Mofo na rede: Sclerotinia sclerotiorum

Com importância crescente nas lavouras de soja do Brasil Sclerotinia sclerotiorum passou a ser monitorado a partir de 2008/09 em um esforço conjunto de instituições públicas e privadas

18.09.2017 | 20:59 (UTC -3)

O mofo-branco, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary, é uma das doenças de plantas mais antigas no mundo, afetando mais de 400 espécies, inclusive soja, feijão, algodão, girassol, canola, tomate, ervilha, entre outras culturas de importância econômica. Os danos ocorrem com maiores frequência e intensidade em regiões de altitude acima de 800m, com clima chuvoso, temperatura amena e alta umidade relativa do ar.

A partir da safra 2006/07 observou-se aumento significativo na incidência e nos níveis de danos nas lavouras de soja no Brasil, tanto nas áreas mais altas do Cerrado, quanto nas mais tradicionais de cultivo do Sul e do Sudeste, chegando a reduzir a produtividade em até 70% em determinadas lavouras. Estima-se que aproximadamente 23% da área de produção de soja brasileira esteja infestada pelo patógeno, compondo aproximadamente 7,7 milhões de hectares que necessitam da adoção de medidas integradas de manejo da doença. Os estados mais atingidos  pelo mofo-branco são Goiás (com mais de 2,0 milhões de hectares infestados), Bahia, Mato Grosso e Paraná (de 1,0 a 2,0 milhões de hectares infestados), Minas Gerais (com 0,5 a 1,0 milhão de hectares infestados) e Mato Grosso do Sul, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (com menos de 0,5 milhão de hectares infestados) (Figura 1). 
Uma característica marcante do patógeno é a produção de escleródios, que são estruturas de sobrevivência formadas por aglomerados de hifas, comumente arredondados ou alongados, de coloração preta e consistência firme. O escleródio pode germinar de forma carpogênica ou miceliogênica, desencadeando novos ciclos da doença. A germinação miceliogênica ocorre mediante a formação de micélio branco, a partir dos escleródios, ao passo que a germinação carpogênica ocorre a partir da formação de apotécios nos escleródios. A produção de apotécios é a principal fonte de infecção nas plantas de soja. Nos apotécios se formam os esporos do fungo, denominados ascósporos, que são ejetados sob pressão, atingindo as flores da soja, onde encontram condição ideal de germinação e início da infecção. 
A manutenção da umidade do solo é fundamental para a ocorrência da doença, pois a germinação dos escleródios depende de alta umidade (chuvas frequentes), de temperaturas entre 15°C e 25°C, e de pouca incidência de luz solar (sombreamento do solo pelas plantas). Pela dependência dessas condições, a ocorrência de mofo-branco em soja varia de intensidade entre as safras, sendo mais frequente em regiões com altitude superior a 800 m.
O fungo é capaz de infectar qualquer parte da planta de soja, porém, as infecções começam com maior frequência a partir das inflorescências, das axilas, dos pecíolos e dos ramos laterais. O fungo pode atacar toda a parte aérea da planta, afetando folhas, hastes e vagens. A planta da soja infectada apresenta, inicialmente, lesões aquosas, sobre as quais crescem hifas, formando abundante micélio branco, o que caracteriza o nome da doença. Os tecidos atacados necrosam em consequência da ação das diversas toxinas e de ácido oxálico, produzidos por S. sclerotiorum. Nessa fase, podem ser observados o apodrecimento de ramos, vagens e folhas, ou mesmo da haste principal com morte de toda a planta. Os escleródios são formados tanto na superfície quanto no interior das hastes e das vagens infectadas, podendo se desprender naturalmente ou serem lançados ao solo durante a colheita, aumentado o inóculo na área.
O manejo da doença tem como objetivos a redução do inóculo (escleródios no solo), a redução da incidência e de sua taxa de progresso. A diminuição de inóculo é alcançada pela inviabilização dos escleródios no solo e pela diminuição da produção de escleródios nas plantas doentes, por medidas como formação de palhada para cobertura uniforme do solo, preferencialmente oriunda de gramíneas; rotação e/ou sucessão com culturas não hospedeiras; emprego de controle biológico por meio da infestação do solo com agentes antagonistas; utilização de sementes de boa qualidade e tratadas com fungicidas; emprego de controle químico, por meio de pulverizações foliares de fungicidas no período de maior vulnerabilidade da planta (R1 a R4). Para a redução da incidência do mofo-branco e de sua taxa de progresso são importantes a escolha de cultivares com arquitetura de plantas que favoreça uma boa aeração entre plantas (pouco ramificadas e com folhas pequenas) e com período mais curto de florescimento e a utilização de população de plantas e espaçamento das entrelinhas adequado às cultivares. Outra medida que contribui para a redução da dispersão do fungo S. sclerotiorum é a limpeza de máquinas e equipamentos após utilização em área infestada, para evitar a disseminação de escleródios para novas áreas. A efetividade do controle do mofo-branco em soja só é conseguida com a integração dessas medidas, não apresentando resultados satisfatórios isoladamente. 
Desde 2008/09, ensaios em rede vêm sendo realizados por instituições públicas e privadas com o objetivo de comparar a eficiência de fungicidas para controle de mofo-branco em soja. Em função dos resultados desses ensaios cooperativos, acumulados ao longo de nove anos de execução, verificou-se níveis de eficiência média de controle de alguns fungicidas variando entre 62% e 72% (Tabela 1).
Na safra 2016/17, o ensaio cooperativo de controle químico de mofo-branco foi realizado em 14 locais, distribuídos nos  estados de Goiás, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia e Distrito Federal (Figura 2). Continue lendo...

Maurício C. Meyer e 
Cláudia V. Godoy
Embrapa Soja
Hércules D. Campos
UniRV
Carlos M. Utiamada
Tagro 
Edson P. Borges
Fundação  Chapadão
José Nunes Junior
CTPA
Fernando C. Juliatti
UFU 
David S. Jaccoud Filho
UEPG
 Luciana C. Carneiro
 UFG
 Luís H.C.P. da Silva
 Agro Carregal 
Marcio Goussain
 Assist 
Mônica C. Martins
Círculo Verde 
Mônica P. Debortoli
Instituto Phytus 
Wilson S. Venancio
CWR


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