Maracujá para todos os gostos

A ampliação média dos pomares no país tem-se dado a uma taxa de 5,29% ao ano. Como a maioria das frutíferas, o maracujá contribui para valorizar o trabalho dos pequenos produtores e ampliar sua receita.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O Brasil é o maior produtor mundial de maracujá amarelo, tendo cultivado 44.500 hectares em 1996, o que representa um acréscimo de 75,5% em relação a 1990. A cultura adquiriu expressão econômica a partir de 1986, quando uma ampliação significativa dos pomares e da produção levou à profissionalização da atividade. Destacam-se como principais produtores Pará, Bahia, Sergipe, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

A ampliação média dos pomares no país tem-se dado a uma taxa de 5,29% ao ano. Como a maioria das frutíferas, o maracujá contribui para valorizar o trabalho dos pequenos produtores e ampliar sua receita. Entre as frutas, tem sido considerado boa opção por oferecer tanto o mais rápido retorno econômico, como a oportunidade de uma receita distribuída pela maior parte do ano.

A expansão dos pomares e das opções de comercialização do maracujá exigiu uma tecnologia de produção mais adequada, na qual se inserem cultivares capazes de atender aos mercados mais exigentes. Na falta dessas cultivares, as mudas têm sido produzidas a partir de sementes de frutos sem características definidas, nem garantia de origem, resultando em pomares com plantas de rendimento e qualidade bastante variáveis.

A produtividade nacional é extremamente baixa, inferior a 10 t/ha/ano. Pomares bem conduzidos, com tratos culturais adequados, controle preventivo de doenças e adubações parceladas, alcançam cerca de 20 a 25 t/ha/ano, mas os elevados custos de produção têm exigido dos produtores um patamar superior.

Com problemas de qualidade e produtividade, os maracujás cultivados apresentam uma grande variação de tipo. Além da necessidade de classificação, isto gera um descarte considerável e desvaloriza o produto como um todo. Apesar da alta cotação dos frutos na entresafra, o preço médio anual nem sempre consegue cobrir os custos de produção.

Novas cultivares

Por isso, em 1999, o Instituto Agronômico (IAC) lançou no mercado os híbridos da Série 270, as primeiras cultivares de maracujá-amarelo, selecionadas pela qualidade de fruto e produtividade. Após um programa de melhoramento de 9 anos, baseado em seleção massal, retrocruzamentos e teste de progênies, foram obtidos três híbridos intra-varietais F2, o ‘IAC-273’, o ‘IAC-275’ e ‘IAC-277’.

IAC-273 e IAC-277 - Direcionam-se ao segmento in natura. Apresentam frutos maiores e mais pesados que os da maioria dos pomares, correspondendo à classe 3A do mercado atacadista de São Paulo, onde alcançam preços mais elevados. Os frutos têm peso médio de 230g; 8,8 cm de comprimento por 7,3 cm de largura; mínimo de 50% de polpa; coloração interna alaranjada; teor de sólidos solúveis totais de 14-15 °Brix. Cerca de 45% desses frutos atingem a classificação superior do mercado (4A), principalmente quando colhidos em épocas de menor pluviosidade, e em plantas devidamente conduzidas.

O IAC-273 é um cruzamento entre seleções IAC Açaí e Monte Alegre, seguido pelo retrocruzamento para o primeiro. Os parentais resultaram de três ciclos de seleção massal com teste de progênie, em populações originárias de sementes de campos comerciais de Açailândia-MA e Monte Alegre do Sul-SP.

O IAC-277 é um cruzamento entre a seleção experimental IAC-Monte Alegre e a seleção comercial Sul-Brasil, seguido pelo retrocruzamento para o segundo. A diferença entre os dois híbridos está na produtividade, sendo 10% superior no IAC-273. Estão sendo cultivados juntos, em pomares destinados ao mercado de frutas frescas, com o mesmo padrão de fruto.

A principal vantagem destes materiais é a alta produtividade, de 45-50 t/ha/ano, com polinização manual complementar. Esses híbridos apresentaram, portanto, um acréscimo de até 100% na produtividade atualmente obtida nos pomares paulistas. Quando associada ao padrão superior de frutos, permitiram ao produtor agregar maior valor ao produto e reduzir o custo de produção por caixa. O produtor já aprovou a qualidade dos frutos, superior na apresentação e no tamanho, gerando intensa demanda pelas sementes dessas cultivares em 2000.

IAC-275 - Resulta do mesmo tipo de combinação anteriormente apresentada, envolvendo seleções experimentais e populações originárias de sementes de campos comerciais de Açailândia-MA e Guaimbê-SP.

O híbrido IAC-275 tem dupla finalidade: criado para a agroindústria por seu alto rendimento industrial, em função de sua casca fina, é também comercializado no mercado in natura, principalmente nos mercados que privilegiam o peso, e não apenas o tamanho. Seus frutos são do padrão 2A do mercado atacadista, com até 180g de peso, portanto, menores que os anteriores. Desde o início do seu cultivo comercial, atraiu o interesse particular da agroindústria. Seus frutos são ovais, de casca inferior a 5mm, com cavidade interna completamente preenchida, com sólidos solúveis totais (SST) médio de 15° Brix. A indústria tem operado com valores ao redor de 13 °Brix, e a elevação ora conseguida representa um sensível acréscimo de rendimento em suco. Sua polpa representa mais de 52% do fruto, e na maioria deles, é de coloração alaranjada-intensa, extremamente atrativa e aromática. A produtividade média foi de 48 t/ha/ano, com polinização manual complementar.

Em épocas de excesso de oferta, ou quando o produtor direciona sua produção exclusivamente para mercados muito exigentes (CEAGESP, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília), os frutos dos híbridos ‘IAC-273’ e ‘IAC-277’ têm preferência. Destacam-se pela aparência e pelo tamanho. O ‘IAC-275’, por sua vez, teve boa receptividade junto aos produtores que direcionam sua produção, ou parte dela, para a agroindústria de sucos. Onde não se faz a classificação dos frutos, sua apresentação também satisfaz o consumidor de frutas frescas.

Tecnologia de produção

A tecnologia de produção atualmente recomendada para a cultura na região Sudeste tem sido eficiente para a obtenção de frutos de alta qualidade e com produtividade superior a 45 t/ha, oferecendo ao produtor os benefícios do material selecionado.

Para cultivá-los, ressalta-se a importância da polinização manual para atingir o potencial produtivo e aumentar o tamanho dos frutos, um esforço altamente recompensado pelo acréscimo de 50-60% na produtividade e na elevação do padrão dos frutos. O controle fitossanitário preventivo, também já recomendado para todos os pomares comerciais, deve ser feito sistematicamente. Considera-se que a adoção dessas técnicas permite triplicar o lucro do produtor.

Cultivados comercialmente há pouco mais de 2 anos, os híbridos IAC têm apresentado excelente desempenho em produtividade e qualidade de fruto na região Sudeste. Em diferentes locais, as plantas têm-se apresentado bastante vigorosas, produtivas, com razoável tolerância de campo às principais doenças foliares que afetam a cultura. Não apresentam resistência à fusariose, por não terem sido selecionadas para esta finalidade.

Estima-se que já existam 280.000 plantas desses cultivares em campo, 75% delas em produção na safra 99/2000, resultado das sementes distribuídas em 1999. Em 2000, foram comercializadas sementes para reforma e ampliação de 15% da área ora cultivada, para produtores de todos os estados da federação. A demanda foi maior nas regiões Sudeste e Sul, sendo os estados de SP, MG, PR, BA e SC os mais expressivos na aquisição dos novos cultivares.

Laura Maria Molina Meletti

IAC

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