Danos subterrâneos: prejuízos causados pela broca Cosmopolites sordidus na banana

Mais importante praga da bananeira a broca Cosmopolites sordidus ataca a parte subterrânea da planta e provoca sérios prejuízos

20.04.2016 | 20:59 (UTC -3)

O Brasil é o quinto maior produtor de banana do mundo (Agrianual, 2014). É considerada não apenas uma simples fruta, mas um importante alimento também. A praga mais importante para a bananeira é a broca (moleque) da bananeira (Cosmopolites sordidus (Germar)), que danifica a parte subterrânea da planta. Foi descoberta em 1824 e existe em todo o mundo entre os trópicos.


A perda de produção devido à broca da bananeira já tem sido estudada por vários autores (Fonseca, 1961; Matos & Simão, 1967; Moreira, 1979). Sabendo-se que essa praga se alimenta exclusivamente dos tecidos da bananeira é mais fácil controlá-la através de iscas confeccionadas com esses materiais; assim, rizomas ou pseudocaules podem ser oferecidos aos adultos. Vários trabalhos têm mostrado a capacidade da isca em capturar os adultos (Nakano et al, 1968; Martinez, 1971; Nogueira, 1975; Melo et al, 1979; Silva, 1985)

Os adultos podem viver mais que um ano e durante esse período produzem cerca de 70 ovos a 80 ovos inseridos nos tecidos do rizoma da bananeira. A isca pode ser usada para monitoramento ou controle da praga.

De acordo com Batista Fº et al (1991), o período de saída dos adultos é entre março e maio, porém, podem ser encontrados o ano inteiro, principalmente em regiões que apresentam temperaturas amenas ao longo do ano todo.

A proibição de inseticidas com efeitos residuais longos prejudicou a eficiência das iscas que, antes contaminadas com tais produtos, agiam por um período maior que 30 dias, pois quanto mais a isca apodrece, mais atrativa se torna. Desse contexto surgiu a ideia do uso de iscas contaminadas com inseticidas fisiológicos. De acordo com trabalhos de Schroeder et al (1976); Nakano et al (1997); Silva (1985) e Ávila e Nakano (1999), iscas com esses produtos, além de possuírem grande estabilidade comparadas às convencionais, ainda poderiam agir por um período mais longo. Se considerarmos a ação esterilizante de alguns produtos fisiológicos, seus impactos ao meio ambiente seriam menores, pois conservariam os inimigos naturais. De acordo com Gallo et al (1988), a esterilização é o único jeito de erradicar uma praga a curto prazo.

Baseado no comportamento da broca da bananeira e nas características esterilizantes de alguns inseticidas fisiológicos, a ideia de usar iscas com esses produtos surge para eliminar a praga das plantações de banana, levando em consideração que esse inseto não se dispersa sozinho, mas com as plântulas.

Materiais e métodos

Os ensaios ocorreram na seção de agroquímicos do laboratório de Entomologia e Acarologia da Universidade de São Paulo, Esalq/USP, em Piracicaba, São Paulo, de outubro de 2010 a novembro de 2011, consistindo de cinco tratamentos com quatro repetições. Os inseticidas usados foram: duas doses de abamectina 18% - 1,5 e 3ml (Vertimec); tebufenozide 24% - 1ml (Mimic); lufenuron 5% - 1ml (Match) e testemunha, com diluição em 1.000ml de água em todos os tratamentos, correspondendo a concentrações de 0,027% e 0,054% de abamectina, 0,24% de tebufenozide e 0,05% de lufenuron.

As repetições consistiram em dois potes de plástico de 20cm de diâmetro e 15cm de altura, com cinco pequenos buracos no fundo para controlar a umidade dentro dos potes. Os insetos permaneceram no laboratório durante todo o período de observação.

Besouros presentes na variedade Nanica com idade desconhecida foram coletados nas plantações de banana junto com os pseudocaules. Os menores foram identificados como machos e as maiores como fêmeas. Cada tratamento foi composto de 48 besouros, divididos em 12 (seis casais) para cada período: outubro/10, dezembro/10, fevereiro/11 e novembro/11; portanto, considerou-se uma repetição por tratamento cada período ou bloco.

Os tratamentos com pseudocaules iscas, que serviram de alimento para os insetos durante uma semana, foram submergidos na solução preparada de cada inseticida por dez minutos.

A avaliação iniciou-se depois de duas semanas para que o contato direto dos ovos com os pseudocaules tratados garantisse os resultados. Desse modo, uma semana depois do contato com os insetos as iscas tratadas foram substituídas por outras não tratadas e renovadas a cada semana, removendo os ovos, sendo coletados e desinfetados com água sanitária 0,5%. Depois, cada um foi encubado em placas de Petri, forradas com papel absorvente, fechadas com filme PVC e deixadas no ambiente.

