Evolução da distribuição de tratores nos diferentes tipos de propriedades

A distribuição de tratores aconteceu de forma irregular quando analisados os diferentes tipos de propriedades. Conhecer essa evolução pode dar pistas para sustentar o crescimento e as vendas de máquinas

20.04.2016 | 20:59 (UTC -3)

Seja pelos ganhos que oferecem para aumentar a produtividade do trabalho, seja pela contribuição para a redução da penosidade na execução das tarefas agropecuárias, qualidades ainda mais importantes nos dias atuais marcados pela escassez de mão de obra no campo, o uso de tratores constitui-se em elemento-chave para discutir a evolução e as perspectivas para o futuro da agricultura.

Uma das características do avanço no uso de tratores na agricultura brasileira é que esse não ocorreu de modo uniforme quando são analisadas variáveis relacionadas aos diferentes tipos e tamanhos dos estabelecimentos agropecuários. No estado do Paraná, essa história não foi diferente, de tal forma que é conveniente examinar um pouco dessa trajetória para se pensar melhor sobre o seu futuro.

Em 1970, por exemplo, a cada 100 estabelecimentos rurais que eram visitados no Paraná, em menos de três deles eram encontrados tratores. Esse número aumentou em 6,1 vezes entre 1970 e 2006, possibilitando que no mesmo período fosse reduzida de 253,4ha para 56,3ha a relação das áreas de lavouras temporárias e permanentes existentes por trator. Entretanto, deve-se destacar que no período 1995/96 a 2006 houve, pela primeira vez desde 1970, uma diminuição do número de tratores, os quais em 2006 poderiam ser encontrados em pouco mais de ⅕ dos estabelecimentos. Por outro lado, este último período apresenta um salto na potência de trabalho da frota, com os tratores com 100 ou mais cavalos alcançando quase 30% do total.

Tabela 1 - Evolução do número de tratores, da relação área com lavouras temporárias e permanentes por trator, do número de estabelecimentos agropecuários com tratores e da potência dos tratores. Paraná. 1970 – 2006

ANO

1970

1975

1980

1985

1995/96

2006

No de tratores

18619

52498

81727

101346

121827

113718

Área lavouras

Total (em milhões de ha)

por/trator (ha)

4,719

253,4

5,628

107,2

6,085

74,5

6,063

59,8

5,101

41,9

6,398

56,3

Estabelecimentos

total (no)

com trator/es (no) 1

com trator/es (%)

554488

14278 2,6

478453

36406

7,6

454103

55864

12,3

466397

68660

14,7

369875

81487

22,0

371063

76233

20,5

Potência dos tratores

<100cv>

≥100cv (%)

97,4

2,6

91,1

8,9

88,8

11,2

91,4

8,6

87,9

12,1

70,3

29,7

ANO

1970

1975

1980

1985

1995/96

2006

No de tratores

18619

52498

81727

101346

121827

113718

Área lavouras

Total (em milhões de ha)

por/trator (ha)

4,719

253,4

5,628

107,2

6,085

74,5

6,063

59,8

5,101

41,9

6,398

56,3

Estabelecimentos

total (no)

com trator/es (no) 1

com trator/es (%)

554488

14278 2,6

478453

36406

7,6

454103

55864

12,3

466397

68660

14,7

369875

81487

22,0

371063

76233

20,5

Potência dos tratores

<100cv>

≥100cv (%)

97,4

2,6

91,1

8,9

88,8

11,2

91,4

8,6

87,9

12,1

70,3

29,7

1Um mesmo estabelecimento pode contabilizar mais de um trator em diferentes intervalos de potência.

Fonte: elaborado pelos autores a partir de dados dos Censos Agropecuários do IBGE.

Quando considerada a área total dos estabelecimentos com trator, se observava em 2006 que na agricultura paranaense ¼ dos tratores concentrava-se nos estabelecimentos entre 20ha e 50ha, os quais correspondiam a 18% do total. De modo natural em função da escala de trabalho e de questões de ordem econômica, os estabelecimentos com menos de 10ha, amplamente majoritários - correspondendo a 45% do total, possuíam somente 12% dos tratores, ao passo que as unidades com área total igual ou superior a 100ha respondem por ⅓ da frota, mesmo não alcançando 10% do total de estabelecimentos.

GRÁFICO 1 - Participação relativa dos estabelecimentos agropecuários e do número de tratores nos grupos de área total e grupos de área de lavouras. Paraná (2006), em %


Fonte: elaborado pelos autores a partir de dados do Censo Agropecuário 2006 do IBGE.

De modo semelhante, se observa ainda que os estabelecimentos dos grupos de área de lavouras superiores a 50ha, mesmo não alcançando 6% do total, somavam ⅓ da frota, seguidos pelas unidades do grupo de áreas de lavouras entre 20ha e 50ha, nas quais se encontravam 20% dos tratores existentes. O grupo de até 10ha de área de lavouras somava 56% dos estabelecimentos mas detinha somente ¼ dos tratores.

