Estufa na prática

A construção de estufas, depois da definição do que se vai cultivar, exige a adoção de critérios básicos considerando aspectos econômicos e técnicos para erguer a estrutura que vai abrig

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Conheço poucos empresários agrícolas que planejam a construção ou aquisição de uma estrutura de cultivo protegido. Para aquisição de uma casa própria, um carro ou trator as pessoas adotam critérios, objetivos ou não. No caso de estufas não usam critério algum. Caso adotem, como explicar o uso de estruturas que, em pleno clima tropical, atingem temperaturas de 40ºC, 45ºC e até 50ºC, dignos de desertos? Precisamos definir, desde o início, se queremos cultivar flores, hortaliças ou cactos. E antes ainda, mudar a própria percepção de seu negócio e considerar sua atividade ou sítio como uma empresa. Por isso, passo a tratar o produtor rural como empresário agrícola.

O projeto de uma estufa deve considerar aspectos econômicos e técnicos. Dentre as questões econômicas ressalta-se a falta hábito para calcular a depreciação das estruturas. As metálicas geralmente ficam entre 15 ou 20 anos, confrontadas com cinco ou sete anos das de madeira. Com relação aos parâmetros técnicos, o empresário rural deve ter muita clareza quanto às suas necessidades, ou melhor, necessidades das plantas que deseja cultivar. E deve recorrer, se possível, a técnicos com comprovada experiência consultar o histórico das empresas ou profissionais.

Toda estrutura da estufa e de apoio à atividade hortícola deve resultar de um projeto específico para o local em que vai ser construída. Para a escolha do local, a primeira medida é atestar a sanidade do solo em questão, visando evitar problemas com nematóides e outros patógenos, pragas ou plantas daninhas que podem comprometer a atividade agrícola. Tal medida é obrigatória uma vez que a estufa, é fixa. Feito isto devemos considerar aspectos quanto à localização, tais como topografia, latitude, altitude e orientação quanto à insolação.

Antes porém chama-se a atenção para o fato de que dificilmente conseguiremos atender a todas as condições consideradas ideais. A decisão da escolha do local mais adequado deve ser tomada com bom senso. A localização da estufa em função da topografia vai ser determinante quanto à necessidade de se realizar uma terraplanagem prévia. No caso de instalações hidropônicas ou cultivo com substratos, tal necessidade visa a adequar o sistema de distribuição e drenagem da fertiirrigação ou da solução nutritiva, facilitando a operacionalização de todo o sistema hidráulico. Neste caso recomenda-se uma declividade de 2 a 3%. Já para o cultivo no solo a mesma declividade pode ser adotada mas sua recomendação visa somente facilitar a drenagem do excesso de água, quer seja de irrigação no interior da estufa ou das chuvas externamente. Em terrenos de maiores declividades (até 15%) as estufas podem ser construídas, mas deve-se ter consciência da necessidade das alterações estruturais e dificuldades operacionais.

Altitude e latitude devem ser levadas em consideração em função de sua importância com relação ao clima e microclima. O conhecimento prévio das condições climáticas é obtido junto aos orgãos competentes que mantêm postos meteorológicos em todo o país. A obtenção de séries climáticas normalmente não integra os projetos de estufas construídas no Brasil. Mas por negligenciar este aspecto ou relegá-lo a segundo plano, muitos erros de projeto, problemas de manejo e prejuízos comerciais, têm ocorrido. Os problemas mais comuns são o excesso de calor no interior da estufa e a danificação parcial ou total dos plásticos de cobertura e da própria estrutura metálica subdimensionada devido à incidência de ventos mais intensos. Vale lembrar que dificilmente uma empresa nacional dá garantias de suas estufas quanto a ocorrências de ordem climática.

O correto levantamento das informações climáticas, aliado ao conhecimento das condições de desenvolvimento da espécie que se pretende cultivar (temperatura, umidade, luminosidade, concentração de CO2 e nutrição) em ambiente protegido vão permitir a otimização dos benefícios que esta ferramenta chamada estufa pode trazer. Para que se tenha ciência da importância disto, ressaltamos que profissionais habilitados como engenheiros agrícolas ou engenheiros agrônomos são aptos a dimensionar com precisão de 0,5ºC nos projetos de estufas as temperaturas incidentes em seu interior ao longo do ano.

Na região Sul do país ou em climas de altitude (regiões serranas), principalmente, o acúmulo de calor viabiliza a produção fora de época (no inverno principalmente), além de abreviar o ciclo da cultura. Nestas condições devemos orientar a estufa, com a sua maior dimensão (comprimento), alinhada com o eixo Norte-Sul da rosa dos ventos de maneira a receber a máxima carga de radiação solar. Nas demais regiões, o excesso de calor e as altas temperaturas alcançadas no interior da estufa farão com que a planta cesse a atividade fotossintética nessas condições. Por isso recomenda-se o posicionamento ao longo do eixo Leste-Oeste da rosa dos ventos, situação que reduz a incidência de radiação em mais de 20%.

Também o vento local deve ser considerado para que se utilizem seus efeitos benéficos na retirada do excesso de calor das estufas. Os aspectos de proteção contra ventos fortes devem ser observados com cuidado, principalmente no que se refere à distância mínima do quebra-vento até a estufa. Esta deve ser de 10 metros e sua altura deve superar a parte superior da cumeeira da estufa em 1,5 metros.

Outro fator de máxima importância é a água. Esta deve ser previamente analisada quanto à sua qualidade (físico-química e biológica) e mensurada quanto à sua disponibilidade.

