Demanda de água para irrigação pode ser menor no futuro

Trabalho desenvolvido no Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) apontou as demandas futuras de água para irrigação da soja na região noroeste do Rio Grande do Sul

24.03.2016 | 20:59 (UTC -3)

Grandes áreas de instabilidade se espalharam pelo estado nos últimos meses. O volume de chuva superou a média normal em várias regiões, e a percepção de temperaturas mais altas durante o inverno tem aumentado. Ainda que não seja possível afirmar com certeza de que se tratam de mudanças climáticas ou se são apenas aspectos da variabilidade natural, desenvolver estratégias para minimizar os efeitos da alteração do clima é cada vez mais importante.

É o que mostra a tese realizada pela pesquisadora Tirzah Moreira, com orientação do professor José Antônio Louzada, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS (IPH), e com coorientação de Olavo Pedrollo. O estudo intitulado Tendências nos índices extremos e análise sazonal de precipitação e temperatura na região noroeste do Rio Grande do Sul - aumento de temperatura e mudanças climáticas até o fim do século procurou determinar se no futuro serão necessárias maiores ou menores quantidades de água para irrigação em comparação ao período atual. “Muitas razões incentivaram a escolha do tema. Primeiramente, o IPH participou de um grande projeto que abordava as mudanças climáticas, por ter como um de seus objetivos estimar as prováveis vazões futuras nos rios das 12 grandes bacias hidrográficas brasileiras, onde existem empreendimentos hidrelétricos somados aos que já se sabe que serão construídos até 2030”, conta Tirzah.

O trabalho teve como propósito produzir uma investigação para detectar mudanças na temperatura e na precipitação na região noroeste do Rio Grande do Sul. Foi feito por meio de um modelo hidrológico que verifica o balanço de água na interface solo-planta-atmosfera, conhecido como SWAP. As amostragens de solo foram realizadas no município de Pejuçara, e sete locais distintos da região foram considerados. As variáveis do clima utilizadas pelo SWAP foram geradas por modelos climáticos tanto referentes ao período chamado de atual (no estudo, 1961-1990) quanto para o período futuro (2011-2100). Para gerar essas informações, o modelo necessita fazer suposições sobre a composição futura da atmosfera, com base no comportamento das relações entre as atividades humanas e o meio ambiente, como o uso de combustíveis fósseis, os modelos de desenvolvimento econômico e a preocupação ambiental.

A agricultura foi o foco da tese, já que o estado vem registrando crescentes perdas nas safras de grãos: “Calcula-se que metade da produção foi perdida de novembro de 2011 a agosto de 2012, sendo a região noroeste a mais atingida. Olhando para o outro extremo, também se percebe, ao longo da última década, que eventos de chuvas intensas, com consequentes inundações e perdas materiais nas cidades, estão se tornando mais frequentes”, completa Tirzah.

A frequência e a intensidade de eventos extremos de chuva usando diferentes índices de precipitação também foram investigadas. As pesquisas indicaram um aumento de 3°C na média anual até o final do século, bem como um aumento na quantidade de chuva. A partir dessas projeções, apareceram demandas menores de água para irrigação no futuro: “Dessa forma, podem resultar impactos tanto positivos quanto negativos. Positivos se esse aumento de precipitação vier bem distribuído ao longo do ano e puder suprir, sem prejuízos, a necessidade hídrica da soja. E negativos se esse aumento de precipitação ocorrer de forma concentrada, na forma de eventos extremos”, explica a pesquisadora. Tirzah também chama a atenção para outros impactos de alterações no clima sobre a agricultura, como a ocorrência de granizo, vendavais e chuvas muito intensas, que podem destruir as lavouras.

Diante de todos esses desafios, a pesquisa mostra-se fundamental para estimar as demandas futuras de água para irrigação e aperfeiçoá-las: “Estudos como este deixam como perspectiva que, se a produção agrícola deve crescer para sustentar uma população também em crescimento ao longo do século, então há uma necessidade imediata de mitigação dos impactos que poderão derivar de um clima em mudança”, conclui Tirzah.

Artigo científico

Melo, Tirzah Moreira de; Louzada, Jose Antônio; Pedrollo, Olavo. Trends in Extreme Indices and Seasonal Analysis of Precipitation and Temperature in the Northwest Region of Rio Grande do Sul, Brazil. American Journal of Climate Change, v. 4, p. 187-202, 2015

Tese

Título: Simulação estocástica dos impactos das mudanças climáticas sobre as demandas de água para irrigação na região noroeste do Rio Grande do Sul
Autora: Tirzah Moreira de Melo
Orientador:
José Antônio Saldanha Louzada
Unidade: Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental

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