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Lagarta-dos-cafezais (Eacles imperialis magnifica) começa a causar prejuízos no Brasil; seu controle é fácil e eficiente.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A lagarta da espécie de mariposa

Walker, 1856, ordem Lepidoptera, família Saturniidae, é conhecida vulgarmente como lagarta-dos-cafezais. Apesar de muito comum em cafeeiros de todas as regiões do Brasil, na maioria das vezes, não se constitui em praga, a não ser em casos de desequilíbrio biológico provocado pelo uso indiscriminado de produtos fitossanitários ou devido às condições climáticas. É considerada praga cíclica, porém seu ataque aos cafezais vem se acentuando nos últimos anos. Atualmente, essa espécie de lagarta, vem causando danos aos cafezais do cultivar Conilon (Coffea canephora Pierre et Froenher), no município de Cacoal, estado de Rondônia.

Além do cafeeiro pode atacar também abacateiro, goiabeira, plátano, amendoeira-da-praia, amoreira, araçazeiro, aroeira, cajueiro, cedro, jaqueira, macieira, mamoneira, milho, pau-ferro, pereira, roseira, sarandi, tamarindeiro etc., sendo que nesses outros hospedeiros o ataque não é muito comum.

As lagartas dessa espécie são grandes, medindo cerca de 10 a 12 cm de comprimento por até 2 cm de diâmetro, e apresentam coloração variável entre o verde, o alaranjado e o marrom. Ao longo de todo o corpo apresentam pubescência e fios brancos, e no dorso do segundo e terceiro segmentos torácicos apresentam tubérculos e um processo dorsal no décimo segundo segmento do corpo. Não são urticantes, ao contrário de outras lagartas que também atacam cafeeiros, porém, devido ao seu grande tamanho e instinto de levantar a parte anterior do corpo, impõe medo aos trabalhadores nas lavouras de café. O inseto no estado de adulto é uma mariposa também considerada grande, de coloração amarela e pontos escuros nas asas, mais numerosos nos machos. Além das pontuações, apresentam também nas asas, anteriores e posteriores, uma faixa de coloração violáceo-escura. As fêmeas são maiores, menos manchadas que os machos, e podem apresentar até 13,5 cm de envergadura (medida tomada da ponta de uma asa à outra quando abertas) sendo que os machos possuem cerca de 10 cm de envergadura.

O acasalamento ocorre nas primeiras 12 a 24 horas de vida dos machos, que morrem após esse período. A mariposa fêmea, após acasalamento, coloca à noite cerca de 300 ovos durante os sete dias em que vive, em grupos e de preferência na página superior das folhas, e são de coloração amarelada. O período de incubação é de cinco a sete dias, podendo se estender até 12 dias em menores temperaturas, quando eclodem as lagartinhas. Após a eclosão, as lagartas passam os próximos 30 a 37 dias se alimentando de folhas do cafeeiro, até atingirem cerca de 12 cm de comprimento e 15 g de peso. No final da fase de lagarta descem ao solo onde empupam a 2 cm de profundidade. A fase de pupa ou crisálida dura em média 30 a 40 dias, podendo ser mais longa em condições menos favoráveis, após o que emergem os insetos adultos (mariposas). O ciclo evolutivo de ovo a adulto é em média 65 a 85 dias.

Em geral ocorre somente uma geração por ano, ficando as crisálidas enterradas no solo até o ano seguinte, porém, em locais de temperaturas mais elevadas, sem inverno frio, pode ocorrer mais de uma geração ao ano como é o caso do ataque dessa lagarta em cafeeiros no município de Cacoal, e de outros, em Rondônia.

As lagartas alimentam-se de folhas e de brotos terminais, são vorazes e, se ocorrerem em grandes quantidades, podem ser prejudiciais ao cafeeiro, principalmente os mais novos e com menor número de folhas.

Pesquisas já realizadas mostraram que são necessárias 166 lagartas para a destruição de todas as folhas de um cafeeiro adulto, cultivar Mundo Novo, pois uma lagarta consome 0,60 % da planta ou 0,30 m2 de folha de café. Em função da redução da área foliar ocorre a quebra da produção de grãos de café. Além dos prejuízos citados pode ocorrer a não aceitação das lavouras infestadas pela lagarta, por parte dos colhedores de café , devido ao aspecto repugnante que as lagartas apresentam. Ainda, a intensa desfolha causada pelas lagartas resulta em ramos desnudos, com posterior secamento, inclusive dos frutos neles presentes, como resultado da incidência direta do sol e de temperaturas altas.

Redução na produção de cafeeiros ‘Mundo Novo’, em conseqüência da diminuição da área foliar, na fase construtiva, por lagartas Eacles imperialis magnifica.

Em condições normais, lagartas de qualquer espécie, incluindo a eacles ou lagarta-dos-cafezais, não se constituem em pragas do cafeeiro devido ao grau de parasitismo natural que apresentam. Já foram encontradas, parasitando lagartas, larvas de moscas da família Tachinidae, com as espécies Belvosia bicincta Robineau-Desvoidy, 1830, Belvosia potens (Wideman, 1830) e Pararrhinactia parva Town, bem como larvas de microhimenópteros (Hymenoptera) (pequenas vespinhas) do gênero Apanteles, podendo ser encontradas cerca de 150 delas por lagarta de eacles parasitada;

sp (Ichneumonidae);

Rohwer, 1923,

sp.,

Muesebeck, 1958 (Braconidae);

Blanchard (Eulophidae);

sp. (Chalcididae) etc.

Caso seja necessária a intervenção do homem para o controle da lagarta, é recomendável a utilização de pulverizações do inseticida biológico à base de uma bactéria, o

Berliner, na dosagem de 250 a 500 g/ha, produto que não afeta o controle biológico natural realizado pelas moscas e microhimenópteros. Esse produto age por ingestão, principalmente quando as lagartas ainda são novas, e não as matam imediatamente como os inseticidas convencionais, porém ao ingerirem os bacilos param de se alimentar não causando mais danos. Em altas infestações aplicar a maior dosagem recomendada do

Por ocasião do controle da broca-do-café,

(Ferrari, 1867) (Coleoptera: Scolytidae), com o uso do inseticida endosulfan, é feito o controle simultâneo das lagartas, caso elas estejam presentes. Este produto também é considerado seletivo aos inimigos naturais.

Embora eficiente, não é recomendável a utilização de inseticida de largo espectro de ação, como os piretróides, pondo em risco o equilíbrio biológico.

Além da lagarta-dos-cafezais

, outras lagartas não menos importantes também podem atacar e consumir folhas de cafeeiros, e entre elas destacam-se as que causam dermatite urticante como as tatoranas

(Walker, 1855),

(Boisduval, 1859),

(Walker, 1855) (Saturniidae); a lonomia

(Walker, 1855) (Saturniidae); a lagarta-cabeluda

(Stoll e Cramer, 1780) (Megalopigidae) e a tatorana-do-cafeeiro

sp. (Megalopigidae). Entre as não urticantes, como a eacles, destacam-se as lagartas mede-palmo

sp. e

sp. (Geometridae). Havendo contato do homem com as urticantes, há necessidade de tratamento específico. O controle para estas lagartas é o mesmo recomendado para a lagarta-dos-cafezais.

e

EPAMIG/EcoCentro

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