Irrigação por gotejamento e o papel crucial na gestão da água

Por Cristiano Jannuzzi, gerente agronômico da Netafim Brasil

25.10.2017 | 21:59 (UTC -3)

O risco de falta de água é global. No Brasil recentes casos de crise hídrica em diversas regiões do país acenderam o sinal de alerta para o consumo consciente do recurso hídrico. Nesse cenário de falta de água a agricultura fica na linha de frente, colocada como a principal vilã e competidora quando o assunto é abastecimento.

O que muitos não sabem é que além da importância indiscutível da agropecuária no que tange a oferta de alimentos, o setor também já se mobiliza em torno da utilização sustentável do recurso. Produzir mais, em menos espaço e com pouca água é, atualmente, o grande desafio da agricultura, principalmente em regiões nas quais água e terra arável são escassas.

Seth M. Siegel, advogado e ativista ambiental norte americano, autor do livro “Faça-se a Água”, lançado há pouco no Brasil, em entrevista recente a IstoÉ Dinheiro, afirmou que a sociedade precisa se preparar para escassez de água, e a agricultura tem um papel fundamental nesse futuro. Sem gestão adequada do recurso comunidades já sofrem com a falta da água, mas para que a água chegue a população e também abasteça o campo, é preciso a adoção de tecnologias que permitam produzir mais, com menos.

Foi justamente a necessidade de produzir alimentos com poucos recursos naturais que fez de Israel uma referência em gestão. A irrigação por gotejamento nasceu exatamente neste ambiente desértico, mostrando que é possível colher em terras originalmente secas. Para se ter ideia, o índice médio de chuva em Israel é de 600 milímetros por ano - no semiárido brasileiro, o índice é de 800 milímetros anuais. Na região sul, onde está o deserto de Negev, esse índice não chega a 30 milímetros/ano.

Assim, nasceu a israelense Netafim, pioneira na tecnologia de irrigação por gotejamento, com a missão de conduzir a adoção em massa das soluções de irrigação inteligente para combater a escassez de alimentos, água e terra. O objetivo inicial de ‘florescer no deserto’, se transformou em um grande legado de sustentabilidade e compromisso com o meio ambiente.

No Brasil, Embora o volume total de chuva seja favorável a produção agrícola, a sua distribuição ao longo dos meses não acompanha o ciclo das culturas e acaba faltando água justo nas horas mais importantes. Desse modo, a irrigação inteligente vem sendo cada vez mais adotada, tanto pela preocupação dos produtores em garantir abastecimento o ano todo, quanto pelo melhor aproveitamento das culturas quando se fala de produtividade.

Em 2015, a região sudeste vivenciou um dos piores racionamentos de água dos últimos anos. No Espirito Santo, principal região produtora de café conilon, produtores viram os cafezais desfolharem na seca, e a baixa produção levou o governo brasileiro a autorizar a importação de café para atender a demanda das indústrias de solúvel.

Dessa vez quem sofre é a região Centro-Oeste. Brasília e Goiás enfrentam a pior seca dos últimos 30 anos, e os governos locais já decretaram racionamento severo. Os produtores que não tem reserva, estão impossibilitados de cultivar no inverno e, na safra de verão, ficam reféns de chuvas escassas.

Diante dos riscos eminentes de falta de abastecimento, Seth M. Siegel, defende que a irrigação por gotejamento é a única opção para manter a produção de alimentos e garantir o fornecimento de água à população. “Na agricultura é preciso mudar para o sistema de irrigação por gotejamento. Muitas pessoas que leem meu livro esperam deparar apenas com coisas ruins, mas a realidade é que já existem tecnologias capazes de mudar a forma como lidamos com a água”, disse o ambientalista em entrevista.

Verdade que, diferente de Israel, o Brasil possui a maior reserva de água do mundo, na Amazônia. Mas, é preciso considerar que nem sempre a maior concentração de água está localizada nas regiões populosas. “Usar as condições climáticas como desculpa, por outro lado, é inaceitável. O motivo pelo qual escrevi o livro é por estarmos diante de um risco global. Precisamos nos preparar para a falta d’água e não adianta rezar. É preciso mudar a agricultura, construir a infraestrutura para o reuso da água. Se fizermos tudo isso, é impossível ficar sem água, a menos que aconteça uma catástrofe”, destacou Siegel.

O Brasil possui uma vasta extensão de terra que podem ser aproveitas para o cultivo de alimentos. Mesmo nas regiões mais secas, o planejamento e a adoção das tecnologias certas, permitirão que o país avance como grande potência mundial na produção alimentos, e a irrigação inteligente é uma ferramenta fundamental para construção desse futuro.

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