Doenças do trigo sob controle

Com o manejo adequado, pode-se evitar os prejuízos causados pelo ataque de patógenos em trigo, como oídio, giberela, ferrugem da folha.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Antes de enfocarmos o controle dos patógenos necrotróficos, é importante salientar que esse tipo de fungo possui a habilidade de nutrir-se de tecidos mortos (habilidade saprofítica). Podem penetrar no tecido verde da planta, no entanto, secretam toxinas que matam pequenas áreas das folhas (manchas), que podem coalescer, tomando conta de toda a folha. Esses fungos, desenvolvem-se mesmo após a morte do hospedeiro.

O aumento da intensidade desses fungos em uma lavoura está diretamente condicionado ao uso de sementes infectadas à monocultura e ao plantio direto.

A maioria dos fungos necrotróficos sobrevive na semente, muitas vezes na forma de micélio dormente e, outras vezes, infestando-as. A semente é importante fonte de inóculo em áreas onde não se cultivava trigo ou em áreas onde se pratica a rotação de culturas (evitar a reintrodução). O tratamento de sementes é, portanto, medida de extrema importância para diminuir a incidência de fungos necrotróficos na lavoura de trigo.

Preferencialmente, deve-se tratar os lotes de semente que apresentem baixo índice de infecção. Nesses, o controle é mais efetivo, podendo chegar à erradicação ou próximo a ela. Sementes com elevada infecção de Bipolaris sorokiniana, como ocorre em alguns lotes (98 % a 100 %) por exemplo, devem ser descartadas, pois os fungicidas atualmente recomendados (Tabela -

), não eliminam o fungo com índice de infecção superior a 30 % (Reunião... 1999).

A determinação do momento de controle das manchas foliares na parte aérea deve ser feita por um dos seguintes critérios: a) a partir do estádio de elongação, quando a incidência (% de folhas com no mínimo uma lesão de 2 mm de comprimento) for de 70 % a 80 %. b) pelo uso do LDE (limiar de dano econômico), cuja função de dano é R = 100 – 0,635 I. Os fungicidas deverão ser reaplicados sempre que esse nível de infecção for novamente alcançado.

Exemplo: Para a ferrugem da folha em cultivares suscetíveis, toma-se a função de dano (R = 100 – 0,608 I). O dano causado é de 0,608 kg para cada 100 kg de rendimento de grãos. Sabendo-se o rendimento médio ou o potencial de rendimento esperado, como por exemplo 2.700 kg/ha, através de uma regra de três, onde 100 está para 0,608 e 2.700 está para X, obtêm-se X = 16,416 kg/ha ou CD = 0,016416 ton.

Substituindo-se os valores na fórmula têm-se: ID = 30.0/ (105 x 0,8 x 0,016416) = 21,76 I ð LDE = 21,76 %

Quando a incidência da ferrugem for 21,76 %, tem-se uma perda de US$ 30.0 que é o custo do produto + o custo da aplicação. O controle deve ser realizado antes de atingir o LDE (5 % a menos, ou seja LDE entre 17 % e 22 %). O mesmo procedimento deverá ser adotado para as outras doenças.

Controle da giberela do trigo

A giberela do trigo (

) é uma doença que ataca a planta de trigo especialmente naquelas regiões onde, por ocasião da floração, (antese), as condições climáticas são de temperatura alta (20 ºC a 25 ºC), e precipitação pluvial de, no mínimo, 48 horas consecutivas. Maiores informações a respeito das condições prevalecentes para a doença podem ser obtidas no trabalho de Reis (1988). As perdas relatadas com a doença variam em função da suscetibilidade da cultivar e das condições climáticas ocorrentes no ano, principalmente na fase crítica (floração). Reis, (1991), durante seis anos na Embrapa Trigo, determinou uma perda de rendimento de grãos de 14,0 %. Picinini & Fernandes (1994 e 1997), em ensaios na mesma instituição com as cultivares BR 43 e BR 37, determinaram perdas de rendimento de grãos de 54 % e 35 %, respectivamente. O melhor controle (90 %) da doença, nesses dois experimentos, foi obtido pelo fungicida tebuconazole, na dose de 125 g i.a./ha, aplicado na floração plena. Neto & Giordani, (1987), em experimentos realizados na Fundacep, em Cruz Alta, RS, relataram perdas de até 44,09 % na produtividade de trigo, cultivar CEP 11. Nesses experimentos, o melhor controle (82 %) foi obtido com a mistura propiconazole 125 g i.a./ha + procloraz 450 g i.a./ha.

Atualmente, os fungicidas recomendados pela pesquisa para o controle dessa doença, são apresentados na Tabela e maiores informações sobre os fungicidas testados e suas eficiências no controle de

em trigo, podem ser obtidas nos trabalhos de Neto & Giordani, (1987), Reis, (1990), Picinini & Fernandes, (1991, 1992, 1994, 1995 e 1997).

