Diferimento de campo nativo

Artigo mostra as vantagens para o diferimento de campo nativo, com foco na situação vivida no Rio Grande do Sul.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O diferimento é uma ferramenta, muito, importante que o produtor tem para garantir uma maior oferta de forragem para seu gado.

Segundo Araújo (1965) o diferimento consiste em protelar um pastoreio até que haja terminado a maturação das sementes das espécies desejáveis. Finda a disseminação, a pastagem é novamente ocupada pelos animais até a estação de crescimento seguinte, quando são retirados, para permitir a germinação e o estabelecimento de novas plantas, garantindo a renovação e o adensamento do stand.

Conforme Sampson (1952), quando a maioria das forrageiras nativas for destruída, a semeadura artificial constitui o único meio de revegetação da área. Mas, nem sempre a degradação chegou a tal ponto em que todas as boas forrageiras desapareceram. Neste caso, a ressemeadura natural das plantas adaptadas geralmente é menos cara e mais efetiva do que a semeadura de espécies substitutivas. Além disso, pode ser viável em locais onde a semeadura mecânica não é possível, por problemas de declividade, pedregosidade e outros.

Pode-se pensar que deixar o campo vazio seria um sinônimo de improdutividade, porém, quando estudamos, logo percebemos que protelar um piquete é fundamental para potencializar a produção não só do gado, mas também do campo.

Este artigo tem o objetivo de mostrar algumas vantagens sobre o diferimento de campo nativo.

VANTAGENS DO DIFERIMENTO DE CAMPO NATIVO

Um conceito totalmente incompleto sobre diferimento de campo é que ele serve, apenas, para acumular reservas de pasto para uma determinada época do ano, quando, na verdade, isso é uma das inúmeras vantagens que o diferimento nos dá.

Consequências mais impotantes do diferimento de campo nativo:

- Acumulo de pasto

- ganho compensatório

- aumento das comunidades vegetais (melhoras na qualidade de forragem)

- aumento de rizomas e raízes

- acúmulo de substâncias de reserva

- controle parasitário

A região sul do Brasil, especialmente do Rio Grande do Sul sofre com um inverno rigoroso e conta, também, com alguns fenômenos naturais como a geada. O pasto, naturalmente, sente isso e seu crescimento diminui consideravelmente. Um dos objetivos do diferimento é acumular forragem para esse período crítico que é o inverno. Para isso o campo é esvaziado no início de março até o final de maio, o que permite um ganho de volume de pasto. A esse método denominamos diferimento de outono. Esse processo faz com que o gado tenha uma mantença ou, até mesmo, ganhe peso em pleno inverno. Vale ressaltar, que no RS a perda de animais no período de inverno continua a ser de 3% a 5 %, por diversas causas, principalmente por deficiência alimentar.

(BOHRER,2006)

Quando o animal passa por uma carência nutricional em um certo período do ano e, após, recebe uma oferta com maior qualidade, ocorre um fenômeno que denominamos de ganho compensatório. O animal tem uma maior conversão alimentar depois da carência e, consequentemente, um maior ganho de peso. Mas, para que isso ocorra é necessário saber que o gado não poderá perder peso no inverno, e sim ter um ganho de no mínimo 150g por dia. Além disso, a carência não pode ter sido superior a 90 dias. Isso possibilita ao animal um período de compensação em média de 60 dias. A partir daí, o animal passa a apresentar eficiência normal (COSTA, 2006). Com o diferimento de campo nativo é possível fazer com que o gado ganhe 150g ou até mais dependendo do campo. Deve-se enfatizar que, sem ganho ou com perda de peso não existe ganho compensatório total.

Os nossos campos nativos são considerados especiais, uma vez que apresentam um número muito grande de gramíneas e leguminosas (aproximadamente 800 e 200 espécies respectivamente). Com o diferimento as gramíneas conseguem sementar (ressemeadura natural), aumentando a presença e a contribuição das espécies desejáveis na composição botânica. O diferimento em distintas épocas do ano favorece a manifestação das distintas espécies (SILVA 2005).

O diferimento vai além do que podemos enxergar, ou seja, na parte interna do solo, provocando um aumento de raízes e rizomas. Estas tem a capacidade de armazenar nitrogênio consigo; aquela, não deixa o solo se compactar o que, por sua vez, influencia na qualidade da drenagem e evita erosões. O nitrogênio é importante para o crescimento da planta.

O diferimento possibilita às plantas perenes, um período de descanso que permite acúmulo de substâncias de reserva, pois a planta, ao crescer sem o estresse do pastejo, aumenta sua área foliar e com isso consegue absorver mais carbono atmosférico do que o necessário para o crescimento atual. Este excesso de carbono fixado por meio da fotossíntese é então armazenado em órgãos mais permanente das plantas para utilização posterior. Estas reservas é que são utilizadas para garantir a persistência da planta. Por exemplo, isto se dá no inverno ou durante condições desfavoráveis como uma deficiência hídrica prolongada, quando não há área foliar para efetuar a fotossíntese, mas a planta necessita carbono para respirar, mantendo assim suas funções mínimas. Por esta razão, as reservas têm pronunciado efeito na persistência de plantas perenes, além, é claro, de contribuírem também no vigor de rebrota, sobretudo, ao final do período desfavorável (primavera ou fim da seca), ou ainda, após uma utilização excessiva que deixe a planta completamente desfolhada(NABINGER).

O controle parasitário é uma consequência do diferimento, uma vez que 5% dos vermes encontram-se dentro do animal(endoparasitas) e 95%, no campo (NETO,2005). Esses parasitas têm que se hospedar em algum animal para sobreviver e dar continuidade ao seu ciclo de vida. Pode-se pegar o exemplo do carrapato(ectoparasita) que tem um ciclo de 21 dias no animal e, logo cai ao pasto para desovar. Esses novos carrapatos necessitam de um animal para sobreviver (MARTINS), porém, se usarmos o diferimnto, algumas larvas acabarão morrendo, e por conseguinte, a infestação diminui.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É necessário que o produtor tenha consciência de que o descanso dos piquetes ou, até mesmo, um ajuste de carga animal são técnicas muito importantes para o campo, e que uma lotação alta é sinônimo de prejuízos.

O campo nativo não é cuidado, uma vez que há décadas só extraímos seus nutrientes e não pensamos que um dia esse campo vai enfraquecer até que fique inviável para a pecuária extensiva. Então, uma adubação, um diferimento, uma roçada estratégica são técnicas sempre bem vindas.

CRUXEN, Claudio Eduardo dos Santos

Estudante de Tecnologia em Agropecuária: Agroindústria pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – Sant’Ana do Livramento. E-mail:

RAMOS, Clovis Balbino

Eng. Agrônomo formado pela Universidade Federal de Santa Maria

CREA: 58045

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SILVA, Paulo Henrique; Manejo e melhoraento de campo nativo bovinos de corte; Porto Alegre: 2005. p. 7 - 20

MARTINS. J.R. “Carrapato Bovino” Disponível em: <

> último acesso em: 16 de maio 2009

COSTA, Eduardo Castro; Desmame e recria bovinos de corte; Porto Alegre: 2006. p. 36 - 7

BOHRER, Orlando Luiz Maciel; Suplementação e confinamento bovinos de corte; Porto Alegre: 2006. p. 5

NABINGER, Carlos; “Manejo e Melhoramento de Campo Nativo” (No prelo) p. 17 - 8

NETO, O.A.P, Manejo de Ovinos. Porto Alegre: 2005. p.74

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