A contagem da eclosão das larvas começou depois de uma semana da incubação dos ovos, com a quantidade de larvas encontradas em cada placa. As avaliações foram realizadas até a nona semana após o início do teste e os resultados encontram-se nas Tabelas de 1 a 4.

Tabela 1 - Número de ovos por tratamento; somatória de ovos de quatro repetições. Piracicaba, SP, outubro/10 a novembro/11

Dias após a contaminação com inseticidas

Tratamento

17

21

28

32

49

56

63

70

Total

1. Abamectina 3,0 ml

10

4

8

13

7

2

3

7

54

2. Abamectina 1,5 ml

12

13

16

9

5

4

8

3

70

3. Tebufenozide

4

10

15

6

4

4

11

2

56

4. Lufenuron

9

12

25

17

9

11

6

4

93

5. Testemunha

4

4

21

13

6

5

10

6

69

Tabela 2 - Número de ovos viáveis por tratamento até 70 dias após a contaminação dos insetos. Piracicaba, SP, outubro/10 a novembro/11

Dias após a contaminação com inseticidas

Tratamento

17

21

28

32

49

56

63

70

Total

1. Abamectina 3,0 ml

0

0

1

4

5

1

1

5

17

2. Abamectina 1,5 ml

2

4

4

3

1

2

5

2

23

3. Tebufenozide

0

2

3

2

2

2

5

1

17

4. Lufenuron

1

0

2

0

0

0

1

0

4

5. Testemunha

1

2

3

2

3

4

8

3

26

Tabela 3 - Porcentagem de eclosão de larvas até 70 dias após a contaminação, obtida da TABELA 2. Piracicaba, SP, outubro/10 a novembro/11

Dias após a contaminação com inseticidas

Tratamento

17

21

28

32

49

56

63

70

Média

1. Abamectina 3,0 ml

0

0

12,5

30,76

71,42

50

33,33

71,42

33,68

2. Abamectina 1,5 ml

16,66

30,76

25

33,33

20

50

62,5

66,66

38,11

3. Tebufenozide

0

20

20

33,33

50

50

45,5

45,45

33,04

4. Lufenuron

11,1

0

8

0

0

0

16,66

0

4,47

5. Testemunha

25

50

14,28

15,38

50

80

80

50

45,58

Tabela 4 - Porcentagem de eficiência dos tratamentos durante os 70 dias baseados na TABELA 3, obtidos com a fórmula Abbott. Piracicaba, SP, outubro/10 a novembro/11

Dias após a contaminação com inseticidas

Tratamento

17

21

28

32

49

56

63

70

Média

1. Abamectina 3,0 ml

100,00

100,00

12,46

0,00

0,00

37,50

58,75

0,00

38,59

2. Abamectina 1,5 ml

33,36

38,48

0,00

0,00

60,00

37,50

21,87

33,32

28,07

3. Tebufenozide

100,00

60,00

0,00

0,00

0,00

37,50

43,18

0,00

30,09

4. Lufenuron

55,56

100,00

43,97

100,00

100,00

100,00

79,17

100,00

84,84

Tabela 1 - Número de ovos por tratamento; somatória de ovos de quatro repetições. Piracicaba, SP, outubro/10 a novembro/11

Dias após a contaminação com inseticidas

Tratamento

17

21

28

32

49

56

63

70

Total

1. Abamectina 3,0 ml

10

4

8

13

7

2

3

7

54

2. Abamectina 1,5 ml

12

13

16

9

5

4

8

3

70

3. Tebufenozide

4

10

15

6

4

4

11

2

56

4. Lufenuron

9

12

25

17

9

11

6

4

93

5. Testemunha

4

4

21

13

6

5

10

6

69

Tabela 2 - Número de ovos viáveis por tratamento até 70 dias após a contaminação dos insetos. Piracicaba, SP, outubro/10 a novembro/11

Dias após a contaminação com inseticidas

Tratamento

17

21

28

32

49

56

63

70

Total

1. Abamectina 3,0 ml

0

0

1

4

5

1

1

5

17

2. Abamectina 1,5 ml

2

4

4

3

1

2

5

2

23

3. Tebufenozide

0

2

3

2

2

2

5

1

17

4. Lufenuron

1

0

2

0

0

0

1

0

4

5. Testemunha

1

2

3

2

3

4

8

3

26

Tabela 3 - Porcentagem de eclosão de larvas até 70 dias após a contaminação, obtida da TABELA 2. Piracicaba, SP, outubro/10 a novembro/11

Dias após a contaminação com inseticidas

Tratamento

17

21

28

32

49

56

63

70

Média

1. Abamectina 3,0 ml

0

0

12,5

30,76

71,42

50

33,33

71,42

33,68

2. Abamectina 1,5 ml

16,66

30,76

25

33,33

20

50

62,5

66,66

38,11

3. Tebufenozide

0

20

20

33,33

50

50

45,5

45,45

33,04

4. Lufenuron

11,1

0

8

0

0

0

16,66

0

4,47

5. Testemunha

25

50

14,28

15,38

50

80

80

50

45,58

Tabela 4 - Porcentagem de eficiência dos tratamentos durante os 70 dias baseados na TABELA 3, obtidos com a fórmula Abbott. Piracicaba, SP, outubro/10 a novembro/11

