Defesa ativada

Principal praga em tomateiro, a Tuta absoluta tem alta capacidade destrutiva, sendo responsável por graves prejuízos à cultura

01.04.2016 | 20:59 (UTC -3)

No Brasil, a traça do tomateiro, Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae), é considerada a praga mais importante desta cultura. Apesar de atacar preferencialmente o tomateiro, ocorre também na cultura da batata Solanum tuberosum L. Esse inseto é nativo na América do Sul, principalmente no centro de origem do tomate, que compreende o estreito território limitado pelo Equador, Cordilheira do Andes, norte do Chile e litoral do Oceano Pacífico, incluindo o arquipélago das ilhas Galápagos. A traça do tomateiro foi constatada no Brasil no início da década de 80 e, desde então, vem se espalhando pelas regiões produtoras, comprometendo seriamente a produtividade devido à sua alta capacidade destrutiva.

As larvas desse inseto afetam a produtividade por reduzir a área fotossintética ao alimentarem-se do mesófilo foliar; por afetar o crescimento vertical ao broquear o ponteiro e por broquear os botões florais, as flores e principalmente os frutos.

O ciclo de vida da T. absoluta, desde a postura dos ovos até a emergência dos adultos, varia de 76,3 a 23,8 dias à temperatura média de 14ºC a 27,1ºC, respectivamente, ocorrendo numerosas gerações anualmente em regiões de clima tropical.

Controle

O principal método de controle da traça é realizado por meio de inseticidas. Podem-se observar até três aplicações semanais de inseticidas ao longo de todo o ciclo da cultura, chegando ao extremo de 36 aplicações durante o cultivo. Como consequência do uso indiscriminado de inseticidas, tem-se verificado a contaminação do meio ambiente e o desenvolvimento de resistência da praga ao inseticida.

Alternativas ao controle químico têm sido utilizadas. Um exemplo é o melhoramento, com a busca por cultivares resistentes, considerado ideal por reduzir as aplicações de inseticidas, constituindo tática efetiva, econômica e sustentável. No processo de obtenção de cultivares resistentes às pragas, é de fundamental importância o estudo dos mecanismos e causas da resistência. Um dos mecanismos que podem estar envolvidos na resistência de Solanum spp. aos artrópodes-praga: antixenose.

Na antixenose, o inseto possui menor preferência de alimentação ou oviposição nos acessos resistentes. O mecanismo de resistência pode ser desencadeado por inúmeras causas, como morfológicas, químicas e/ou físicas. Raramente um único fator é responsável pela resistência de uma planta a insetos-praga.

As características morfológicas consistem em barreiras mecânicas que influenciam na atração e repelência dos insetos. Várias características morfológicas têm sido associadas à incidência de insetos, dentre as quais se incluem os tricomas presentes na superfície abaxial e adaxial das folhas, que podem interferir na oviposição, fixação e alimentação.

Os metabólitos secundários podem ser armazenados dentro das células, glândulas epidérmicas ou em tricomas das plantas, além de serem excretados pelos tricomas. Entre os metabólitos pesquisados encontra-se o zingibereno, um sesquiterpeno presente em folíolos de Lycopersicon hirsutum var. hirsutum. Sua presença foi detectada nos acessos de L. hirsutum var. hirsutum PI-126445 e PI-127826. O zingibereno ocorre exclusivamente no ápice de tricomas glandulares do tipo VI. A presença deste aleloquímico tem sido associada também ao tricoma glandular do tipo IV.

Para o desenvolvimento de variedades resistentes a pragas torna-se necessária a busca alternativa de variabilidade genética. Dessa forma, os bancos de germoplasma são importantes para a obtenção de variabilidade genética em acessos com genes que conferem resistência a pragas. Dentre os diversos bancos de germoplasma que existem no Brasil, destaca-se o Banco de Germoplama de Hortaliças da Universidade Federal de Viçosa (BGH-UFV), em Minas Gerais.

A Universidade Federal de Viçosa, com o apoio da Fundação Rockefeller, criou no ano de 1966 o Banco de Germoplasma de Hortaliças (BGH – UFV), com a finalidade de resgatar espécies nativas ou introduzidas, preservar, documentar e manter intercâmbio de germoplasma entre as diversas regiões do Brasil. Para tanto, os recursos armazenados, mediante coleta ou doação, são caracterizados, avaliados e colocados à disposição da comunidade científica nacional. Atualmente o BGH – UFV possui em seu acervo mais de sete mil acessos de hortaliças que foram coletados em diversas partes do país e também recebidos como doação de mais de 100 países. Dentre esses acessos, 44% correspondem a solanáceas (www.ufv.br/bgh).

Com essa grande variabilidade de acessos, tem-se por objetivo selecionar fontes de resistência à traça-do-tomateiro, determinar o mecanismo e a causa da resistência de acessos de tomateiro a esta praga. Além disso, utilizar os acessos do BGH-UFV com características agronômicas e realizar cruzamento com os resistentes. É nessa linha de pesquisa que atualmente foram obtidos excelentes híbridos como: BGH 2064xBGH1497, BGH 2214xBGH 4309, BGH 2119xBGH 4309, BGH 2119xPII27826, BGH 2214x BGH 4309, Santa Clara xLA 716, Santa Clara x BGH 674 com mecanismos de resistência antixenose e antibiose e causas químicas e morfológicas dessa resistência. Os híbridos BGH 2214xBGH 4309 e Santa Clara x BGH 674 apresentaram menor oviposição dos adultos da traça que a cultivar Santa Clara utilizada como cultivar suscetível a este inseto-praga. O acesso BGH-2214 (S. lycopersicum L.) apresenta teor de sólidos solúveis de 3,57 ºBrix e formato do fruto ligeiramente achatado. A cultivar Santa Clara (S. lycopersicum L.) pertence ao grupo Santa Cruz, produz frutos oblongos bi ou triloculares para consumo in natura, e sua massa fresca média é de 130 gramas/frutos. Já os BGHs 4309 e 674 possuem coloração vermelha e resistência a T. absoluta e o BGH 674, além de conferir resistência estes híbridos, apresentou característica agronômica parcial desejada.

Com isso, o melhoramento do tomateiro com o objetivo de obter resistência a este inseto-praga tem trabalhado com acessos do Banco de Germoplasma contando com espécies silvestres ou não que apresentam potencial de resistência à traça-do-tomateiro. Esse projeto foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e vem sendo ampliado com o avanço para obtenção de uma variedade que tenha resistência à mosca-branca e a outros insetos no tomateiro, todas pragas que têm tirado o “sono” de tomaticultores.

Box – Produção de tomate x pragas

O tomateiro (Solanum lycopersicum Mill.) é uma das mais importantes hortaliças cultivadas no mundo. O Brasil está entre os dez principais países produtores de tomate, com uma produção de 3,6 milhões de toneladas em, aproximadamente, 60 mil hectares colhidos, sendo a região Sudeste responsável por 38,8% dessa produção, destacando-se os estados de São Paulo e Minas Gerais.

Apesar de o tomateiro ser cultivado durante todo o ano, as menores produtividades e os maiores preços são obtidos em cultivos realizados em épocas mais quentes. A variação da produtividade e do preço está diretamente relacionada à ocorrência de insetos-praga que causam grandes perdas e oneram o custo de produção (Picanço et al, 2004).


Este artigo foi publicado na edição 88 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas. Clique aqui para ler a edição.

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