MOSCA BRANCA: Pequena devastadora

Como manejar de modo correto o complexo mosca branca na cultura da soja

06.10.2017 | 20:59 (UTC -3)

O complexo de moscas brancas (Bemisia tabaci) é, atualmente, uma das mais importantes pragas da agricultura mundial, devastando plantios tanto nas regiões tropicais como temperadas de inúmeros países. Com origem provável no Oriente, mais precisamente no subcontinente Indiano, porém foi descrita pela primeira vez, na Grécia, em 1889, como Aleurodes tabaci em plantas de fumo (Nicotina sp.). Atualmente, com exceção da Antártida e dos ambientes salinos, está mundialmente distribuída. A comercialização e o transporte de plantas, principalmente ornamentais, são os grandes facilitadores da sua disseminação entre os continentes Europeu, Asiático e Americano. 

Com certeza a distribuição generalizada desta praga está relacionada principalmente a fatores como: intensificação dos cultivos agrícolas, expansão dos monocultivos e o uso indiscriminado de agroquímicos. Sua habilidade em se adaptar a inúmeros hospedeiros, independentemente das condições ambientais, tem facilitado a sobrevivência. Além disso, a fácil adaptação a regiões de climas tropical, subtropical e temperado a transformou também em um vetor de mais de uma centena de viroses descritas em diferentes partes do mundo. 
Bemisia tabaci é conhecida no Brasil desde 1923, mas só foi relatada como praga em 1968, quando grandes populações foram detectadas em lavouras de algodão no norte do estado do Paraná e a partir de 1972 novas populações surgiram no sul do estado de São Paulo e em outras partes do país. 
A praga reapareceu na década de 90, com altos níveis populacionais no Sudeste (São Paulo e Minas Gerais), no Centro-Oeste (Distrito Federal e Goiás) e no nordeste (Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte, Paranaíba, Ceará e Piauí) com enormes prejuízos a agricultura destas regiões. Essa população foi verificada primeiramente em Campinas, São Paulo, em meados de 1991, atacando inicialmente plantas ornamentais, e depois se difundindo rapidamente pelas demais áreas agrícolas de São Paulo o que levou muitos pesquisadores a conclusão de que se tratava de um novo “biótipo” introduzido no Brasil.
Em relação a biótipos, há uma polêmica ainda a ser esclarecida para finalmente ser aceita por toda a comunidade científica a respeito dessa praga. Isso se deve ao fato de que a principio o referido “biótipo” foi considerado, na década de 90 como uma nova espécie, denominada Bemisia argentifolli. Entretanto, esta denominação não foi aceita por toda a comunidade científica que passou a tratá-la como um complexo de espécies com cerca de 20 biótipos. (Ex. biótipo A, B, Q entre outros) e que apenas os biótipos A e B estavam presentes no Brasil. Contudo em estudos recentes relacionados a essa hipótese um grupo de pesquisadores concluiu, após comparar o DNA de todos estes conhecidos “biótipos”, que a diferença genética entre eles era de aproximadamente 5%, indicando serem espécies distintas, já que para serem da mesma espécie estes supostos biótipos deveriam apresentar diferenças genéticas de no máximo 3,5%. Sendo assim, no Brasil atualmente, segundo esse grupo de pesquisadores, se está diante de quatro espécies: a MEAM1 (Middle East-Asia Minor 1) anteriormente biótipo “B”; MED (Mediterranean) anteriormente biótipo “Q” e NW1 (New World 1) e NW2 (New World 2) conhecidas como biótipo “A”. 
Importante saber também que morfologicamente são espécies idênticas. Isso significa que diferenças a campo serão impossíveis de serem percebidas por enquanto. Contudo, mesmo com todas essas justificativas baseadas em características genéticas ainda assim muitos persistem na antiga classificação e, provavelmente, o tempo dirá qual será a melhor forma de abordar este pequeno sugador que tem causado tantas preocupações ao produtor rural e que atualmente está presente em todos os estados brasileiros, com prejuízos superiores a R$ 10 bilhões.
Espécies ou biótipos, enfim, para o produtor o importante é esclarecer que são populações com potenciais de maximizar seus papéis e melhorar sua capacidade de virulência mais rápido que a capacidade das plantas hospedeiras de melhorarem seus sistemas de defesa, levando, de certo modo, a pequenas mutações entre indivíduos, diferenciando-os e muitas vezes isolando-os geograficamente.
Este complexo de moscas brancas vem causando, nos cultivos agrícolas brasileiros, vários problemas, primeiramente relacionados a sua ação direta como sugadores de seiva e injeção de toxinas, que induzem desordens fisiológicas, reduzindo o vigor das plantas e a produção, e por sugarem de forma continua a planta, ejetam uma substancia adocicada que facilita o crescimento da fumagina, que interfere na atividade fotossintética das folhas, alterando a qualidade da produção de inúmeros cultivos. Continue lendo

Cecilia Czepak,
Matheus Le Senechal,
Karina C. A. Godinho,
Humberto O. Guimarães,
Matheus F. J. Barbosa,
Matheus R. de M. Lima,
Rafael F. Silvério,
Igor D. Weber e
Alexandre S. G. Coelho,
Universidade Federal de Goiás



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