Fêmeas selecionadas

A avaliação de matrizes é um importante instrumento para enfrentar problemas, como a demora com que as novilhas iniciam a vida útil produtiva no Pantanal. Sistema de identificação individual e estaçã

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

No início do século 20, iniciou-se a introdução de gado zebu, de origem indiana (

). A partir de então, por meio de cruzamentos contínuos, as raças zebuínas absorveram praticamente toda a população original do Tucura (

), que era o tipo predominante na região. Assim, o tipo de gado hoje existente no Pantanal é zebuíno. Atualmente, o rebanho pantaneiro apresenta predominância da raça Nelore, embora, recentemente, tenham sido registradas algumas iniciativas com relação ao uso de raças compostas e de cruzamentos entre raças européias e zebuínas. A população total é de aproximadamente 3,8 milhões de cabeças, sendo 2,8 milhões no Pantanal Sul Mato-Grossense e 1 milhão no Pantanal do estado de Mato Grosso.

Produção no Pantanal

A atividade pecuária é desenvolvida em criatórios naturais extensivos, com características de manejo pautadas pelo regime de enchentes. Nesse sistema, os animais recebem poucos cuidados, sendo mantidos quase que exclusivamente de pastagens nativas das extensas planícies arenosas e com poucas subdivisões, de forma a permitir o pastejo seletivo e o uso das aguadas. Sendo 42% a proporção média de vacas em reprodução nos rebanhos de cria do Pantanal, estima-se que a região possua aproximadamente 1,6 milhões de matrizes, sendo uma das maiores concentrações de rebanhos de cria em uma região específica do Brasil.

Em termos gerais, há poucas diferenças na forma de administração das fazendas e no nível tecnológico utilizado. Independente das diferentes características ambientais, predominam as fases de cria e recria. A fase de engorda é acidental, dependendo de fatores conjunturais de preço, de oferta de pasto abundante, principalmente em zonas expostas a inundações mais rigorosas. Existem dois períodos críticos de restrição alimentar: um, do auge ao final da cheia (fevereiro a maio), e outro, do meio ao fim da seca (agosto a setembro).

A pecuária extensiva de corte, há mais de 200 anos, vem sendo explorada no Pantanal, sendo base para conservação e desenvolvimento sustentável da região. Diferentes tecnologias podem ser transferidas e implantadas no sistema tradicional de cria da região. Entretanto, o desempenho zootécnico da pecuária tradicional do Pantanal é deficiente, com baixos índices de natalidade e desmama (em torno de 58% e 42%), além de alta mortalidade (por volta de 15%) nas categorias de animais jovens (bezerro e desterneiro). A idade à primeira cria é tardia, em média, 47,78 ± 10,26 meses.

Nos últimos anos, em função da necessidade de modernização e de aumento da eficiência na atividade, o sistema de produção do Pantanal vem sendo pressionado no sentido de incrementar os índices de produtividade e aumentar a qualidade genética dos animais produzidos na região. Por outro lado, o meio ambiente regional é frágil, além de ser o habitat de espécies da fauna e da flora importantes para a biodiversidade mundial, havendo pressão nacional e internacional para preservá-lo. Nesse contexto, a avaliação e o acompanhamento da eficiência produtiva das matrizes desde a recria das mesmas são aspectos fundamentais para o sucesso da atividade pecuária da região.

Recria de Novilhas

Um dos principais pontos de estrangulamento para o incremento dos índices produtivos da pecuária de corte no Pantanal é a demora com que as matrizes iniciam sua vida útil produtiva. Isso é reflexo de dificuldades na recria de novilhas, impostas por características ambientais, especialmente, a periodicidade na qualidade e na quantidade das forrageiras nativas no momento da desmama das desterneiras, além da necessidade de selecionar melhor as novilhas de reposição que se tornarão matrizes do rebanho de cria.

Em monitoramento e introdução de tecnologias, realizados em fazenda no Pantanal, no período de 1994-99, observou-se diminuição da idade à primeira cria (IPC) de 50,41±11,13; 46,90±10,58; 47,68±4,78; e 37,50±2,36 meses, para novilhas nascidas nos anos de 91, 92, 93 e 94, respectivamente. A principal estratégia utilizada foi a de concentrar em determinada invernada as novilhas de reposição, combinando com estratégia de descarte técnico, baseado na condição corporal das novilhas. Foi fornecida suplementação mineral e, especialmente, na primeira seca, suplementação protéica. Na invernada, permaneciam apenas novilhas com condição corporal muito boa. As que apresentavam algum tipo de problema físico ou crescimento corporal deficiente eram descartadas. Basicamente, logo após a desmama e aos 18 meses de idade eram descartadas, respectivamente, aproximadamente 15% e 60% do total de novilhas. As restantes eram mantidas na invernada de recria, sendo então transferidas para outra invernada e identificadas por meio de numeração, para, então, serem entouradas, com 30 meses de média de idade. As novilhas que estivessem vazias ao final da primeira estação de monta eram descartadas.

