Gigante sobre a terra

Testamos o novo integrante da família AGCO, o Challenger MT 765. Veja quais são as nossas impressões sobre o gigante de esteiras.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Impressionante! Essa talvez seja a palavra que melhor define as impressões de quem se atém a observar com um pouco mais de atenção essa máquina amarela.

Fomos conhecer um gigante da família Challenger. No Brasil, a AGCO está oferecendo os quatro modelos do grupo 700, que variam de 235 a 306 HP (175 a 228 kW). Avaliamos o MT 765. E podemos dizer que foi uma missão muito agradável. A empresa enfatiza que o projeto revolucionário é baseado em tecnologia, velocidade e conforto com tração superior, flutuação e confiabilidade. E isso é facilmente comprovável, conforme se verá a seguir.

Ao aproximar-se do trator, não se pode deixar de notar o desenho externo, extremamente moderno, de formas “aerodinâmicas”, muito embora a aerodinâmica não seja relevante nas faixas de velocidade em que esse tipo de máquina opera. As linhas da carenagem são harmoniosas e as cores muito bem ajustadas: o preto contrastando com o amarelo, os detalhes do grafismo, o sublinhado, em vermelho.

No aspecto “design”, não se pode considerar apenas o visual, embora importante, mas principalmente o funcional e a ergonomia. Novamente somos surpreendidos por acessos fáceis, como na escada da cabine, com guardas de proteção na região superior.

A manutenção é facilitada pelo fácil e amplo acesso aos componentes, especialmente os de inspeção diária. A lubrificação (engraxar) não é diária, os prazos são estendidos, o que favorece o tempo do trator em operação, aumentando a eficiência operacional. Aliás, máquinas desse porte não são concebidas para estar paradas. Há que se prover área para trabalhar...

O ponto forte do sistema de rolamento, ou da rodagem, desse trator são as esteiras de borracha, que dão uma mobilidade incrível, e um conforto inimaginável quando comparado com tratores de esteiras metálicas. O conjunto principal é acoplado ao trator através de molas helicoidais e braços com amortecimento de borracha. Uma barra estabilizadora interliga os dois conjuntos, permitindo uma inclinação de 8 graus. Os roletes de apoio também estão montados em suspensão. O conjunto apóia as esteiras em cinco eixos, o que dá uma boa distribuição de cargas e esforços. Com seis opções de largura de esteira, variando de 356 a 762 mm e comprimento de 2438 mm permite grande área de contato com o solo, trazendo por conse-qüência baixa pressão específica, minimizando o adensamento e reduzindo a resistência ao rolamento. São três os tipos de esteiras disponíveis: uso agrícola padrão, garras de perfil baixo e para aplicações severas.

Com o peso do trator variando de 12270 kg em ordem de marcha a 16330 kg com o máximo de lastro, são de se esperar pressões específicas teóricas sobre o solo na ordem de 0,66 (0,88) kgf/cm2 a 1,24 (1,65) kgf/cm2. Evidentemente que sob o efeito dos roletes podem ocorrer picos um pouco mais elevados, mas de qualquer forma, são valores excelentes para uso agrícola, causando baixo impacto sobre a estrutura e a compactação do solo.

O blocos-guia internos das esteiras estão mais altos (+26%) que no modelo anterior, o que permite maior aderência à roda motriz e mais durabilidade à esteira. A roda motriz (disponível em três larguras, conforme o tipo de esteira escolhida) é estriada em ângulo lateral duplo, o que lhe confere aderência também à região lisa da face interna da esteira. Ademais, o conjunto é suportado por três conjuntos duplos de roletes, melhorando a distribuição da carga sobre o solo. O desenho e o arranjo das garras da esteira permitem boa capacidade de auto-limpeza.

