, apresenta-se muito ativo em suspensão aquosa.

Não existem dados quantitativos na literatura relativos a perdas econômicas causadas pelo R. palmarum em plantações de coqueiro no Brasil. No entanto, sabe-se que em vários estados do Nordeste brasileiro a mortalidade causada pelo anel-vermelho é extremamente significativa. Nos estados da Bahia e Pará estão concentradas as plantações comerciais de dendê. Todavia, foi no Estado da Bahia que ocorreram as maiores perdas com a doença. Em plantações de dendê no Município de Cachoeira, BA, estima-se que mais de 50% da área dizimada pela doença corresponde a mais de 1000 hectares em área contínua. Já no Município de Nazaré, BA, mais de 250 hectares foram dizimados pelo anel-vermelho. No Pará, até o início dos anos 80, o anel-vermelho foi responsável pelas maiores perdas no Estado.

O

cria-se normalmente em várias das espécies de palmeiras aqui citadas. De uma maneira geral o

localiza sua planta hospedeira através dos voláteis químicos liberados pela planta. Isso ocorre quando a planta apresenta ferimento ou outro tipo de stress. Uma vez localizada a planta, desce para a base axilar da palmeira e ao encontrar as partes mais tenras do meristema, tanto se alimenta quanto oviposita. Estando o inseto contaminado pelo nematóide, a transmissão poderá ocorrer e a planta morrerá no período aproximado de quatro meses. Os adultos de

quando contaminados pelo nematóide, o trazem tanto externamente quanto internamente. Sabe-se, no entanto, que a contaminação externa é maior que a interna. A presença de 50 nematóides na cavidade do corpo do inseto é suficiente para que ele seja um vetor efetivo em 73% dos casos.

Em dendezeiros os sintomas iniciais da doença são caracterizados por amarelecimento e secamento dos folíolos, desidratação e coloração alaranjada dos pecíolos, bloqueio do crescimento, amarelecimento das folhas mais novas além de apodrecimento das inflorescências e cachos. Dendezeiros atacados pelo anel-vermelho podem apresentar as folhas mais novas compactadas lembrando um repolho. Desse modo, a redução do crescimento das folhas centrais é um importante indicador externo na diagnose inicial da doença. No entanto o que se observa com mais freqüência é um amarelecimento foliar ascendente. Num estágio mais avançado ocorre apodrecimento do meristema apical e secamento da flecha, com conseqüente morte da planta. Procedendo-se um corte transversal no estipe observa-se uma estreita faixa de tecido necrosado, de cor amarronzada, em forma de anel. No coqueiro, a doença manifesta-se com amarelecimento ascendente seguido de empardecimento dos folíolos e queda gradual dos frutos. No coqueiro ao contrário do dendezeiro, o sintoma interno do anel é bem mais visível, pois ao efetuar-se um corte transversal no tronco do coqueiro , vê-se uma faixa circular de cor vermelha.

MEDIDAS DE CONTROLE

Recomenda-se o controle integrado, que consiste na conjugação de várias medidas de controle entre as quais citam-se: preventivo, uso de feromônio, cultural e químico.

MEDIDAS PREVENTIVAS

Antes do plantio

Consiste em eliminar, das proximidades da área a ser plantada, as palmeiras nativas ( piaçaveiras, licurizeiros, bacabeiras etc. ) , que apresentarem sintomas do ataque de doenças. Essas palmeiras normalmente se constituem na principal fonte de infestação de R. palmarum em áreas novas de cultivo, bem como atuam como hospedeiros alternativos do anel-vermelho.

Após o plantio

As primeiras medidas de controle após o plantio devem ser efetuadas quando se iniciam as operações de despalma (retirada das folhas mais velhas) e colheita. É uma atividade mais comum à dendeicultura.

No local onde a folha ou cacho foi cortado, ocorre a liberação de substâncias que atraem o

É justamente a partir deste estágio que os agricultores devem dar início a um conjunto de medidas de controle, entre as quais destacam-se:

i) Controle preventivo na despalma e colheita

Em plantações onde a doença anel-vermelho atingiu níveis epizoóticos, recomenda-se para cada planta a desinfecção prévia do material ferramental que será utilizado na despalma e colheita. Esta poderá ser efetuada com Carbofuran 350 S.C. a 0,2 %, hipoclorito ou formol. Nunca efetuar pulverizações com inseticidas na copa do dendezeiro e/ou coqueiro, uma vez que a entomofauna benéfica (como os polinizadores), poderá ser grandemente atingida.

ii) Controle com o uso de feromônio

O uso de atraentes químicos constituídos por iscas de toletes de cana-de-açúcar e feromônio sintético, o 2 (E)-6-methyl2-hepten-4-ol , comumente conhecido por Rhynchophorol, já vem sendo usado por pequenos e grandes empresários, em plantações de dendezeiro e coqueiro. O controle

com o uso de feromônio pode ser efetuado de duas formas: monitoramento e coleta massal.

