Curral racional

Manejo baseado no comportamento dos animais se reflete em maior ganho de peso, menos acidentes e melhores índices reprodutivos.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Ultimamente tem havido uma maior divulgação no meio pecuário de conceitos mais racionais quanto a currais/mangueiros e lida do gado. Alguns pecuaristas e técnicos – poucos ainda - já estão procurando seguir linhas de trabalho racionais no manejo do gado. Porém, como toda novidade, acredito que temos que estar atentos aos rumos que essas “novidades” podem tomar, o assunto “manejo racional dos bovinos” é muito importante e devemos disseminar seus conceitos da maneira mais correta possível.

Chamo de “manejo racional dos bovinos” o manejo baseado nos princípios de comportamento destes animais, objetivando mais segurança para as pessoas e o gado, maior eficiência na atividade diária na fazenda e minimização do estresse dos bovinos e de outras conseqüências negativas que podem surgir do trabalho com estes, que afetam seriamente diversos aspectos da produção pecuária – ganhos de peso, acidentes, contusões, índices reprodutivos, resistência a doenças etc. O manejo do gado na fazenda pode ser analisado sob dois pontos, as instalações e a lida dos animais. Neste artigo apresentarei algumas tendências no planejamento de instalações de manejo racionais para bovinos de corte.

Curral/Mangueiro

No planejamento de um curral racional objetivamos a maior eficiência de trabalho possível, especialmente através de uma maior facilidade de fluxo dos animais, com a utilização do mínimo necessário de mão de obra – dois funcionários – e com a minimização do estresse dos bovinos durante o manejo destes. Apenas em casos de trabalhos mais complexos poderia ser necessário mais um funcionário na área de trabalho.

Para alcançarmos os objetivos citados, devemos “pensar e sentir” como os bovinos. Um ponto importante em relação aos projetos tradicionais é o uso estratégico de lances de cercas fechadas/interiças para impedir a visão dos animais, ou com maior área de visão – ex. tubos, cordoalha - em pontos determinados. Isto é feito para impedir a distração do animal com objetos estranhos e movimentação, ou atraí-lo com a visão de pasto aberto ou outros animais, por exemplo.

É muito interessante a utilização de corredores de circulação para facilitar o direcionamento das reses para a área de serviço. Para as seringas, tem sido mais recomendada a circular com porteiras giratórias, mas outros formatos de seringa, nas dimensões corretas e bem planejadas – localização das porteiras corrediças, lances fechados, passarela, modelo adequado do tronco coletivo posterior à seringa – podem dar exatamente os mesmos resultados. Uma porteira giratória mal utilizada só dificulta o manejo.

O tronco coletivo (brete, corredor) mais recomendado é em curva – o animal não enxerga o final deste -, podendo ser em semi-círculo ou círculo. Para o tronco de contenção individual (brete para alguns) existem diversos modelos, com características bem diferentes. Independente do modelo, é recomendável que seja do tipo conjugado com barras de balança eletrônica - quando é necessária a balança para pesagem -, o que agiliza muito o trabalho. O embarcadouro deve ser ao nível do solo, quando possível, ou com uma subida em rampa ou degraus (mais indicado) mais plataforma ao nível do caminhão.

Uma instalação específica para Inseminação Artificial é aconselhada em situações de maior volume de animais, ao invés de praticar a IA no tronco de contenção, o qual é associado a dor/situações estressantes – memória associativa – pela matriz, evitando o estresse mais elevado no momento da IA e possibilidade de queda nos índices de concepção..

Quanto ao material, a madeira continua sendo largamente o mais utilizado – com o uso crescente de cordoalha de aço e eucalipto tratado em autoclave. Em alguns países de pecuária avançada como Estados Unidos, Canadá e Austrália, as instalações metálicas predominam. Estas apresentam diversas vantagens, como uniformidade do produto, resistência e facilidade de montagem e desmontagem. Contudo, é imprescindível que sejam estruturas muito bem planejadas em termos de material e projeto, com especificações de espessuras, bitolas, proteção contra corrosão e excesso de barulho determinadas profissionalmente, e não ao acaso.

Em relação a dimensões, existem medidas mínimas e máximas que devem ser usadas para os diferentes componentes de uma instalação. Entretanto, o desenvolvimento de um projeto do tipo não é realizado seguindo-se uma “receita de bolo” de dimensões e modelos padrões. São diversos fatores que devemos levar em consideração na busca do melhor projeto para a situação em particular: os bovinos (categorias, temperamento, porte), o sistema de manejo geral da fazenda, a chegada e saída do mangueiro, o uso de remanga/curral de espera, custos da obra, a localização do sol (muito importante), a movimentação de caminhões de embarque, etc. Conhecendo-se estes fatores desenvolvemos o projeto que possa apresentar mais pontos positivos para os objetivos propostos.

Vale ressaltar que alguns destes “novos” princípios no planejamento do curral, como seringas e troncos coletivos em curva, já vêm sendo estudados e utilizados de forma independente desde os anos sessenta em países como Austrália, Inglaterra, Nova Zelândia e Estados Unidos, não podendo de maneira nenhuma serem atribuídos a um trabalho de pesquisa em particular. Currais circulares já eram utilizados há milhares de anos no Oriente Médio. O importante no estudo e adoção de currais de manejo racionais é compreendermos os princípios destes e aprendermos como utilizá-los nas inúmeras situações que encontramos em nossas fazendas.

Também é fundamental destacar que caso a instalação não esteja dentro dos princípios preconizados, não precisamos obrigatoriamente construir uma nova. Com algumas modificações de baixo custo, mas bem planejadas, qualquer mangueiro pode ser melhorado substancialmente.

O fator mais estressante em um curral é o homem, não a instalação. Antes de chegar na seringa (em curva, quadrada, triangular, qualquer que seja) o bovino pode já estar estressado, machucado e tentando machucar.

A forma como lidamos com nossos bovinos talvez seja o ABC de uma fazenda, mas ao mesmo tempo talvez seja a área mais difícil de mudanças, em função de vaidades e falta de autocrítica. O fundamental é a mudança de atitude, rever conceitos, acreditar e aceitar mudanças. Vamos lembrar de diversas tecnologias hoje consideradas básicas – por exemplo pastagens formadas, inseminação artificial - que temos adotado nas últimas décadas e que nossos avós ou pais não tiveram acesso ou não aceitaram, e hoje não imaginamos como viver sem estas na pecuária moderna. Outras informações:

Paulo C. N. Costa

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