Monitoramento e manejo da broca-do-café

A broca-do-café é responsável por prejuízos graves, além de, indiretamente, favorecer danos à qualidade da bebida por facilitar a penetração de microrganismos como fungos dos gêneros Fusarium e

18.08.2016 | 20:59 (UTC -3)

O ataque da broca-do-café, Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Curculionidae, Scolytinae) causa queda de frutos, redução do peso dos grãos (prejuízo quantitativo) e diminuição da qualidade do café através da alteração no tipo e às vezes da bebida (prejuízo qualitativo). Os danos são causados pelas larvas do inseto, que vivem no interior do fruto de café, atacando geralmente uma só semente, e raramente as duas, para sua alimentação, podendo, portanto, a destruição do fruto ser parcial ou total (Figura 1). Inicialmente os prejuízos são ocasionados pela queda de frutos. Para Coffea arabica L. já foi constatado que a broca aumenta a porcentagem de queda natural de frutos da ordem de 8% a 13% e para Coffea canephora Pierre & Froehner (Conillon) a broca pode ser responsável por uma queda de frutos da ordem de 46%, por ser mais suscetível ao ataque da broca. Os frutos broqueados que permanecem nas plantas sofrem redução de peso, tendo sido já demonstrado experimentalmente, em Minas Gerais, que essas perdas podem chegar a 21% ou 12,6kg por saco de 60kg de café beneficiado (Figura 2). Foi constatado também que a qualidade do café é alterada pelo ataque da broca, passando do tipo 2 ao tipo 7 somente com o aumento da infestação da praga, pois dois a cinco grãos broqueados constituem um defeito. As perdas aumentam durante a operação de descascamento devido à fragilidade que o grão atacado passa a apresentar, sendo quebrado e descartado com a ventilação da máquina de descascar. Os danos provocados pela broca começam quando a infestação atinge 7% a 10% nos frutos da maior florada (Figura 2). A qualidade da bebida do café não é diretamente influenciada pelo ataque da broca, mas sim indiretamente pela facilidade que os danos proporcionam à penetração de microrganismos, como fungos dos gêneros Fusarium e Penicillium, que estão relacionados com a alteração da qualidade da bebida do café.

Monitoramento da broca

Para que o controle seja iniciado em época correta, devem ser efetuadas amostragens periódicas dos frutos (monitoramento da broca), nos diversos talhões da lavoura, começando pelas partes mais baixas e úmidas.

O monitoramento da broca deve ser iniciado na época de “trânsito" do inseto, de novembro a janeiro, aproximadamente três meses após a grande florada (outubro), quando forem observados nas rosetas os primeiros frutos broqueados, e realizado até abril. Nessa época as fêmeas adultas do inseto abandonam os frutos remanescentes da safra anterior (frutos encontrados na entressafra) onde se criaram, voam e perfuram frutos verdes desenvolvidos (chumbões) da safra seguinte (Figura 3), sem ainda colocar ovos logo após perfurá-los, o que fazem aproximadamente 50 dias depois. Entre novembro e janeiro os frutos se apresentam muito aquosos, com mais de 80% de umidade, não sendo ainda um alimento ideal para as larvas do inseto.

Como evitar o ataque da broca

A tática do controle químico muitas vezes é a única disponível para manter a praga abaixo do nível de controle, que é de 3% a 5% de frutos broqueados, se possível naqueles em que a broca ainda não tenha alcançado a semente, onde será morta na entrada da galeria pela ação de contato com o inseticida aplicado, sem ainda ter colocado ovos. Se a porcentagem de frutos broqueados atingir entre 7% e 10% já haverá prejuízos (Figura 1).

Como o ataque não se distribui uniformemente em uma lavoura recomenda-se o controle apenas nos talhões cuja infestação já atingiu mais entre 3% e 5% dos frutos, com fêmeas da broca adulta vivas no interior das galerias, na época do chamado “trânsito" do inseto, que corresponde ao deslocamento da fêmea adulta de um fruto para outro. Portanto, na maioria das vezes, o controle não é feito em toda a lavoura, mas limitando-se a alguns talhões. Geralmente uma só pulverização tem sido suficiente para o controle da broca. Lavouras velhas e fechadas requerem maiores cuidados, pois em tais condições são mais suscetíveis ao ataque da broca, por oferecerem ambiente favorável ao inseto, como sombreamento, maior umidade, maior número de frutos remanescentes do ano anterior etc.

Controle cultural

Constitui-se, talvez, no mais eficiente método de controle da broca-do-café. Os cafezais devem ser plantados em espaçamentos que permitam maior arejamento e penetração de luz a fim de propiciar baixa umidade do ar em seu interior, condições que são desfavoráveis à praga, além de permitir a circulação de pulverizadores acoplados a tratores.

Mais importante ainda é que a colheita do café deve ser muito bem feita, devendo ser evitado que fiquem frutos nas plantas e no chão, em que a broca poderá sobreviver na entressafra (frutos remanescentes), principalmente se for chuvosa. Após a colheita, caso tenham ficado muitos grãos nas plantas e no chão, é recomendável fazer o repasse ou a catação dos frutos remanescentes da colheita. Esse método já praticado nos primórdios da cafeicultura brasileira precisa ser novamente considerado no manejo da broca-do-café, em virtude dos altos custos e da carência de produtos eficientes para o seu controle.

