Manejo de espaçamento e amontoa em batata

O manejo cultural do espaçamento entre as plantas nas fileiras possui reflexos na produção de batata, tanto para semente como para o consumo. Já a prática da amontoa pode reduzir a incidência de esverdeamento dos t

18.04.2018 | 20:59 (UTC -3)

A cultura da batata (Solanum tuberosum L.) apresenta grande relevância para a agricultura, contudo, ainda tem-se observado grande variabilidade nos índices de produtividade e na qualidade da produção. Os produtores brasileiros buscam elevar a média para 40t/ha considerando o potencial produtivo da cultivar Ágata, contudo, a média nacional está ainda em aproximadamente 20t/ha e para a Região Sul os valores são ainda menores. Para se elevar os níveis de produtividade se faz necessária a geração de informações para um melhor subsídio ao manejo, particularmente práticas de manejo cultural. Neste particular a amontoa e o espaçamento entre plantas exercem grande influência na formação e produção de tubérculos.

    A amontoa pode exercer efeitos na produtividade por tender a ocasionar um melhor ambiente para o desenvolvimento dos tubérculos devido ao maior volume de solo na camada superficial adjacente. Porém, os efeitos mais facilmente percebidos são em relação às características dos tubérculos colhidos, pois sem amontoa aqueles localizados mais superficialmente no solo tendem a ser expostos à luz solar, principalmente nas fases finais do ciclo.

Nos tubérculos expostos à luz se desencadeia um processo de esverdeamento que ocorre devido à síntese de clorofila com a transformação dos amiloplastos em cloroplastos, associado ao acúmulo de glicoalcaloides que alteram o sabor dos tubérculos, reduzindo a possibilidade de comercialização. Este processo é variável entre os genótipos, sendo a Ágata considerada como propensa ao esverdeamento forte.

Para definição do melhor espaçamento entre os tubérculos no plantio se deve levar em consideração se a finalidade da produção é para batata-consumo ou batata-semente, pois este fator afeta o tamanho dos tubérculos produzidos, sendo esta uma característica que tem representado preocupação junto aos produtores.

Os resultados apresentados neste artigo são oriundos de pesquisa desenvolvida com objetivo de avaliar os efeitos de diferentes espaçamentos de plantas na linha de cultivo e épocas de realização da amontoa sobre a produtividade e características dos tubérculos de batata, com o objetivo de definir a melhor combinação destes fatores para o manejo da cultura no campo.

 

O experimento foi desenvolvido junto ao Departamento de Agronomia, no Campus da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), em Guarapuava, Paraná, 25°23’02” S, 51° 29’43” W. O clima regional é classificado como Cfb – subtropical mesotérmico úmido. O solo do local é classificado como latossolo bruno distroférrico. Aproximadamente 60 dias antecedendo ao plantio foi realizada a calagem com o objetivo de elevar o pH do solo para 6,2.

O plantio da batata foi realizado no dia 23 de dezembro utilizando-se a cultivar Ágata com tubérculos-semente certificados de primeira geração (G1), tipo 2 (diâmetro entre 40mm a 50mm). Utilizou-se delineamento inteiramente casualizado em fatorial 4 x 4 com quatro repetições, composto por quatro manejos/épocas de realização da amontoa: 1) amontoa no plantio (considerada como antecipada), 2) amontoa em 19 de janeiro, aos dez dias após a emergência (DAE), sendo esta a prática mais difundida entre os produtores na região, 3) amontoa em 29 de janeiro aos 20 DAE, e 4) Sem realização de amontoa e por quatro espaçamentos de plantas na linha, sendo: 16cm, 22cm, 28cm e 34cm, que resultaram em população de 78.125, 56.818, 44.643 e 36.765 plantas/ha, respectivamente. Cada parcela foi composta por quatro fileiras de 6m de comprimento, sendo avaliados quatro metros das duas fileiras centrais. A dessecação das plantas foi realizada aos 85 DAE com o objetivo de uniformizar as características dos tubérculos para a colheita que ocorreu em 20 de abril aos 100 DAE.

As características analisadas foram produtividade, massa média do tubérculo; número médio de tubérculos por planta e a taxa de ocorrência de esverdeamento dos tubérculos. Consideraram-se a ocorrência e a intensidade de esverdeamento, sendo esta última análise realizada pela atribuição de valores de porcentagens de acordo com a área esverdeada de cada tubérculo: 1% a 30% (esverdeamento fraco), 50% (esverdeamento médio), 70% (esverdeamento forte) e 90% (esverdeamento muito forte).

Resultados e discussão

As avaliações demonstraram que o aumento do espaçamento de plantas na fileira é acompanhado por um sequencial aumento no tamanho dos tubérculos produzidos, sendo que nesta condição o número de tubérculos por planta apresentou comportamento oposto, decrescendo com o aumento do espaçamento. A produtividade sendo um resultado da associação destes dois fatores apresentou comportamento que pode ser claramente representado por uma equação de quadrática, como se pode verificar na Figura 1 (A), (B) e (C).