Com relação à arquitetura da estufa, devemos ter em mente sua funcionalidade e praticidade para o controle do seu ambiente interno e à manutenção da estrutura como um todo. Estufas em arco podem facilitar a colocação do plástico mas, em compensação, apresentam o inconveniente de causarem o acúmulo de ar quente e dificultar a instalação de janelas zenitais (no telhado). Por isso sua construção deve restringir-se a culturas de porte baixo que não interferem na movimentação do ar com o uso das janelas laterais. A construção de estufas com telhado em duas águas facilita a instalação de janelas zenitais ou lanternins e permite melhor manejo do ambiente

Estruturalmente, a estufa deve ser dimensionada para suportar:

• carga permante (estrutura e cobertura plástica) e vertical.

• carga de equipamentos (presentes ou de instalação futura) - sistemas de irrigação, ventiladores, etc.

• carga de vento. Note-se que o principal efeito do vento é exercido no perímetro da estufa, exigindo reforços estruturais para suportar sua carga.

• carga da cultura. Para suporte de plantas em vasos, isto pode representar até 1000 N·m-2 ou, em tomateiro tutorado, 150 N·m-2

Dentre os materiais estruturais disponíveis para a construção de estufas temos ferro galvanizado, madeira, bambu, concreto e até plástico rígido. Cada um deles vai apresentar características técnicas e econômicas. No entanto, na questão econômica não podemos nos restringir a uma análise imediatista. Devemos ponderar a relação custo-benefício de cada um ao longo do tempo. Neste quesito normalmente uma estrutura de ferro galvanizado, apesar de seu custo elevado por m2, leva vantagem quando considerado a baixa manutenção e o longo período de vida útil.

Dentro de uma estufa podemos alterar a quantidade e a qualidade da luz incidente sobre as plantas. Isto é possível com a utilização apropriada dos materiais de cobertura de estufas de modo a atuarem como verdadeiros filtros de radiação e de luz. A escolha adequada de plásticos, telas de sombreamento e telas reflexivas requer conhecimento das características e funções de cada um.

Atualmente a oferta no mercado de materiais de cobertura produzidos no país e importados tende a beneficiar o usuário, não só pelo aspecto econômico mas também técnico.

Um dos erros mais freqüentes tem sido a utilização inadequada das telas de sombreamento, principalmente as de coloração preta, para redução da temperatura e fechamento lateral de estufas. Quando usada no interior das estufas, sua coloração escura vai provocar aumento indesejado da temperatura por ser um acumulador de energia e, portanto, de calor. A sua fixação na lateral da estufa para impedir a passagem dos insetos é limitada pelo tamanho da trama da tela e mais uma vez provoca acúmulo de calor devido à sua coloração, além de impedir uma ventilação mais adequada. Nestas situações, o uso de telas reflexivas, telas de coloração clara e uso de janelas escamoteáveis devem ser considerados.

Existem no mercado telas de diversas colorações (azul, amarela, vermelha, etc..) que alteram o comportamento fisiológico e, conseqüentemente, o desenvolvimento das plantas.

Na cobertura da estufa, além dos tradicionais filmes plásticos transparentes de polietileno, estão disponíveis filmes térmicos coextrudados (multicamadas), recomendados para regiões de maior exigência de retenção de calor, filme difusor de luz recomendado para culturas de porte alto que provocam auto-sombreamento, como tomate, pepino, etc., e filmes coloridos, como o vermelho (próprio para cultivo de rosas e gérberas), que aumenta a taxa fotossintética das plantas, ou o azul, que possui ação inibidora na entrada de insetos vetores de viroses ou do desenvolvimento de fungos (botrytis e

).

Na prática, o uso do plástico requer ainda atenção com aspectos como a fixação do material de cobertura sobre a estrutura de tal forma que não haja contato direto, evitando sua deterioração. O recurso da pintura ou do uso de plásticos velhos “encapando” a estrutura pode ser usado, mas deve ser substituído por perfis de design próprio para evitar o apoio do plástico. Outro detalhe é prever a utilização correta do plástico anti-gotejo (evita que a água condensada no interior da estufa pingue sobre as plantas trazendo problemas fitossanitários) segundo exigência da cultura e em estufa projetada para escoar a água.

O correto tensionamento do plástico deve mantê-lo firme para que não vibre com o vento e tenha a menor movimentação possível com relação a dilatação e contração devido à variação de temperatura ambiente.

O controle do ambiente de um cultivo protegido implica na utilização de instrumentos de medição das condições internas e externas. Nos países desenvolvidos isto normalmente é feito por uma mini estação meteorológica instalada nas casas de vegetação, equipadas com sensores (umidostatos, termostatos, etc.) que permitem a ligação direta com um computador. Isto é normalmente feito para medir e coletar dados de:

• temperatura;

• umidade relativa;

• CO2.

Do ambiente externo:

• temperatura;

• velocidade e direção do vento;

• radiação (luz);

• precipitação.

Quando da aquisição de estufas ou contratação de serviços para instalação de estruturas de cultivo protegido, devem ser adotadas uma série de cuidados por parte dos empresários. Em primeiro lugar exigir o projeto assinado por profissional responsável, registrado no CREA. Depois, solicitar termo de garantia e nota fiscal no valor integral. Em anos recentes a quebra ou queda de estufas têm causado prejuízos consideráveis em diversas regiões do país.

Unicamp

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