Quanto à atividade econômica predominante dos proprietários de tratores, o Censo Agropecuário de 2006 indicava que os estabelecimentos que possuíam nas lavouras temporárias a sua principal atividade econômica, os quais correspondiam a 45% do total, concentravam 64% dos tratores, sendo que outros 26% dos mesmos distribuíam-se nos 41% dos estabelecimentos dedicados principalmente à pecuária e à criação de outros animais.

A continuidade da análise permite observar um conjunto de outras características quando se consideram os tipos de agricultores presentes na agricultura do Paraná, analisados aqui segundo critérios definidos em projeto da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (FAO/Incra).

A primeira delas diz respeito aos dois grandes grupos analisados, quais sejam os agricultores familiares e patronais. Cabe aos primeiros 63% dos tratores e 74% dos estabelecimentos com tratores, mesmo que tendo correspondido no ano de 2006 a 87% do total de estabelecimentos agropecuários do estado.

Quando se consideram os subtipos no interior desse grupo, definidos conforme a remuneração pelo custo de oportunidade da mão de obra familiar, remuneração essa decrescente dos subtipos A ao D, constata-se que os agricultores de menor remuneração, os quais tendo correspondido a 42% dos estabelecimentos, perfaziam o mais representativo de todos os subtipos da agropecuária do estado, possuíam somente 20% do total de tratores.

Por outro lado, os estabelecimentos patronais que perfaziam 12% do total somavam 36% dos tratores, com destaque ao seu subtipo 2, no qual o produtor conduz diretamente a atividade, mas contando com mais mão de obra contratada do que familiar. Nesse subtipo, se concentrava a maior fatia relativa da frota entre todos os subtipos, 24% dos tratores, mesmo que correspondendo a somente 7% do total de estabelecimentos.

GRÁFICO 2 - Participação relativa dos tipos familiar (FAM) e patronal (PATR.) e subtipos de agricultores no total de estabelecimentos agropecuários, nos estabelecimentos agropecuários com trator e no número de tratores existentes. Paraná (2006), em %


Fonte: elaborado pelos autores a partir de dados do Censo Agropecuário 2006 do IBGE

Entretanto, deve-se considerar que essa condição observada em 2006 passou por uma rápida e intensa transformação. Apoiada em programas de âmbito nacional como o Moderfrota e, mais recentemente, o Pronaf Mais Alimentos, e também de caráter estadual como o Trator Solidário, esses dois últimos possivelmente atenuando as distorções apontadas no tocante aos agricultores familiares; a frota paranaense incorporou um volume significativo de novos tratores, tendo as vendas no atacado realizadas no estado entre 2007 e 2013 somado 47.788 unidades, correspondentes a 42% da frota apurada em 2006.

Em conclusão pode-se afirmar que no período 1995/96–2006 a frota paranaense de tratores reduziu-se em 6,7%. Naquele ano se observava uma série de distorções na distribuição da frota quanto aos grupos de área total, área de lavouras e, sobretudo, entre os diferentes tipos de agricultores do estado. Tomando em consideração os aspectos de economicidade, escala, acesso aos serviços terceirizados ou, ainda, a possibilidade de que tal situação tenha sido atenuada nos anos seguintes, condição que poderemos verificar no recenseamento agropecuário previsto para 2015, parece ser fundamental a manutenção dos programas existentes, além da criação de novas alternativas para ampliar o uso de tratores, cuja disponibilidade estava restrita em 2006 a somente 20,5% dos estabelecimentos paranaenses.

Em conclusão pode-se afirmar que uma análise retrospectiva aponta uma série de distorções na distribuição da frota paranaense quanto aos grupos de área total, área de lavouras e, sobretudo, entre os diferentes tipos de agricultores do estado. Contudo, considerando a evolução das vendas nos últimos sete anos, acredita-se que tal situação esteja sendo atenuada, fato que poderá ser confirmado no recenseamento agropecuário previsto para 2015.

Os dados mostram também que, sem deixar de levar em consideração os aspectos de economicidade, escala, e a disponibilidade de serviços terceirizados ou associativos, é fundamental a manutenção dos programas existentes, além da criação de novas alternativas para ampliar o uso de tratores nos estabelecimentos agropecuários paranaenses.

Tal proposição se justifica não somente pela necessidade de garantir uma maior autonomia, eficiência e eficácia aos produtores na condução de suas atividades, mas também pela perspectiva de redução da penosidade do trabalho, condição importante para tornar as atividades agropecuárias mais atraentes aos jovens, ampliando assim a possibilidade de êxito dos processos de sucessão nas unidades produtivas, notadamente naquelas de caráter familiar. Para tanto, é desejável também que as empresas do setor considerem cada vez mais as características dos estabelecimentos rurais e dos agricultores na definição de suas estratégias mercadológicas.

GRÁFICO 3 - Vendas internas de tratores de rodas no atacado. Paraná (2007 – 2013)


Fonte: elaborado pelos autores a partir de dados da Anfavea.

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