Mercado exigente

Entidades no Mato Grosso do Sul estão se mobilizando para sensibilizar produtores sobre a necessidade de disponibilizar alimentos seguros e de qualidade, que atendam os mercados mais exigentes, com baixos custos de produção.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Diversos fatores foram determinantes para a conquista da liderança brasileira no comércio internacional da carne bovina. Em primeiro lugar, pode-se destacar as ações desenvolvidas em prol da erradicação da febre aftosa, que resultaram na melhoria da percepção de qualidade do nosso produto pelos países importadores. Outra característica adicional de valorização foi a constatação da produção de alimento seguro, uma vez que a maior parte do nosso rebanho é alimentado a pasto. Outros fatores como solo, clima e recursos humanos passaram a constituir vantagens comparativas que, somadas à extensão territorial, tem permitido ao país oferecer, aos mercados nacional e externo, carne bovina de alta qualidade, em volumes crescentes e a preços competitivos. Além desses fatores, as iniciativas de rastreamento da carne bovina destinada à exportação, especificamente para a União Européia, têm contribuído de maneira significativa para o atendimento das expectativas dos consumidores internacionais quanto à segurança dos alimentos. No entanto, a simples implantação do rastreamento não garante a qualidade do produto final.

Para assegurar a qualidade e a segurança dos alimentos, grupos de consumidores, ONG’s e redes de supermercados ligadas ao comércio nacional e internacional de carnes, têm exigido dos seus fornecedores a implantação de processos de controle de qualidade, certificando que os produtos ofertados estão de acordo com as normas e exigências do mercado. Destes, pode-se destacar o sistema APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), conhecido internacionalmente como HACCP. Os princípios desse sistema, além de garantir a produção de alimentos seguros à saúde do consumidor, são também utilizados nos processos de melhoria da qualidade do produto final, em vários países. Ele tem como pré-requisito a implantação das Boas Práticas Agropecuárias no campo, como também a implantação das Boas Práticas de Fabricação na indústria e nos demais elos da cadeia produtiva da carne bovina.

Alimentos seguros: são aqueles que possuem atributos de qualidade que atendem os interesses dos consumidores, e que não contém resíduos de natureza química, física e biológica ou de qualquer outra substância que possa acarretar problemas à saúde do consumidor.

Além da qualidade e da segurança dos alimentos, outras exigências estão sendo impostas pelo mercado. Respeito ao meio ambiente, equidade social e bem-estar animal são fatores que devem ser considerados pelo setor produtivo. São também importantes a gestão da qualidade dos suplementos utilizados na alimentação animal (livre de antibióticos, pesticidas, hormônios e proteínas de origem animal, tais como cama de frango, farinha de carne e farinha de ossos) e a qualidade dos demais insumos (adubos, fertilizantes, vacinas e medicamentos). Para orientar o setor produtivo no atendimento dessas novas demandas de mercado existem diversas iniciativas em fase de estudo e implantação. Destas pode-se destacar a publicação do documento Boas Práticas de Produção – BPP, editado pela Embrapa Gado de Corte, como também a publicação Boas Práticas Agropecuárias - Bovinos de Corte, elaborada pelas diversas entidades integrantes da Câmara Setorial Consultiva da Bovinocultura e Bubalinocultura do estado de Mato Grosso do Sul, vinculada à Secretária de Estado da Produção e do Turismo (Seprotur). Um dos principais objetivos desta publicação é sensibilizar os produtores rurais de Mato Grosso do Sul sobre a necessidade de disponibilizar, para o mercado consumidor, alimentos seguros com atributos de qualidade que atendam os mercados mais exigentes e com baixos custos de produção. Além disso os sistemas produtivos devem ser conduzidos de forma sustentável, para garantir a inserção e a manutenção do Brasil no mercado mundial de carnes.

A implantação voluntária das Boas Práticas Agropecuárias (BPA) irá também permitir ao produtor a identificação e o controle, com mais facilidade, dos diversos fatores que influenciam a produção sustentável de alimentos com atributos desejáveis de qualidade e isentos de resíduos. Isso irá contribuir também para maior satisfação do consumidor, tornando as empresas mais competitivas, ampliando as possibilidades de conquista de novos mercados, além de propiciar a redução de perdas de matéria-prima e do produto final.

Além dos cortes especiais, que melhor remuneram a carne brasileira, o Brasil também exporta para a Comunidade Européia, dentro da cota Hilton, os cortes produzidos da parte nobre do boi. Apesar do baixo volume de exportação, os preços praticados para essa cota são muito superiores aos demais cortes exportados dentro de outras cotas para a UE, ou outros países. O mercado europeu representa, hoje, 42% das exportações brasileiras de carne bovina e tem se tornado cada vez mais exigente com relação à qualidade do produto. A partir de 2005, os varejistas da Comunidade Européia passarão a exigir que os produtos a serem comercializados nos países membros sejam certificados pelo EurepGap (Boas Práticas de Produção Européias).

De olho nesse mercado, as indústrias frigoríficas brasileiras, juntamente com o setor produtivo, estão investindo na implantação das boas práticas agropecuárias para garantir a produção de alimentos seguros e de qualidade. Em Mato Grosso do Sul, a Associação Sul-mato-grossense dos Produtores de Novilho Precoce (ASPNP), em parceria com o Frigorífico Friboi, está preparando um grupo de produtores para a implantação das Boas Práticas e obtenção da certificação EurepGap. Essas iniciativas estão ocorrendo nas diversas regiões produtoras e têm provocado mudanças no conceito de produto final e na reestruturação das cadeias produtivas de carne bovina.

A inserção definitiva das carnes brasileiras na economia mundial e seu fortalecimento no mercado interno vão depender da assimilação desses conceitos pelos diferentes elos da cadeia produtiva e da sua agilidade em atender, em tempo hábil, essas novas demandas. Se aplicada corretamente, a implantação das Boas Práticas Agropecuárias, além de útil, deverá representar um passo importante para se obter o controle efetivo da qualidade e da certificação do produto final.

Destaque brasileiro

A bovinocultura de corte tem se destacado na economia nacional e vem assumindo posição de liderança no mercado mundial de carnes. O Brasil possui hoje o maior rebanho comercial do mundo (cerca de 180 milhões de cabeças), é o segundo maior produtor mundial de carne bovina, com cerca de 7,5 milhões de toneladas, e a partir de 2003 passou a ser o maior° exportador mundial, destacando-se tanto no comércio de carnes frescas como no de industrializadas. Para 2005, segundo estimativas do Serviço Agrícola Internacional (FAS) do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o Brasil deverá exportar 1,62 milhões de toneladas de carne bovina, mantendo-se em primeiro lugar na lista dos maiores exportadores mundiais. A Austrália ainda deverá ocupar a segunda posição, com a mesma quantidade a ser exportada em 2004 ou seja, de aproximadamente 1,3 milhões de toneladas. Os Estados Unidos perderam grande parte do mercado em 2004, devido a um caso de doença da vaca louca no rebanho americano, ocorrido em dezembro de 2003. As estimativas de exportação para 2004 para os EUA são de 202 mil toneladas, bem inferior às 1,14 milhões de toneladas exportadas em 2003. Para 2005, os EUA deverão assumir a posição de maior comprador mundial de carne bovina.

Ezequiel Rodrigues do Valle

Embrapa Gado de Corte

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