Embora não seja habitual no Brasil o uso de tratores de grande potência para operações de cultivo, essa máquina traz essa função em seu projeto. Para tanto, as bitolas são ajustáveis (variação contínua) em três gamas: básica, de 1524 a 2235 mm; larga, de 2032 a 3048 mm; e extralarga, de 3048 a 4064 mm. O ajuste é simples e não exige desmontagem de componentes, nem sequer o alívio de tensão das esteiras. Basta soltar a fixação ao eixo motriz e deslocar o conjunto lateralmente.

O motor é um Caterpillar C9 de 8,8 litros de cilindrada, com camisas úmidas, gerando 228 kW (306 HP) com uma reserva de torque de 52%. Esse nível de reserva permite operação em uma faixa flexível de rotação, evitando muitas trocas de marcha. A alimentação com sobrealimentador (turbo) agregado a um pós-resfriador ar-ar melhora o desempenho do motor com diminuição de consumo. A curva de potência bastante plana na gama de utilização (1400 a 2100 rpm) possui uma elevação da altura de 1600 rpm, permitindo um “ganho” de potência de até 13%, facilitando a superação de condições difíceis momentâneas.

A transmissão servo-assistida tipo Powershift de 16 marchas à frente e 4 à ré é eletronicamente programável e permite velocidades de 0 a 39,7 km/h. A programação da transmissão permite trocas contínuas, seqüenciais, pré-programadas ou faixas de velocidade fixas. Nove marchas encontram-se na faixa de velocidade operacional, o que permite seleção adequada, menor consumo de combustível e maximização de eficiência operacional.

Existe a opção de uma super-redução (Creeper), com redução 4:1 para usos que exigem velocidades baixas de operação.

O diferencial agrega o sistema de direcionamento (por frenagem). Seu controle eletrônico permite resposta de direção proporcional à velocidade de deslocamento.

O sistema hidráulico de levantamento em três pontos é, provavelmente, o engate mais utilizado atualmente em tratores agrícolas. O do Challenger tem capacidade de levante de 7256 kgf, operando à vazão de até 166 litros por minuto. A elevada pressão do sistema permite que várias funções sejam atendidas simultaneamente, como levantamento e atendimento de válvulas de controle remoto (quatro, com extensão de até seis).

Um dispositivo inovador é o engate em 3 pontos dirigível. Consiste em um comando do acoplamento ligado ao sistema de direção. Extremamente útil em operações de precisão em trajetórias não lineares, como cultivo, aplicação de agroquímicos ou preparo do solo. O controle está interligado à rede eletrônica específica, denominada IntellitronicsTM.

A barra de tração, de construção reforçada, pode mover-se lateralmente em 9 graus a partir da linha de centro do trator. Opcionalmente pode vir equipado com uma barra de tração oscilante, roletada, e que oscila em 32 graus. Essa opção é oferecida para operações extra-pesadas.

Definitivamente “O” ponto alto do Challenger é a cabine. O trator é projetado para suas funções básicas, mas principalmente pensando no operador. Certamente o operador não é um sujeito qualquer. Em função do nível de exigência dos comandos e controles deve ter uma boa formação não só em mecânica e operações agrícolas, mas em eletrônica e automação.

Ao entrar na cabine, o que chama a atenção é o espaço e a ampla área envidraçada (6,2 m2) com vidros escurecidos, dando um campo de visão muito grande e com poucos obstáculos. O limpador de pára-brisas dianteiro é pantográfico com lavador, o traseiro é convencional. Ao lado esquerdo do assento do operador existe um assento menor, destinado ao instrutor (que, conforme vimos, se faz necessário) do operador.

Ao lado direito está posicionado o console de comando, denominado pela empresa de TMC (Tractor Management Center). Todos os comandos e controles estão fixados nele, e estão ao alcance da mão direita. O console é solidário ao assento, de modo que, quando este for movimentado, ele o acompanha. Existe um ajuste prévio de altura separado, mas o giro e todas as movimentações (avanço, altura) são acompanhados pelo console.

