Milho limpo

Há alternativas para controlar as invasoras na cultura do milho, mas o manejo integrado continua a melhor.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

As plantas daninhas podem interferir negativamente na produção do milho principalmente devido à competição por água e nutrientes minerais, além de luz e dos possíveis efeitos alelopáticos, podendo também hospedar pragas e organismos causadores de doenças e nematóides.

Na cultura do milho, em algumas glebas, espécies como papuã (

), picão preto (

), leiteira (

) e corriola (

spp), têm causado sérios problemas por dificultarem e reduzirem o rendimento da colheita mecanizada, além de reduzirem a qualidade do produto colhido.

A interferência das plantas daninhas tem importância à medida que se estabelece a competição pelos fatores de produção. Além disso, os efeitos alelopáticos justificam a intervenção para o manejo das espécies indesejáveis, de modo a evitar as suas conseqüências negativas no crescimento e desenvolvimento das culturas.

Os prejuízos causados pelas plantas daninhas não devem ser atribuídos somente à competição exercida pelas plantas daninhas sobre as plantas da cultura mas sim a um conjunto de fatores. Esses fatores podem representar efeitos diretos (competição, alelopatia e interferência na colheita) ou indiretos (hospedagem e transmissão de doenças e pragas).

O nível de competição está relacionado com diversos fatores, tais como as espécies em competição e as sua densidades populacionais. Esses fatores podem também sofrer modificações em função dos fatores de ambiente, tais como a disponibilidade de água no solo, de práticas culturais tais como a adubação e correção da acidez do solo, além das variações climáticas durante o ciclo das espécies em confronto. O período de competição entre a cultura e as plantas daninhas presentes no local, assume grande importância para o estabelecimento de um programa de manejo adequado, de modo a minimizar os possíveis efeitos indesejáveis antes que tal situação ocorra de maneira irreversível das plantas daninhas na cultura do milho (Silva et al., 1998).

A pressão de infestação assume também relativa importância tendo em vista a variação na densidade de plantas daninhas observada em algumas áreas cultivadas. Têm sido observados níveis populacionais médios que chegam a atingir 400 plantas/m2, além da própria diversidade da sua composição florística. Além disso, as gramíneas são geralmente mais competitivas. Áreas com elevadas infestações de papuã (

), irão apresentar elevadas perdas na produção de grãos.

Na cultura do milho e do feijão, o uso de herbicidas constitui uma opção para o manejo da comunidade infestante presente no local, tendo como principais vantagens o controle efetivo das plantas daninhas inclusive na linha de plantio, aliado à rapidez da operação e sem causar injúrias ao sistema radicular do milho (porta de entrada de doenças). Existem várias opções para o controle químico de plantas daninhas nessa cultura, com herbicidas passíveis de aplicação em pré e em pós-emergência.

As recomendações encontram-se nos documentos das reuniões das comissões de pesquisas. Eles podem ser aplicados de maneira a economizar tempo e mão-de-obra. Enquanto a capina manual de um hectare requer cerca de 10 homens/dia, a aplicação de um herbicida, dependendo do equipamento empregado, pode levar menos de 15 minutos/ha. No entanto, causa impacto ao meio ambiente e aos custos de produção dessas culturas, uma vez que são insumos caros e, muitas vezes, não recomendados para determinadas propriedades, especialmente aqueles baseadas no trabalho familiar. Dessa forma, a busca por métodos alternativos deve ser um objetivo de pesquisa.

Tradicionalmente, o manejo de plantas daninhas tem se utilizado do controle químico. Mais recentemente, com os problemas causados pelo uso indevido de herbicidas e pelo impacto que causam no ambiente e nos custos de produção, medidas complementares e alternativas a eles, têm sido empregadas. Entre essas alternativas, o uso de restos de culturas, através de seus efeitos físicos e alelopáticos, tem se mostrado efetivo.

Embora a alelopatia tenha potencial no manejo de plantas daninhas, são necessários ainda estudos para a comprovação de sua importância em condições de campo. No entanto, é reconhecido que a cobertura morta, proporcionada por restos de culturas, desempenha papel importante no controle de plantas daninhas, em plantio direto, pois muitas espécies não germinam se cobertas por uma camada uniforme de palha, fazendo-o somente quando pelo menos parte dos resíduos se decomporem. Isso causa atrasos na germinação de sementes e na emergência de plântulas, reduzindo as populações dessas espécies indesejáveis na cultura. Esses efeitos dependem do tipo de restos de cultura e de sua distribuição e quantidade, assim como das condições climáticas.

