IATF ganha espaço

A Inseminação Artificial em Tempo Fixo em fêmeas bovinas aparece como uma boa opção para aumentar a taxa de fertilidade.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A rentabilidade da produção de gado de corte está intimamente ligada fertilidade e à sobrevivência dos bezerros. Em um panorama econômico bastante competitivo e globalizado, a quantidade deve estar aliada à qualidade, ainda que esta não esteja sendo devidamente remunerada.

A Inseminação Artificial (IA) possibilita o acasalamento com reprodutores geneticamente superiores, sejam de raças européias ou zebuínas. Entretanto, o emprego desta biotécnia da reprodução, da maneira tradicional, pode resultar numa diminuição da taxa de prenhez ao final da estação de monta, quando comparada com o emprego da monta natural.

Isto se deve à baixa taxa de serviço ( nª de animais inseminados em relação ao nª de animais disponíveis para IA), que tem como principais causas o anestro e a baixa eficiência na detecção de cios.

Em gado de corte , quando se inicia a estação de monta (EM), ainda há cerca de 50% de vacas em anestro. Entre os animais que estão ciclando, a eficiência de detecção de cios encontra-se na faixa de 50% e muito raramente ultrapassa 70%.

Em trabalhos recentes de nossa equipe, verificou-se que a duração do estro em fêmeas Nelore foi cerca de quatro horas a menos do que a de vacas Angus (13h vs 17h). Entretanto, o número médio de montas/estro foi semelhante entre estes grupos genéticos (29 montas/estro em vacas Nelore e 27 em vacas Angus). Adicionalmente, verificou-se que não ocorreram, significativamente mais montas no período noturno. Concluiu-se que a dificuldade de detecção de cios de vacas Nelore não é maior do que a de se detectarem os estros em vacas Angus.

A detecção dos estros é portanto um dos principais problemas da reprodução de bovinos de corte ou leiteiro, taurino ou zebuíno, criados em clima temperado ou tropical, de maneira extensiva ou intensiva.

Uma das maneiras mais eficientes de se contornar este problema é utilizar a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF).Para que isto seja possível, é necessário a sincronização da ovulação, empregando-se protocolos hormonais.

Um protocolo de sincronização da ovulação deve satisfazer algumas premissas:

1. Proporcionar um período de sete a 10 dias de elevação dos teores plasmáticos de progesterona ou progestágenos. Isto pode ser obtido pela colocação de implantes vaginais de progesterona ou auriculares de progestágeno.

2. A emergência da onda folicular que dará origem ao folículo dominante ovulatório deve surgir, de maneira sincronizada, no período progestacional de sete a 10 dias. Geralmente, a aplicação de 50 mg de progesterona e cinco mg de 17-â-estradiol ou dois mg de benzoato de estradiol proporciona a emergência da onda folicular cerca de quatro dias após a aplicação. Alternativamente, a aplicação de GnRH ou de seus análogos sintéticos também provoca a emergência sincronizada da onda folicular, que ocorre cerca de 1,5 dias após a aplicação.

3. A fase progestacional deve ser interrompida em todos os animais em um mesmo período, pela remoção do implante e aplicação de análogos sintéticos das prostaglandinas F (PG).

4. Ao final da fase progestacional, a grande maioria das vacas tratadas deve possuir um folículo dominante que pode ser induzido à ovulação sincronizada. A aplicação de um mg de benzoato de estradiol, administrado 24 horas após a retirada do implante, ou de GnRH, 48 horas após a retirada do implante, proporcionam excelentes taxas de ovulação. A IATF pode então ser feita cerca de 30 horas após a aplicação de BE, ou 12 a 16 horas após a aplicação de GnRH.

Os resultados esperados de taxa de prenhez situam-se entre 40 e 60% e dependem, principalmente, de três fatores: a) condição corporal, b) ciclicidade e c) período pós-parto.

Em uma escala de um a nove, a condição corporal (Tabela 1 -

) da maioria das vacas deve ser maior ou igual a cinco. A ciclicidade pode ser avaliada pela condição ovariana. Vacas com presença de corpo lúteo, ou folículos maiores do que 8,5 mm, que estejam proporcionando turgidez no útero, ou mesmo em anestro, porém com ovários maiores do que três cm e macios, denotando a ocorrência de ondas foliculares, costumam responder bem aos tratamentos. Quanto ao período pós-parto, somente vacas com mais de 45 dias devem ser tratadas.

A aplicação de 400 UI de eCG, no momento da retirada do implante pode ser útil principalmente em animais acíclicos, com condição corporal um pouco menor ou período pós-parto mais precoce.

Vacas com escore de condição corporal maior ou igual a cinco no parto recuperam-se mais rapidamente e apresentam melhores taxas de prenhez tanto à IATF quanto ao final da EM. Vacas com escore quatro, que pesam apenas cerca de 40 quilos a menos, costumam atingir somente a metade da taxa de prenhez na EM obtida pelas vacas que pariram com condição corporal maior ou igual a cinco. Uma recomendação prática de grande valia consiste em avaliar o escore de condição corporal das vacas no momento do desmame. Assim, serão possíveis ajustes com suplementação alimentar, num momento em que as vacas apresentam baixa exigência nutricional, pois não mais estarão amamentando e ainda não entraram no terço final de gestação. Suplementação nutricional no período pós-parto, visando ganho de peso das vacas, não costuma apresentar resultados satisfatórios tanto do ponto de vista técnico quanto econômico.

Embora tratamentos à base de progesterona/progestágenos tenham a capacidade de induzir ciclicidade em vacas em anestro e atenuar os efeitos supressivos da amamentação e da subnutrição, não devem ser empregados para corrigir deficiências de manejo, sob o risco de se atingirem resultados de prenhez abaixo de 40%, e portanto com um custo/benefício desfavorável.

Vale lembrar que, como todas as vacas serão inseminadas em tempo fixo, a taxa de serviço será de 100%, no 1ª dia da estação de monta e, em média, 50% delas ficarão prenhes. As vacas que não conceberem à IATF devem retornar ao estro cerca de 18 a 25 dias após. Como o retorno ao estro concentra-se no período de uma semana, a opção de uma segunda IA pode ser vantajosa, desde que sejam tomadas providências no sentido de se atingir aceitável eficiência na detecção dos estros, caso contrário é aconselhável o repasse por monta natural.

Hoffmann Madureira

Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia / USP

* Confira este artigo, com fotos e tabelas, em formato PDF. Basta clicar no link abaixo:

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