Cuidados e ajustes ideais no plantio com semeadoras contínuas

O plantio com semeadoras contínuas exige especial atenção dos produtores, já que pode gerar perdas de sementes ocasionadas por quebra dos grãos, danos ao embrião e má deposição ao solo

08.11.2017 | 21:59 (UTC -3)

A ocorrência de perdas de sementes no processo de semeadura causa sérios problemas no estabelecimento das áreas de plantio, além do mais, constitui um dos principais fatores de avaliação da eficiência das semeadoras. Neste contexto, poucos trabalhos têm se preocupado com as semeadoras contínuas, aquelas que semeiam sementes miúdas (arroz, trigo, sorgo etc). As semeadoras contínuas possuem a especificidade de terem mecanismos dosadores de sementes de fluxo constante, ou seja, não têm a ação de separação, coleta e deposição individualizada de sementes como as semeadoras de precisão. Assim, os processos pertinentes à perda de sementes, tanto em termos de quebra da semente ou dano ao embrião, como em termos de má deposição ao solo, têm grande importância no resultado final da semeadura.

Diversos autores apontam em seus estudos que a uniformidade de distribuição longitudinal de sementes é uma das características que mais contribuem para um estande adequado de plantas e, consequentemente, para a melhoria da produtividade da cultura. No entanto, poucos estudos em relação a perdas das sementes por danos ou má deposição são disponíveis.

O experimento foi conduzido no campo experimental do Departamento de Engenharia Agrícola no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará (CCA-UFC), estado do Ceará. O solo onde foi realizado o experimento é classificado como um Argissolo Vermelho Amarelo com classe textural classificada como franco arenoso (Embrapa, 1999). A semeadora de fluxo contínuo utilizada na realização do ensaio foi o modelo SDA³ da marca Tatu.

A regulagem foi determinada para a deposição de 80 sementes de arroz/metro linear e 2,5cm de profundidade em experimentos com velocidades de 4 e 8km/h. Nas linhas selecionaram-se aleatoriamente espaços de um metro para a avaliação. Os dados analisados através do software estatístico Minitab, em delineamento completamente aleatório.

Em cada velocidade analisou-se a quantidade de sementes quebradas (com danos visíveis nas sementes), encestadas (aquelas que, embora estivessem no sulco a profundidade correta, não ficaram em contato com o solo, mas em cestas de resíduos vegetais) e expostas (aquelas em que não foi realizado o processo de cobertura de solo sobre elas, tanto no sulco como fora dele). Os dados que não tiveram distribuição estatística normal foram tratados pela técnica estatística da Média Móvel Exponencialmente Ponderada (EWMA), que possibilitou avaliar a estabilidade dos dados e assim o desempenho da semeadora perante os limites recomendados de perdas. Já os dados que se apresentaram normais foram testados através da análise de variância (Anova) e teste de Tukey, que permite avaliar a diferença entre os diversos tipos de perdas.

Realização do experimento em campo, notar o detalhe das sementes expostas.

Na Tabela 1 encontra-se a estatística descritiva de avaliação das perdas no processo de semeadura. É importante notar o coeficiente de variação (CV) que indica o quanto há de amplitude entre as perdas considerando o valor médio obtido para cada tipo de perda.

Tabela 1 - Estatística descritiva para avaliação de perdas na semeadura em fluxo contínuo

Vel. 4 km.h-1

Vel. 8 km.h-1

Expostas

Encestadas

Quebradas

Expostas

Encestadas

Quebradas

Observações

20

20

20

20

20

20

Média

4,8

2,7

0,25

4,45

5,35

0,45

Desvio Padrão

3,53

2,77

0,55

3,12

4,09

0,68

Variância

12,48

7,69

0,3

9,73

16,76

0,47

Coeficiênte de variação (CV)

73,61

102,74

220,05

70,11

73,53

152,52

Máximo

16

8

2

10

16

2

Mínimo

0

0

0

0

0

0

Simetria

1,68

0,94

2,24

0,25

0,95

1,28

Curtose

4,56

-0,41

4,66

-1,54

0,96

0,54

Vel. 4 km.h-1

Vel. 8 km.h-1

Expostas

Encestadas

Quebradas

Expostas

Encestadas

Quebradas

Observações

20

20

20

20

20

20

Média

4,8

2,7

0,25

4,45

5,35

0,45

Desvio Padrão

3,53

2,77

0,55

3,12

4,09

0,68

Variância

12,48

7,69

0,3

9,73

16,76

0,47

Coeficiênte de variação (CV)