De uma maneira geral tem se observado nas condições brasileiras que, os agricultores que praticam um sistema de rotação de culturas eficiente, e, que por isso consigam eliminar a maior parte dos fungos necrotróficos que sobrevivem na palha das culturas de trigo, de cevada ou de triticale realizam apenas uma aplicação de fungicidas durante o ciclo das culturas. Quando esse fato não ocorre, e o ano for extremamente favorável à ocorrência de doenças (primaveras quentes e chuvosas), são necessárias duas ou, às vezes, três aplicações de fungicidas, onerando grandemente o custo de produção.

Técnicas de aplicação de fungicidas

O sucesso de um programa de tratamento fitossanitário depende de uma série de fatores, muitos deles inerentes à aplicação de fungicidas em si, como por exemplo: a escolha da cultivar, a adubação equilibrada, a densidade de semeadura e a cobertura de nitrogênio. O controle fitossanitário é ferramente importante para a minimização das perdas pelas doenças. Para obter-se sucesso no uso do controle químico, deve-se usar produtos com eficiência comprovada, e aplicá-los quando as condições meteorológicas e biológicas forem favoráveis. Quatro são os pontos a considerar para o sucesso de uma aplicação de fungicidas: timing, cobertura, dose correta, segurança.

Timing: É o momento ideal para a aplicação do fungicida. As recomendações oficiais normalmente preconizam o controle quando:

Perdas = custo do produto + custo da aplicação

Cobertura: O melhor efeito biológico é obtido quando o equipamento é bem ajustado, proporcionando cobertura mínima e uniforme do alvo. Nas tabelas 3 e 4 é mostrada a classificação das gotas de acordo com o seu diâmetro e a densidade das gotas (número de gotas/cm2) ideais para uma boa pulverização com fungicidas.

Dose: A eficácia de um produto é diretamente proporcional à sua dose.

Lembrar sempre que:

Sub dose: < custo < persistência < controle

Dose excessiva: > custo > fitotoxicidade

Segurança: Durante a aplicação, todos os cuidados devem ser tomados para que não haja contaminação do operador (use sempre EPIs), dos mananciais, da flora e da fauna.

Maiores informações sobre a técnica de aplicação de fungicidas podem ser obtidas nas publicações de Veloso et al., (1984) e de Oseki & Kuns (sd).

Monitoramento das doenças

O sistema de auxílio à tomada de decisão no controle de doenças de trigo vem sendo desenvolvido pela Embrapa Trigo com objetivo de orientar os técnicos e os agricultores sobre o potencial de dano que as doenças podem causar no rendimento da cultura. O sistema usa dados referentes às características de solo e de clima para estimar a produção de trigo na presença e na ausência de doenças. A época de plantio, a cultivar usada e o momento do aparecimento dos primeiros sintomas da doença são fatores importantes levados em consideração pelo sistema.

Para usar o programa é preciso entrar com algumas informações sobre a lavoura de trigo como por exemplo: a cultivar utilizada, a estação climática de referência, o tipo de solo, a data de plantio e a data de aparecimento dos primeiros sintomas das doenças. No momento, a população de plantas na lavoura e a quantidade de nitrogênio são consideradas fixas pelo programa.

O sistema consiste basicamente no emprego de um modelo de simulação que prediz o crescimento diário da cultura de trigo, inclusive os estádios fenológicos. Um modelo de epidemias de doenças foi acoplado ao simulador de crescimento de trigo, de modo a estimar o impacto que as doenças causam na planta de trigo ao eliminar área foliar fotossinteticamente ativa.

Para fazer as estimativas dos efeitos da(s) doença(s) no rendimento de trigo, o programa realiza grande quantidade de cálculos matemáticos usando a informação fornecida pelo usuário. Estudos de casos que piorem ou melhorem o cenário podem ser realizados usando-se a série de clima histórico presente para cada uma das estações climáticas de referência, ou seja, a que fique mais perto do usuário. O programa também pode ser alimentado com os dados climáticos atualizados até a data da simulação e com dados climáticos obtidos através de previsões meteorológicas para o período que resta até completar o ciclo da cultura de trigo.

Os resultados obtidos através da simulação podem ser visualizados por meio de gráficos ou em formato de planilha.

Maiores informações sobre o SSTD podem ser obtidas pela consulta à Revista Cultivar nº 15/2000 ou pelo acesso à internet, no site da Embrapa Trigo:

pragas e doenças/software para simulação

A perda relativa estimada pelo sistema quando compara o rendimento de trigo na ausência e na presença de doença(s) traduz o potencial de dano econômico esperado. A decisão do uso de fungicidas para reduzir o impacto das doenças sobre a produção vai depender principalmente do preço de trigo e da produção esperada na lavoura que está sendo acompanhada.

Este programa foi desenvolvido em ação conjunta da Universidade de Guelph (Canadá), Universidade da Flórida (EUA), SAS Brasil e Embrapa Trigo de Passo Fundo, RS.

Edson Clodoveu Picinini e José Maurício Cunha Fernandes

Embrapa Trigo

* Confira este artigo, com fotos e tabelas, em formato PDF. Basta clicar no link abaixo:

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