Monitoramento: Consiste no levantamento sistemático da população da praga por meio de armadilhas distribuídas nas plantações. As armadilhas, em número de duas para cada hectare, deverão ser colocadas nas bordas das parcelas em locais sombreados para evitar o ressecamento rápido da cana e volatilização do feromônio. Quinzenalmente faz-se a renovação das canas e coleta seguida de contagem dos insetos. Recomenda-se que parte dos insetos coletados sejam levados para o laboratório e analisados a presença ou não de besouros portadores de nematóide. Naturalmente nos meses em que a população dos insetos e nematóides estiver alta, a vigilância nas plantações deve ser redobrada.

Coleta Massal: Consiste em coletar massalmente adultos de

e com isso reduzir a população do besouro e conseqüentemente da doença anel-vermelho na área. Normalmente utilizam-se seis armadilhas por hectare. A coleta massal, foi utilizada como um componente do controle integrado em plantações de coqueiro no Município de Porto Seguro, BA, em uma área de 75 hectares. Neste trabalho utilizou-se apenas uma armadilha por hectare.

TIPOS DE ARMADILHA

a) Armadilha tipo balde

A armadilha tipo balde consiste de uma balde plástico de 50 a 100 litros, com tampa reta, dentro do qual colocam-se 35 toletes da cana-de-açúcar, com 40 cm de comprimento cada. Para desenvolver uma rápida fermentação, os toletes deverão ser amassados com auxilio de um martelo ou similar. Sob a tampa do balde, devem ser acoplados quatro funis eqüidistantes entre si. Após esta etapa, o feromônio é pendurado sob a tampa. Atraídos pelos odores emanados da isca da cana mais feromônio, no interior do balde, ao pousarem na tampa, os insetos escorregam através dos funis e ficam presos no interior do balde. Para facilitar a passagem dos besouros para o interior do balde, a parte mais estreita e inferior dos funis deve ser cortada. Os baldes deverão ser colocados nas bordas da plantação, na proporção de um balde para cada 2 hectares. A cada 15 dias, faz-se a troca dos toletes de cana e, a cada 3 meses, a troca do feromônio . Os insetos coletados durante esse período devem ser mortos manualmente.

b) Armadilha tipo tanque

A armadilha tipo tanque consiste na construção, nas bordas da plantação, de recipiente de alvenaria, devidamente cimentados, na superfície do solo. A dimensão de cada tanque deve ser de 1,2 x 1,0 x 0,4 m de profundidade, com um pedaço de cano embutido lateralmente, para o escoamento da água da chuva. Dentro do tanque são colocados pedaços de cana-de-açúcar amassados mais feromônio. Nesse tipo de armadilha, recomenda-se a catação manual dos insetos, para evitar que eles fujam, ou as pulverizações com inseticidas.

c) Armadilha tipo feixe

A armadilha tipo feixe consiste de um feixe de toletes de cana-de-açúcar amarrados. As canas devem ser anteriormente amassadas com o auxilio de um martelo, para facilitar a fermentação. Após a amarração das canas, o feixe é pendurado no tronco do coqueiro e, junto, colocado o feromônio. Em pequenas plantações, recomenda-se coletar manualmente os insetos, todos os dias. Já para grandes plantios, onde não é possível a disponibilidade de mão de obra para a coleta de insetos, é necessário que as canas sejam pulverizadas com inseticidas, para eliminação dos insetos.

Controle Químico: Consiste na utilização de produtos químicos que atuem sobre as formas adultas de R. palmarum. Para evitar contaminação do meio ambiente e disperdício de inseticida, a aplicação do produto deverá ser dirigida para as axilas da palma. O controle químico só deverá ser efetuado se os danos causados pelo R. palmarum e/ou anel-vermelho atingirem níveis econômicos.

José Inácio Lacerda

CEPLAC

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