Neste caso, para a produção de batata-consumo, onde são preferidos os tubérculos maiores, a melhor alternativa seria a utilização de menores densidades de plantas. Este resultado colabora para consolidar as tendências de grande parte das lavouras brasileiras, em que os produtores vêm percebendo ao longo do tempo que em áreas para a produção de tubérculos-consumo a produtividade resultante de altas densidades de plantas em geral não compensa, devido à necessidade de maior quantidade de batata-semente e à redução do valor de mercado pelo menor tamanho dos tubérculos produzidos. Já ao contrário, o aumento da densidade de plantas pode ser uma estratégia de manejo adequada quando o objetivo é a produção de tubérculos-semente, onde diferente dos padrões para consumo, são preferidos tubérculos de menor tamanho.

O número médio de tubérculos por planta foi afetado significativamente pelas épocas de amontoa. As plantas cultivadas nas condições dos tratamentos sem amontoa e amontoa no plantio produziram um maior número de tubérculos e consequentemente apresentaram maior produtividade (Tabela 1).

 

Tabela 4 - Número médio de tubérculos por planta, submetida a quatro épocas de amontoa

Tratamento

Nº de tubérculos

(planta-1)

Produtividade (kg ha-1)

Amontoa no plantio

12,114 a

61.990 a

Amontoa aos 10 DAE

11,053 b

49.495 b

Amontoa aos 20 DAE

10,647 b

47.234 b

Sem amontoa

11,703 a

60.908 a

DMS

0,561

10,52

Tratamento

Nº de tubérculos

(planta-1)

Produtividade (kg ha-1)

Amontoa no plantio

12,114 a

61.990 a

Amontoa aos 10 DAE

11,053 b

49.495 b

Amontoa aos 20 DAE

10,647 b

47.234 b

Sem amontoa

11,703 a

60.908 a

DMS

0,561

10,52

Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo Teste de Tukey (p < 0,05).

Nas condições do cultivo sem amontoa os tubérculos apresentaram maior taxa de ocorrência e intensidade de esverdeamento (Tabela 1). Este é um resultado que se deve fundamentalmente ao efeito mais imediato ocasionado pela prática da amontoa, pelo aumento da camada de solo sobre os tubérculos, tendendo a prolongar o período em que estes permanecem abrigados da incidência de luz direta, em contraposição aos efeitos ocasionados pelo crescimento daqueles mais superficiais e, especialmente das precipitações, que agem reduzindo a espessura da camada de solo sobre os tubérculos. Neste cultivo sem amontoa a redução do espaçamento de plantas aumenta a incidência de esverdeamento dos tubérculos, por ocasionar maior exposição à luz com o afloramento dos tubérculos para a superfície do solo.

 

Tabela 2 - Taxa de ocorrência e intensidade de esverdeamento de tubérculos de batata submetidos a quatro manejos de amontoa

Amontoa

Esverdeamento (%)

Ocorrência

Intensidade

Amontoa no plantio

         4,68   b

0,44 b

Amontoa aos 10 DAE

         5,23   b

 0,34  b

Amontoa aos 20 DAE

         8,33   b

 0,91  b

Sem amontoa

         21,87 a

1,66  a

                 DMS

   6,02

0,82

Amontoa

Esverdeamento (%)

Ocorrência

Intensidade

Amontoa no plantio

         4,68   b

0,44 b

Amontoa aos 10 DAE

         5,23   b

 0,34  b

Amontoa aos 20 DAE

         8,33   b

 0,91  b

Sem amontoa

         21,87 a

1,66  a

                 DMS

   6,02

0,82

Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo Teste de Tukey (p < 0,05).

A amontoa antecipada realizada no plantio demonstrou ser uma alternativa que deve ser vista com atenção pelos produtores, pois demonstrou eficiência na redução do esverdeamento, ao mesmo tempo em que apresenta a vantagem de não ocasionar danos nas plantas pela ação do equipamento cultivador utilizado. Tais danos ficaram evidentes na amontoa tardia aos 20 DAE, o que serviu como porta de entrada de patógenos com visível aumento na incidência de doenças, com destaque para requeima (Phytophthora infestans) e canela preta (Alternaria solani) mesmo com tratamentos preventivos aplicados.

Conclusões

O aumento do espaçamento de plantas na fileira ocasiona melhores condições para a produção de batata para o consumo, aumentando o tamanho e a massa média dos tubérculos produzidos. Para a produção de batata-semente devem ser preferidos os menores espaçamentos.

A realização da amontoa reduz a incidência de esverdeamento dos tubérculos produzidos. Esta prática, quando anterior à emergência das plantas, beneficia também a produtividade da cultura.

O cultivo com aproximadamente 34cm de espaçamento entre plantas na fileira, associado à realização de amontoa no momento do plantio, destaca-se como a melhor alternativa de manejo para a produção de batata para o consumo.

Clique aqui para ler o artigo na íntegra da Cultivar Hortaliças e Frutas, edição 80.

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