Dias após a contaminação com inseticidas

Tratamento

17

21

28

32

49

56

63

70

Média

1. Abamectina 3,0 ml

100,00

100,00

12,46

0,00

0,00

37,50

58,75

0,00

38,59

2. Abamectina 1,5 ml

33,36

38,48

0,00

0,00

60,00

37,50

21,87

33,32

28,07

3. Tebufenozide

100,00

60,00

0,00

0,00

0,00

37,50

43,18

0,00

30,09

4. Lufenuron

55,56

100,00

43,97

100,00

100,00

100,00

79,17

100,00

84,84

A Tabela 4 mostra que o lufenuron foi altamente eficiente somente para o controle dos adultos da broca da bananeira, esterilizando-os durante todo o período de 70 dias. Após 14 dias, sua eficiência foi cerca de 55,56%, depois de 28 dias 43,97% e passados 63 dias, 79,17%. A queda inexplicada de eficiência pode ter ocorrido devido à falta de alimentação da isca por um adulto. Contudo, a eficiência média foi de 90,10%, considerada altamente satisfatória, tendo em vista que as amostras foram coletadas ao acaso, procedentes do campo e foram pós-contaminadas, não garantido o mesmo efeito para todas as fêmeas.

Silva (1985) obteve resultados similares quando testou o ingrediente ativo das iscas, (lufenuron) a 0,25%, na broca da bananeira; embora o número de ovos colocados fosse maior que o encontrado na testemunha, não houve eclosão no tratamento.

Não foi possível avaliar neste experimento a causa da não viabilidade, pois pode ser efeito da espermatogênese, ovogenese ou ambos os processos. O trabalho de Ávila & Nakano (1999) mostra que o efeito do lufenuron nas fêmeas de Diabrotica speciosa não foi necessariamente esterilizante, já que se observou a formação de embriões não nascidos, o que significa que o produto não causou esterilização. A partir disso é possível observar as fêmeas se alimentaram do produto, que foi transferido para os embriões através do ovário, tornando impossível a eclosão das larvas. Silva (1985) desenvolveu estudos da anatomia dos ovários de C. sordidus e não notou nenhuma anormalidade aparente na estrutura e formação dos óvulos com testes de lufenuron.

Os resultados aqui obtidos concordam com os dados mostrados por Silva, embora a viabilidade das larvas tenha sido baixa, mesmo para o alto controle. Lufenuron estaria afetando diretamente a formação dos embriões nos ovos dentro do ovário. O efeito drástico estaria ocorrendo no ovário porque os besouros entram nos tecidos das iscas contaminadas, ocorrendo assim contaminação por ingestão e contato, diferente de Ávila & Nakano que contaminaram apenas a comida ingerida, não havendo contaminação por contato. Mais ainda, a dose usada nesse experimento foi de 0,50% comparada com 0,33% de Ávila & Nakano. Um grande número de ovos depositados no tratamento de lufenuron, quando comparado à testemunha, indicaria contaminação que geralmente acelera a postura em organismos enfraquecidos.

O uso de outros inseticidas não apresentou efeitos significativos no processo reprodutivo, mas mostrou ser promissor em altas dosagens. Abamectina mostrou alta eficiência durante os primeiros 21 dias pós-ingestão na dose de 3ml/L de água e tebufenozide apresentou sinais de que em altas dosagens, sua eficiência é maior (Tabela 4), mesmo sendo recomendado especificamente para o grupo dos lepidópteros. Silva (1985) estudou o efeito da abamectina à mesma praga e descobriu que na dose de 2,8ml com 1,8%, ou 0,05% do ingrediente ativo, o produto inibiu a eclosão.

A partir dos resultados obtidos é possível concluir que o lufenuron também é eficiente para o controle da broca da bananeira, tornando recomendável o seu uso em iscas para impedir a reprodução da praga e disseminação de agentes patogênicos devido a sua locomoção.

Outra vantagem da esterilização é permitir a sobrevivência do inseto para servir de alimento aos inimigos naturais, mantendo o equilíbrio ecológico. Silva (1985) também relatou a existência de parasitismo natural na broca da bananeira em campo devido a Beauveria bassiana.

Os dados obtidos permitem concluir que a broca da bananeira (C. sordidus) pode ser controlada com eficiência pelo inseticida fisiológico lufenuron 50 CE na dose de 1ml/l de água, se administrado nas iscas preparadas com os próprios pseudocaules das bananeiras. As doses dos outros inseticidas testados devem ser reavaliadas para se formar uma conclusão definitiva.


Este artigo foi publicado na edição 87 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas. Clique aqui para ler a edição.

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