73,61

102,74

220,05

70,11

73,53

152,52

Máximo

16

8

2

10

16

2

Mínimo

0

0

0

0

0

0

Simetria

1,68

0,94

2,24

0,25

0,95

1,28

Curtose

4,56

-0,41

4,66

-1,54

0,96

0,54

Para as sementes expostas e quebradas a 4km/h não houve normalidade nos dados, prosseguiu-se então com a Média Exponencialmente Ponderada (EWMA) para os dados em questão, a Figura 1 mostra os resultados. De acordo Montgomery (2004) se todos esses pontos estiverem dentro dos limites especificados, ou seja, limites superior e inferior, considera-se que houve estabilidade no processo estudado, porém, é possível observar que em ambas as figuras existem pontos fora dos limites de controle especificados pelo limite superior e limite inferior, mostrando que o processo apresentou grande variabilidade, o que é atestado pelo coeficiente de variação mostrado na Tabela 1, mas, de acordo com Barros (2008), se 95% dos pontos amostrais estiverem dentro dos limites especificados considera-se que o processo apresenta estabilidade.

Portanto, em termos de sementes expostas e sementes quebradas a 4km/h pode-se considerar a semeadura como um processo estabilizado, embora com grande variação, o que denota necessidade de regulagens mais precisas e adequadas na semeadora.

Figura 1 - Representação da Média Móvel Exponencialmente Ponderada (EWMA) para sementes expostas e quebradas nas velocidades 4km/h, onde é constatada a anormalidade dos dados

Pela Figura 1 percebe-se que mesmo com anormalidade da distribuição, apenas um ponto saiu dos limites estabelecidos pela estatística.

Já a Análise de Variância (Anova) para as sementes encestadas, a velocidade de 4 e 8km/h na Tabela 2 e o teste de Tukey na Tabela 3, percebe-se que há diferença entre o encestamento das sementes. A velocidade de 8km/h apresentou quase o dobro de sementes encestadas, o que significa a necessidade do agricultor de especial atenção na pressão do disco de corte de resíduos a esta velocidade, pois estudos indicam que o principal fator que influi no encestamento é a má qualidade do corte dos resíduos sobre o solo.

Em relação a sementes quebradas e expostas pela comparação entre a Figura 1 e os valores apresentados na Tabela 1, tem-se que ambas variáveis podem ser consideradas estáveis e que em termos de sementes expostas não há diferença entre a maior e a menor velocidade, mas em relação a sementes quebradas a maior velocidade apresentou quase o dobro das quebras.

Tabela 2 – Anova para sementes encestadas nas velocidades 4 e 8km/h

Source

DF

SS

MS

F

P

Factor

1

1,2

1,2

0,11

0,742

Error

38

422,1

11,1

Total

38

423,4

S = 3,497 R-Sq = 13,13% R-Sq(adj) = 10,84>#/b###

Source

DF

SS

MS

F

P

Factor

1

1,2

1,2

0,11

0,742

Error

38

422,1

11,1

Total

38

423,4

S = 3,497 R-Sq = 13,13% R-Sq(adj) = 10,84>#/b###

Tabela 3 – Agrupamento dos dados pelo teste de Tukey

Agrupamento de informações usando o teste de Tukey

N Mean Grouping

Encestadas Vel 8km/h 20 5,350 A

Encestadas Vel 4km/h 20 2,700 B

Agrupamento de informações usando o teste de Tukey

N Mean Grouping

Encestadas Vel 8km/h 20 5,350 A

Encestadas Vel 4km/h 20 2,700 B

Assim, a semeadora mostrou-se adequada ao plantio de sementes de arroz nas condições edafoclimáticas do solo em questão, os mecanismos dosadores encontram-se em perfeito funcionamento. As sementes encestadas apresentaram-se influenciáveis pela velocidade da semeadura e as perdas não foram acentuadas a ponto de causar problemas ao estabelecimento da cultura do arroz.

Este artigo foi publicado na edição 137 da revista Cultivar Máquinas. Clique aqui para ler a edição.

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