Mira torta

Uma avaliação com pulverizadores hidropneumáticos mostrou que regulagens básicas e fundamentais deixam de ser realizadas pelos operadores tornando a operação ineficiente

10.03.2016 | 20:59 (UTC -3)

Após o transplante das culturas perenes para o campo, os produtores passam a enfrentar uma série de desafios para manter as plantas longe do ataque das pragas, doenças e plantas daninhas. Como normalmente esses ataques resultam em elevadas perdas na produtividade das lavouras, torna-se necessário que as operações de controle sejam realizadas de forma rápida, mas também eficiente. Desta forma, deve-se fazer uso adequado dos pulverizadores e todos os outros fatores envolvidos na aplicação. Para aplicações em culturas perenes como café, abacate e citros, os pulverizadores hidropneumáticos se destacam, pois eles apresentam ao mesmo tempo boa capacidade operacional e boa penetração da calda no dossel dessas plantas, que normalmente é muito fechado.


Entretanto, muitas vezes, antes da pulverização, os operadores ou técnicos responsáveis pela aplicação levam em consideração apenas a etapa de calibração do pulverizador, ou seja, são realizadas apenas alterações na velocidade e ou pressão de trabalho para ajuste do volume de calda que será aplicado. Dessa forma, se esquecem de um procedimento de suma importância, o qual deve ser realizado anteriormente à calibração. Para que o pulverizador fique operacionalmente preparado, deve-se realizar a regulagem do mesmo. Esse procedimento consiste na verificação visual e operacional de todos os componentes do pulverizador, além da adequação destes quando necessário. No caso dos pulverizadores hidropneumáticos é fundamental se ater ao direcionamento dos bicos de pulverização, ao posicionamento das aletas de condução da cortina de ar e ao dimensionamento do ventilador. Esses aspectos são diretamente responsáveis pela correta distribuição e deposição da calda na lavoura. Durante a regulagem estas configurações devem se adequar ao produto aplicado e ao alvo a ser atingido, ou seja, o inseto ou doença que se deseja controlar e as características da cultura em questão.

Ademais, os pulverizadores hidropneumáticos possuem como característica a produção de gotas pequenas, um dos aspectos que justificam a sua boa cobertura e penetração da calda no dossel das plantas. Porém, esse tamanho de gota facilita a ocorrência de deriva, que é caracterizada pelo deslocamento das gotas geradas pela pulverização da calda para locais diferentes de onde está sendo realizada a aplicação. Quando a deriva atinge áreas adjacentes com culturas suscetíveis, áreas de reserva ou de habitação, pode causar sérios prejuízos tanto ambientais como financeiros. Estudos já realizados apontam que aplicações feitas com pulverizadores hidropneumáticos podem ser bastante ineficientes, chegando a perder mais da metade do produto aplicado. Outra questão é que a correta avaliação desses pulverizadores é complexa, principalmente por requerer equipamentos para a coleta da calda pulverizada na vertical, o que dificulta a realização dessa prática na maioria das propriedades agrícolas. Esses equipamentos, em geral, são de custos elevados e poucos difundidos no Brasil, sobretudo, por não existir em nosso País a obrigatoriedade de se realizar inspeções periódicas em pulverizadores. Desta forma, torna-se necessário o surgimento de formas alternativas para verificar a qualidade das aplicações com os pulverizadores hidropneumáticos.

Foi realizada na região do Alto Paranaíba (MG) avaliação de 30 pulverizadores hidropneumáticos, no período compreendido entre os meses de maio e outubro de 2012. Em síntese, o objetivo geral do trabalho foi avaliar a uniformidade de distribuição de calda proporcionada por estes pulverizadores em lavouras de café. Com esse intuito, foi construída uma estrutura coletora de líquido vertical para avaliação de uniformidade de distribuição volumétrica vertical, constituída por 20 tubos de PVC com uma das extremidades vedada, contendo apenas uma saída onde foi adaptada uma mangueira siliconada, a qual levava o líquido até provetas graduadas. A outra extremidade foi cortada em formato de bisel. A estrutura coletora possuía 3,2 metros de altura, sendo que os tubos foram sobrepostos com ângulo de 45° em relação ao plano horizontal

Antes de cada avaliação, a estrutura era umedecida e, em seguida, realizada a pulverização simulando uma aplicação normal. Para isso, o pulverizador foi deslocado em frente à estrutura quantas vezes fossem necessárias para coletar quantidade de líquido suficiente para a realização da leitura nas provetas.

