Grãos em má companhia

O controle físico, químico e biológico de pragas de grãos armazenados, os inseticidas usados, bem como os resíduos destes nos grãos e nos seus subprodutos, e a resistência de pragas aos ingredientes ativos s

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O problema de pragas tem origem em diversos fatores, dentre os quais destacam-se a inadequada estrutura armazenadora composta, em sua maioria, por armazéns graneleiros de grande capacidade estática, com sistema deficiente ou inexistente de controle de temperatura e a ausência quase total de sistema de aeração. Assim, depois de limpos e secos, os grãos são colocados nesses armazéns, onde permanecem depositados até a retirada para consumo, sem haver o efetivo monitoramento da massa de grãos para verificar a temperatura, a umidade e a presença de insetos, situações que podem determinar perdas quantitativas e qualitativas. Além destes fatores, o que contribui para o agravamento do problema é a disponibilidade de poucos inseticidas registrados para controle das pragas de grãos armazenados, fator que dificulta a alternância de ingredientes ativos.

Manejo é solução

A solução para essa situação passa pela adoção do “manejo integrado de pragas”. Este, prevê que se esteja informado a respeito da situação da massa de grãos e da unidade armazenadora, da identificação de espécies e de populações de pragas ocorrentes, da associação de medidas preventivas e curativas de controle das pragas, do conhecimento dos inseticidas recomendados e sua eficiência, da existência de resistência das pragas aos inseticidas em uso, da análise econômica do custo de controle e das perdas a serem evitadas. Da mesma forma, a adoção de rigoroso sistema de monitoramento das pragas, da temperatura e da umidade da massa de grãos se faz necessário.

O conhecimento da espécie e do potencial de destruição de cada praga são elementos importantes para definir o manejo a ser implantado na unidade armazenadora. Segundo este hábito, as pragas podem ser classificadas em primárias ou secundárias.

As pragas primárias

As pragas primárias são as que atacam grãos inteiros e sadios e, dependendo da parte do grão que atacam, podem ser denominadas pragas primárias internas ou externas. As primárias internas perfuram grãos e penetram para completar seu desenvolvimento. Alimentam-se de todo o interior do grão e possibilitam a instalação de outros agentes de deterioração dos grãos. Exemplos dessas pragas são as espécies

e

. As pragas primárias externas destroem a parte exterior do grão (casca) e alimentam-se posteriormente da interna sem, no entanto, se desenvolver no interior do grão. Há destruição do grão apenas para fins de alimentação. Exemplo desta praga é a traça

.

As pragas secundárias

Já as pragas secundárias são as que não conseguem atacar grãos inteiros, pois requerem a destruição ou quebra dos grãos para deles se alimentar. Essas pragas ocorrem na massa de grãos quando estes estão trincados, quebrados ou mesmo danificados por pragas primárias. Multiplicam-se rapidamente e causam grandes prejuízos. Como exemplo, citam-se as espécies

e

.

Há dois importantes grupos de pragas que atacam o trigo armazenado: os besouros e traças. Nos besouros encontram-se as espécies:

e

As espécies de traças mais importantes nos grãos são:

e

, são economicamente mais importantes, e que justificam a maior parte das medidas de controle praticadas nas unidades armazenadoras.

Besourinho dos cereais

Os adultos

(Col., Bostrychidae) são besouros de 2,3 mm a 2,8 mm de comprimento, coloração castanho-escura, corpo cilíndrico e cabeça globular, normalmente escondida pelo protórax. A coloração das pupas varia de branca, inicialmente, a castanha, próximo à emergência dos adultos; possuem 3,9 mm de comprimento e 1,0 mm de largura do corpo, aproximadamente. As larvas são de coloração branca, com cabeça escura, e medem cerca de 2,8 mm quando completamente desenvolvidas. Os ovos são cilíndricos, embora variáveis na forma, inicialmente brancos e posteriormente rosados e opacos, com 0,59 mm de comprimento e 0,2 mm de diâmetro (Potter, 1935).