Estudo realizado em cafeeiro da espécie C. canephora cv. Conillon, no Espírito Santo, mostrou, cinco meses após a colheita, que cerca 71,7% dos frutos remanescentes estavam atacados pela broca, o que evidencia a importância da colheita bem feita e do repasse (coleta de frutos que não foram colhidos), principalmente em lavouras não mecanizadas, onde as pulverizações são difíceis de serem realizadas. Em Rondônia, também em Conillon, já foi constatada infestação média de 76,3% nos frutos na entressafra e caídos no solo.

A colheita deve ser sempre iniciada nos talhões que apresentem os cafeeiros mais infestados, a fim de que sejam evitados maiores prejuízos, pois a broca apresenta grande capacidade de reprodução e, em anos de alta infestação, os últimos talhões a serem colhidos apresentarão, sem dúvida, aumento de populações de broca e consequentemente maiores prejuízos.

Controle químico convencional

Na cafeicultura brasileira os maiores espaçamentos, que permitem pulverizações com pulverizadores acoplados a tratores, o controle químico da broca é considerado eficiente e rápido, ao contrário de alguns países produtores que praticam uma cafeicultura adensada e/ou sombreada.

Existem três ingredientes ativos com registro no Brasil para uso em cafeeiro no controle da broca-do-café: [chlorpyrifos-ethyl 480 EC (organofosforado), etofenproxi 100 SC (éter difenílico) e azadiractina 12 EC (tetranortriterpenoide)].

A tática do controle químico muitas vezes é a única disponível para manter a praga abaixo do nível de controle, que é de 3% a 5% de frutos broqueados, se possível ainda naqueles em que a broca não tenha alcançado a semente, onde será morta pela ação de contato com o inseticida aplicado, sem ainda ter colocado ovos.

Como o ataque não se distribui uniformemente em uma lavoura recomenda-se o controle apenas nos talhões cuja infestação já atingiu mais de 3% a 5% dos frutos. Portanto, na maioria das vezes, o controle não é feito em toda a lavoura, mas limitando-se a alguns talhões. Em lavouras irrigadas, o controle químico pode ser necessário na maioria dos talhões.

Pesquisas em andamento

A pesquisa agrícola em cafeicultura no Brasil sempre esteve atenta em buscar novos métodos de controle da broca-do-café, inclusive o químico por achar que ainda é o mais eficiente no controle da praga.

Em levantamento realizado em 30 anos de pesquisa no controle químico da broca no Brasil, entre 1973 e 2003, de 269 tratamentos levantados, cerca de 21% foram feitos com endosulfan, cuja eficiência variou de 70% a 100%, produto já proibido de ser utilizado no controle de qualquer praga no Brasil. Os demais produtos não apresentaram eficiência equivalente ao endosulfan, embora com alguns promissores e que nunca chegaram a ser registrados para uso na cafeicultura devido a problemas ambientais ou custo elevado do controle.

Das diversas moléculas em teste para o controle da broca-do-café, duas têm se destacado nas diversas regiões cafeeiras do Brasil. Uma é o cyantraniliprole 10% OD (Cyazypyr), em fase de registro no Brasil com o nome de Benevia, inseticida do grupo das diamidas antranílicas desenvolvido em vários países pela DuPont e que apresenta novo modo de ação. É uma segunda geração (única ação pela ativação de receptores de rianodina), com um modo de ação semelhante ao chlorantraniliprole (Altacor, Rynaxypyr) outro inseticida já em uso no Brasil e com registro para o controle do bicho-mineiro, Leucoptera coffeella (Guérin-Mènev. & Perrotet, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) em cafeeiro.

Rynaxypyr em mistura com abamectin pode vir a ser registrado pela Syngenta, também no Brasil, para uso no controle da broca, com o nome de Voliam Targo, na formulação suspensão concentrada (SC).

Tanto o Cyazypyr como o Rynaxypyr ativam os receptores de rianodina através de um estímulo para a liberação das reservas de cálcio do retículo sarcoplasmático de células musculares (principalmente para insetos mastigadores), causando má regulação, paralisia e morte de espécies sensíveis. Apresenta ação de profundidade e atua por ingestão e contato, demonstrando boa atividade adulticida, ovi-larvicida e larvicida.

Para ácaros predadores e outros artrópodes benéficos, encontrados naturalmente em cafeeiros no Brasil, Cyazypyr e Rynaxypyr se mostraram seletivos, demonstrando que seu uso em manejo integrado de pragas em cafezais pode ser benéfico.

LEGENDAS DAS FIGURAS


Figura 1 – Corte de fruto de café mostrando a presença de larvas da broca em seu interior (direita) e destruição parcial (uma semente totalmente danificada). Foto: Paulo Rebelles Reis

Figura 2 - Perda de peso de café beneficiado em função da porcentagem de infestação pela broca-do-café. Nível de controle até 5% de frutos broqueados e entre 7% e 10% início do prejuízo. Fonte: Reis et al. (1984); Reis (2002)


Figura 3 – Fêmea da broca-do-café e orifíco (galeria) de penetração na lateral da coroa em fruto de café no estágio verde (chumbão). Foto: Paulo Rebelles Reis


Clique aqui para ler o artigo na edição 178 da Cultivar Grandes Culturas.

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