Os restos culturais de aveia preta têm demonstrado grande potencialidade no controle de plantas daninhas no sistema plantio direto. Além de produzir grande quantidade de matéria seca, cobrindo o solo, a cultura pode ser usada para a produção de sementes e de forragem para a produção de carne e de leite, possibilitando importante renda aos agricultores.

O azevém é outra espécie utilizada para tal propósito, devido ao fato de ser uma espécie adaptada, com ressemeadura natural e controlar várias espécies de plantas daninhas, como papuã, milhã e guanxuma. No entanto, assim como a aveia preta, pode infestar as próximas culturas de inverno, constituindo-se planta daninha a essas espécies.

A ervilhaca é uma leguminosa muito usada para cobertura de solo na região sul, por proporcionar proteção ao solo e melhorar as características físicas, químicas e biológicas do solo, além de produzir forragem de qualidade para os animais, sendo, no entanto, sensível ao pisoteio. Fornece considerável quantidade de nitrogênio às culturas integrantes dos sistemas de produção. Produz quantidades relativamente elevadas de matéria seca. No entanto, seus restos culturais decompõem-se rapidamente, tendo pouca persistência, sendo, portanto, insuficiente para controlar plantas daninhas.

Trabalhos de pesquisa realizados no Rio Grande do Sul demonstraram que os resíduos culturais de espécies de inverno, mantidos na superfície do solo, controlam algumas espécies de plantas daninhas que germinam e se desenvolvem durante o verão, possibilitando, pelo menos, a redução no uso de herbicidas dessecantes. Assim, restos culturais de aveia preta, de aveia branca, de azevém, de nabo forrageiro e de ervilhaca foram os mais eficientes no controle de plantas daninhas em pré-semeadura (Tabela 1 -

).

Durante o ciclo das cultura, os restos culturais de aveia preta, de aveia branca e de azevém foram os mais eficientes no controle de guanxuma, de papuã e de picão preto (Tabela 2 -

).

Os sistemas de produção usados no Sul do Brasil, nos quais duas culturas são semeadas no mesmo ano, possibilitam que os restos culturais sejam usados também em programas de manejo integrado de plantas daninhas. Nesses programas, pode-se usar herbicidas de pós-emergência, onde e quando ocorrerem plantas daninhas cujo controle por restos culturais não tenha sido suficiente para que o desenvolvimento da cultura ocorra sem a interferência dessas plantas indesejáveis. Escapes podem ocorrer em anos com condições erráticas de clima, quando a umidade do solo é suficiente para a germinação de sementes de plantas daninhas, mas não o é para lixiviar possíveis compostos alelopáticos de restos culturais para o solo. Escapes podem ocorrer também em anos chuvosos, quando esses compostos, por serem de elevada solubilidade em água, são lavados para camadas mais profundas do solo, abaixo da camada onde germinam as plantas daninhas.

As culturas de inverno podem ter diferentes usos, como, por exemplo, produção de grãos, forragem ou unicamente para cobertura de solo.

O corte de espécies destinadas exclusivamente à cobertura de solo deve ser realizado na floração, podendo ser feito usando-se roçadora ou rolo faca. Herbicidas dessecantes também podem ser usados, embora impliquem algum impacto no ambiente e nos custos de produção.

No caso de ervilhaca, o seu manejo pode também ser realizado mecanicamente, ou mediante o uso de herbicidas. Os herbicidas para essa finalidade são os produtos à base de paraquat ou 2,4-D. Quando a cultura a ser estabelecida for o milho, o manejo poderá ser feito pelo uso de herbicidas pertencentes ao grupo das triazinas, os quais, além de dessecarem a ervilhaca, apresentam efeito residual no solo, controlando as plantas daninhas durante o ciclo de milho, reduzindo, assim, os custos de produção.

A distribuição de restos culturais na superfície do solo é importante para que haja formação de uma camada uniforme de palha. No caso de culturas que se destinam também à produção de grãos, o emprego de picador e de distribuidor de palha, bem regulados e balanceados, capazes de fracionar a palha e de distribuí-la uniformemente na mesma largura da plataforma de corte da automotriz, facilita a operação de semeadura da cultura seguinte e o controle de plantas daninhas. Quando a palha é uniformemente distribuida sobre o solo, obtém-se máximos efeitos físicos e químicos sobre as plantas daninhas, ocorrendo, também, melhor funcionamento de herbicidas que porventura sejam necessários para complementar o controle.

Quando para pastoreio, é fundamental que o manejo da pastagem seja feito quando o solo apresentar condições adequadas de umidade. O manejo de animais também é importante, pois a manutenção destes nessas áreas em condições de chuva e, portanto, com solo muito úmido provoca amassamento de plantas, o que altera os respectivos ciclos, o que faz com que, mais tarde, sejam necessários herbicidas dessecantes para o seu controle.

Embrapa Trigo

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