O período de incubação dos ovos, variável em função da temperatura, é de 15,5 dias a 26º C (Potter, 1935) e de 4,5 dias a 36 0 C (Birch & Snowball, 1945). A oviposição pode ocorrer em grupos de ovos ou em ovos isolados, em fendas ou rachaduras de grãos ou mesmo na própria massa de grãos (Poy, 1991). A duração do período larval é de, aproximadamente, 22 dias, o período pupal é de cinco dias e a longevidade dos adultos atinge 29 dias, a 30 0 C e 70 % de umidade relativa. O ciclo de vida da praga é de, aproximadamente, 60 dias. A fêmea tem fecundidade média de até 250 ovos (Poy, 1991; Almeida & Poy, 1994) que depende da qualidade do alimento e das condições de temperatura e de umidade da massa de grãos.

Como é uma praga primária interna possui elevado potencial de destruição dos grãos de trigo, sendo capaz de destruir de 5 a 6 vezes seu próprio peso em uma semana (Poy, 1991). É a principal praga de pós-colheita de trigo no Brasil, devido à alta densidade populacional e o grande potencial de causar prejuízos aos grãos. Destrói consideravelmente os grãos, deixando-os perfurados e com grande quantidade de resíduos na forma de farinha, decorrente do hábito alimentar. Tanto adultos como larvas causam danos aos grãos armazenados e possuem grande número de hospedeiros, como trigo, cevada, triticale, arroz e aveia. O milho não é hospedeiro preferencial. Adapta-se rapidamente às mais diversas condições climáticas e sobrevive mesmo em extremos de temperatura.

Gorgulhos dos cereais

Os gorgulhos dos cereais,

e

(Col., Curculionidae) , são espécies muito semelhantes em caracteres morfológicos e podem ser distinguidas somente pelo estudo da genitália. Ambas podem ocorrer juntas na mesma massa de grãos, independentemente do tipo de grão. Os adultos são gorgulhos de 2,0 mm a 3,5 mm de comprimento, de coloração castanho-escura, com manchas mais claras nos élitros (asas superiores), visíveis logo após a emergência. Têm a cabeça projetada à frente, na forma de rostro curvado. Nos machos, o rostro é curto e grosso, e nas fêmeas, mais longo e afilado. As larvas são de coloração amarelo-clara, com a cabeça de cor marrom-escuro, e as pupas são brancas (Mound, 1989; Booth et al., 1990). O período de oviposição é de 104 dias, e o número médio de ovos por fêmea é de 282. A longevidade das fêmeas é de 140 dias. O período de incubação dos ovos oscila entre 3 e 6 dias, e o ciclo de ovo até a emergência de adultos é de 34 dias (Lorini & Schneider, 1994).

É uma praga primária interna de grande importância, pois pode apresentar infestação cruzada, ou seja, infestar grãos no campo e também no armazém. Tem elevado potencial de reprodução e muitos hospedeiros, como trigo, milho, arroz, cevada, triticale etc., e ataca a massa de grãos, nela penetrando. Tanto larvas como adultos são prejudiciais e atacam grãos inteiros. A postura é feita nos grãos; as larvas, após se desenvolverem no grão, saem deste para empupar e se transformarem em adultos. Os danos verificam-se na redução de peso e de qualidade do grão (Lorini & Schneider, 1994).

Traça dos cereais

Os adultos da traça dos cereais -

(Lep., Gelechiidae) - são mariposas com 10 mm a 15 mm de envergadura e com 6 mm a 8 mm de comprimento. As asas anteriores são cor de palha, com franjas, e as posteriores mais claras, com franjas maiores. Os adultos vivem de 6 a 10 dias. Os ovos são colocados sobre os grãos, preferentemente naqueles quebrados e/ou fendidos. A fêmea pode ovipositar de 40 a 280 ovos, dependendo do substrato.

Após a eclosão, as larvas penetram no grão, onde se alimentam e completam a fase larval, que se estende por, aproximadamente, 15 dias. As larvas podem atingir 6 mm de comprimento e são brancas com as mandíbulas escuras. A pupa varia de coloração desde branca, no início, a marrom-escuro, próximo à emergência do adulto. O período de ovo a adulto dura, em média, 30 dias (Lorini & Schneider, 1994).

É uma praga primária que ataca grãos inteiros, porém afeta a superfície da massa de grãos. As larvas destroem o grão, o que altera o peso e a qualidade deste. Também ataca as farinhas, onde se desenvolve, causando deterioração de produto pronto para consumo.

Irineu Lorini

Embrapa Trigo

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