Na parte mais frontal, está um mostrador (“display”) de quartzo líquido, onde são visualizadas as funções (em número de 16 possibilidades) selecionadas em uma chave à direita do mostrador. As funções visualizáveis são: o índice geral, o monitor de desempenho, o consumo de combustível, a eficiência, informações do produto, tela de manutenção, eventos, ajustes, direção, comando por um toque, comando de força, tomada de potência, engate em 3 pontos dirigível, engate em 3 pontos e válvulas hidráulicas de controle remoto (1–3 e 4-6). O sistema de comando por um toque registra uma série de eventos (posições) e a repete ao toque de um botão. Na segunda parte do console estão as alavancas e os botões do comando. O controle da transmissão, por exemplo, é feito em uma única alavanca, à semelhança de um “joystick”, chamada de comando da potência. O acelerador é uma pequena alavanca que pode ser acionada pelo polegar direito.

Falando em conforto, ainda, existem vários espaços para acondicionar objetos, e compartimentos de temperatura controlada para guardar bebidas. Um cabide para o casaco, local para o telefone celular, compartimento para literatura (manuais). Até uma barra lateral para fixação de monitores de equipamentos é fornecida, posicionada à direita da cabine. Na parte frontal superior está o controle do condicionador de ar e do som. Som? Sim, um tocador de CDs para 6 discos, tocando em 4 alto-falantes, inclusive com efeito subwoofer. Opcionalmente, o controle do som pode estar no volante de direção.

Vamos andar? A climatização do ambiente tem várias saídas de ar, e um fluxo envolvente ao operador, evitando as regiões excessivamente frias ou quentes que ocorrem quando a climatização tem apenas saída frontal. Ligado o motor, tem-se a impressão de estar em um automóvel de luxo, pelo baixo nível de ruído interno. O volante de direção de um raio só é regulável em várias posições, inclusive distância. Atrás do volante está o painel convencional, analógico, com as informações básicas de rotação, combustível, pressão e temperatura do óleo e as luzes indicadoras. Não esqueça de ajustar os espelhos interno e externo, que opcionalmente podem ser elétricos.

As pequenas imperfeições do solo são absorvidas com facilidade pelo sistema de rolamento, e os desníveis maiores galgados com valentia pelas esteiras. A cabina montada sobre amortecedores de borracha e com forração acolchoada absorve bem as vibrações.

Se você já se impressionou com a cabine, aguarde um pouco para a eletrônica. A máquina possui um sistema de gerenciamento de dados de alta velocidade denominado IntellitronicsTM que integra todos os sensores, comandos eletrônicos e processadores para otimizar seu desempenho. Mostra os dados de desempenho, manutenção, diagnóstico e produtividade no TMC (Centro de Gerenciamento do Trator). A conexão aos implementos é feita através do protocolo ISO11783.

Opcionalmente, para completar, o Challenger pode vir equipado com o Auto-GuideTM, sistema de direcionamento por satélite que repete trajetórias em linha reta, sem a interferência do operador.

Conforme já mencionado, o acesso aos pontos de manutenção e inspeção diária é facilitado. Os tempos das rotinas são estendidos, com o objetivo de minimizar o tempo parado e maximizar os tempos operacionais. O filtro de ar, por exemplo, é trocado anualmente.

Depois do tempo que passamos interagindo com essa máquina, e de examinar cada um dos detalhes relatados, não mudamos de opinião com relação à palavra de abertura deste material: impressionante!

Um trator moderno, com todos os recursos tecnológicos possíveis, confortável em vários sentidos, capaz de realizar as tarefas mais pesadas e as mais rápidas com a mesma performance.

O preço? Consulte seu concessionário. Pode ser mais um impacto, mas certamente, e em pouco tempo, você se convencerá que a relação custo-benefício vale à pena.

Cultivar Máquinas

* Confira este artigo, com fotos e tabelas, em formato PDF. Basta clicar no link abaixo:

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