Madeira na fazenda

A atividade florestal pode ser muito rentável para pequenos produtores caso consigam agregar valor à produção florestal na própria propriedade.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Um projeto desenvolvido pela Embrapa Florestas, com o apoio da Cooperativa Tritícola de Erechim-Cotrel e da Woodmizer, mostra que serrarias portáteis podem ser uma excelente alternativa para agregar valor à madeira na propriedade.

Na análise de viabilidade de uma serraria portátil produzida pela Woodmizer, considerou-se que ela poderia ser comprada através de dois tipos de empréstimos públicos ou de autofinanciamento. Nas três situações a serraria mostrou-se rentável para produtores rurais, pequenas comunidades e prestadores de serviço. Na pior situação, onde um prestador de serviços trabalha com taxas de juros altas e paga um empréstimo de 36 meses para adquirir a serraria, o fluxo de caixa da serraria é positivo, mas o lucro é quase inexistente. No entanto, há uma boa possibilidade de aumentar o lucro através de melhoria da eficiência e no uso da máquina em mais de um turno. O uso da serraria por um grupo de proprietários rurais ou por uma comunidade é ainda mais rentável porque podem se beneficiar de empréstimos a juros baixos. Os proprietários rurais se beneficiarão ainda do maior valor agregado à madeira e não só da operação da serraria. As comunidades se beneficiam também da geração de emprego em seus limites e com o aumento de renda de seus cidadãos.

Além de benefícios econômicos, os sistemas de produção baseados em serrarias portáteis são mais vantajosos do ponto de vista ambiental, pois há uma diminuição no tráfego de caminhões e máquinas pesadas na área da floresta e em estradas e também há uma descentralização de resíduos.

Não há restrições tecnológicas quanto ao uso de serrarias portáteis, pois são mais precisas e eficientes que muitas serrarias estacionárias tradicionais.

No caso do material serrado ser eucalipto, seu uso é altamente desejável uma vez que os defeitos ligados a tensões de crescimento aumentam com o tempo e o desdobro da madeira deve ser feito o mais rápido possível após a derrubada.

Uma serraria necessita de aproximadamente 100 ha de florestas de eucalipto e pinus para funcionar de forma sustentável, isto é, sem que nunca falte matéria-prima para suprí-la. Como a floresta tem um ciclo longo, de 15 a 20 anos no caso destas duas espécies, 5 a 8 ha de florestas devem ser plantados e cortados anualmente. Dificilmente apenas um proprietário pode comprar uma serraria, porque não teria florestas em quantidade suficiente para usá-la economicamente, mas 5 ou 6 proprietários podem facilmente se quotizar e suprir uma microrregião com madeira de qualidade.

Algumas agências de desenvolvimento internacionais perceberam o potencial de serrarias portáteis em programas de manejo florestal comunitário e apóiam a execução de projetos em vários países. É o caso das Nações Unidas e o projeto Bolfor na Bolívia e de programas da ITTO em florestas tropicais do Peru. Programas ligando o uso de serrarias portáteis em áreas de agricultura familiar, plantio de florestas de rápido crescimento, captura de carbono e produção de produtos de madeira parecem ser uma boa alternativa para a promoção de desenvolvimento rural e poderiam ser financiados por doadores internacionais.

Nosso projeto está trabalhando agora com uma serraria menor, fabricada pela Husqvarna, aliada ao uso de secador solar de madeira e ao aproveitamento de resíduos da serraria na produção de cogumelos comestíveis e carvão, duas outras alternativas para agregar mais valor à produção florestal na propriedade.

Os interessados em conhecer a experiência em mais detalhes podem adquirir um documento com um estudo de caso completo, solicitando-o para Embrapa Florestas.

Alternativas interessantes

Abaixo, estão listados alguns fabricantes de serrarias portáteis, com alguns comentários sobre seus produtos:

Woodmizer: serraria a fita, com capacidade de corte de até 10m3 de madeira serrada por dia, conforme o modelo, mas 7m3 é um valor razoável para base de cálculo de relação custo beneficio. Muito prática, vem em carreta e pode ser puxada por carro médio (carreta e serraria pesam aproximadamente 1t). Serra até 90cm de diâmetro e 5m de comprimento, havendo possibilidade de compra de acessório de extensão. Motores a diesel, gasolina ou elétrico, conforme escolha. Preços variando de R$ 25 mil a R$ 125 mil, mais importação e transporte.

Husqvarna: serraria a fita, fabricada na Suécia, possui representante no Brasil. É pequena e é uma grande opção para quem tem áreas pequenas para corte. Desmontável, viaja na caçamba de uma camionete (S10, Ranger ou maior) e pesa aproximadamente 200 kg distribuídos em várias peças. Sua capacidade de corte é de até 4m3 de madeira serrada por dia, mas 3m3 é um valor razoável para cálculo de relação custo-benefício. Serra até 50cm de diâmetro e 3,9m de comprimento, havendo possibilidade de compra de acessório de extensão. O motor é um motor dois tempos de motoserra, com 7hp. O preço está ao redor dos R$ 20 mil.

Lucasmill: serraria com circular, fabricada na Austrália. Desmontável, viaja na caçamba de uma camionete e pesa aproximadamente 200 kg distribuídos em várias peças. Sua capacidade de corte é de até 6m3 de madeira serrada por dia, mas 4m3 é um valor razoável para cálculo de custo benefício. Serra até 1,60m de diâmetro e comprimento de 5m, havendo possibilidade de compra de acessório de extensão. O motor é a gasolina, 4 tempos, de 16 a 25hp. O preço deve estar na casa dos R$ 30 mil.

Vantec: um fabricante nacional, possui máquinas mais transportáveis do que portáteis propriamente ditas, mas oferece tanto serras fita quanto circulares múltiplas, montadas sobre carreta de caminhão. Serra diversos diâmetros, conforme o modelo, com diversas produtividades.

Erich Schaitza

Embrapa Florestas

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