Para verificar se o volume de calda coletado era realmente condizente com o necessário para ser aplicado na lavoura da propriedade, realizou-se a quantificação do volume vegetativo das plantas. Posteriormente, se recorreu ao teste estatístico (qui-quadrado), para verificar se a quantidade de calda pulverizada realmente estava em conformidade com o necessário para o respectivo volume vegetativo mensurado.

Em média, a uniformidade de distribuição vertical observada nos pulverizadores avaliados foi de 19,5%, sendo que em mais de 60% deles não havia uniformidade de distribuição de calda proporcional ao volume vegetativo das lavouras. Isso ocorre, provavelmente, pela utilização de pontas hidráulicas com vazão inadequada. Seja por apresentarem elevada variação da vazão, não seguirem o padrão de distribuição da cultura ou estarem danificadas. As pontas são as partes mais importantes desses pulverizadores. Elas são responsáveis diretamente pela fragmentação em gotas da calda aplicada e no caso dos hidropneumáticos juntamente com o ventilador, são também responsáveis pela distribuição nos diferentes estratos da lavoura. Porém, muitas vezes a manutenção, a limpeza e a troca desses componentes são negligenciadas, o que pode acarretar grande ineficiência ao processo de pulverização. Isso pode ter contribuído para a falta de uniformidade detectada nesse trabalho.

Comparando-se a altura da lavoura com a altura atingida pelas gotas da calda pulverizada, foi analisado e quantificado o volume de calda perdida acima do dossel das plantas. O valor encontrado foi em média 10% do volume total pulverizado (Gráfico 1). Isso implica em maiores custos de produção e contaminação ambiental. Isso ocorreu, possivelmente, por haver um posicionamento inadequado dos bicos de pulverização. Estudos já realizados demonstraram que o correto posicionamento dos bicos é fundamental para se evitar essas perdas e, assim, aprimorar a distribuição volumétrica da calda ao longo do dossel da planta.

Gráfico 1 - Comparação do perfil de distribuição volumétrico obtido em 30 pulverizadores hidropneumáticos e o volume vegetativo de plantas de café

Observou-se na relação entre os valores médios máximos e mínimos de volume vegetativo e deposição de calda (Gráfico 1) que, nos estratos mais inferiores das plantas, o volume de calda aplicado foi muito inferior ou muito acima do que realmente seria necessário para o volume vegetativo em questão. Por outro lado, na relação entre os valores médios de deposição de calda e de volume vegetativo, pode-se notar que eles seguiram o mesmo padrão de distribuição, conforme se varia a altura. Porém, essa relação no terço inferior é de maior volume vegetativo e menor deposição de calda, tendendo a se igualar no terço médio e inverter no superior. Ademais, na relação dos valores médios máximos de volume vegetativo e de deposição de calda nos estratos superiores, fica evidenciado que a deposição de calda sempre foi superior ao que seria necessário para aquele máximo volume vegetativo.

Conclui-se que a metodologia proposta possibilita mensurar a distribuição volumétrica dos pulverizadores hidráulicos empregando-se poucos recursos e apresentando resultados satisfatórios. A maioria dos pulverizadores avaliados não proporciona uniformidade de distribuição volumétrica vertical, quando se leva em consideração a relação com o volume vegetativo das plantas. O que demonstra a negligência existente com as técnicas preconizadas pela tecnologia de aplicação. Pequenos ajustes no direcionamento do jato de ar ou nos bicos hidráulicos, provavelmente proporcionariam bons resultados. Por fim, ressalta-se a necessidade da implantação de políticas de inspeções de pulverizadores em geral, a fim de se popularizar técnicas voltadas para aprimorar a qualidade operacional dos pulverizadores e elevar a eficiência das aplicações de agroquímicos.

Este artigo foi publicado na edição 145 da revista Cultivar Máquinas. Clique aqui para ler a edição.

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