Avaliação das Primíparas

As novilhas primíparas também necessitam de cuidados especiais, pois não completaram seu desenvolvimento corporal adulto, e o aparelho reprodutivo não está completamente maduro. O primeiro intervalo de partos, sempre mais longo, é conseqüência destas características; quanto mais jovem a novilha entrar em gestação e parir, maior deve ser o cuidado com o manejo geral da mesma. A avaliação das primíparas é importante, pois tem o objetivo de diminuir o primeiro intervalo de partos.

A estratégia de diminuição desenvolvida em fazenda monitorada foi a permanência das novilhas de primeira cria em invernada própria, recebendo suplementação diferenciada, e os bezerros foram desmamados impreterivelmente aos seis meses de idade, o que possibilitou a diminuição do desgaste fisiológico das novilhas. Entretanto, o primeiro intervalo de partos continuou longo (600 dias), havendo necessidade de definir uma estação de monta específica para novilhas em conjunto com sistema de descarte técnico.

Avaliação de Matrizes

O estabelecimento de um sistema de identificação individual e de estação de monta bem definida, conforme as características da região, é a base para a avaliação de matrizes no Pantanal.

A identificação das vacas proporciona o monitoramento do desempenho reprodutivo em sistema extensivo, pois em cada “trabalho de gado” (que acontece duas vezes ao ano em cada propriedade do Pantanal), todas as matrizes são levadas ao curral, onde podem ser coletadas informações simples, como a classificação das vacas em “solteiras” ou “criando”, em situação mais tecnificada, e pode-se até mesmo determinar o escore de condição corporal da vaca, o que auxilia na avaliação das mesmas. Por outro lado, há necessidade de as informações individuais das vacas serem digitalizadas e armazenadas em sistemas de banco de dados, planilhas eletrônicas etc.

A implantação de estação de monta traz inúmeras vantagens para o rebanho geral, como utilização mais eficiente dos touros, maior facilidade na execução de práticas veterinárias, menor taxa de mortalidade de bezerros, aumento da taxa de natalidade das matrizes, bezerrada mais uniforme para a comercialização e, principalmente, maior facilidade de descarte de vacas improdutivas.

O produtor, com as informações dos trabalhos de gado, pode tomar a decisão de descarte das vacas improdutivas com base no desempenho reprodutivo e na condição corporal das matrizes, obtendo alta taxa de acerto ao eliminar fêmeas de pior eficiência reprodutiva. A avaliação das vacas é realizada pelo desempenho; matrizes que passaram classificadas como “solteiras” em determinado “trabalho de gado”, se não forem classificadas como “criando”, no trabalho subseqüente, devem ser separadas e submetidas ao diagnóstico de gestação; estando vazias, devem ser descartadas. Com os escores de condição corporal, fica possível inferir a situação nutricional do animal, para verificar se houve algum tipo de problema. Em acompanhamento de rebanho realizado no Pantanal, 27% das vacas foram descartadas devido ao mau desempenho reprodutivo: eram matrizes que produziam nada ou muito pouco. Se levar-se em consideração a quantidade de vacas no Pantanal, podemos verificar que a eficiência econômica da atividade como um todo aumenta significativamente com o descarte das vacas improdutivas.

Conclusões

A avaliação de matrizes no Pantanal é fundamental para o desempenho dos rebanhos de cria da região. Entretanto, deve-se iniciar o processo desde a desmama das bezerras, para dar condições de que o desempenho reprodutivo e o desempenho produtivo futuros sejam eficientes. Em cada fase da vida produtiva, as matrizes devem ser avaliadas, o que possibilita a melhora dos índices produtivos do rebanho como um todo.

Há necessidade de introduzir tecnologias de pouco investimento, como a estação de monta e a numeração das vacas de cria do rebanho. Isso possibilitará a tomada de decisão correta por parte do produtor no momento de avaliar e decidir pelo descarte ou não de determinado grupo de matrizes.

Urbano Gomes Pinto de Abreu

Embrapa Pantanal

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