Nematóides - Flores do mal

É preciso ter bastante cuidado com o destino que se dá a um simples vaso de flores, que pode estar contaminado com nematóides que causarão grandes prejuízos a inúmeras lavouras. Veja aqui algumas dicas.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Existem milhares de tipos de nematóides. Todos os seres vivos, animais ou plantas, podem ser atacados ou parasitados por eles. Todavia, há uma regra geral em biologia sobre os nematóides que parece não ter exceção: os nematóides que atacam os animais não atacam as plantas e vice-versa. Dentro de cada um desses grupos, naturalmente, há especificidade. Assim, o nematóide que parasita a baleia não parasita o cachorro. Contudo, há vários nematóides que parasitam diferentes espécies de animais, incluindo o homem. Esse princípio também se aplica aos nematóides das plantas. Por conseguinte, há vários nematóides que parasitam plantas ornamentais diversas e que são, também, pragas de muitas das nossas culturas de maior importância econômica.

Na tabela foram alistadas várias espécies de plantas ornamentais e representantes de diferentes gêneros de nematóides associados, muitos dos quais considerados pragas-chave de muitas das nossas culturas. Essa tabela foi construída com base nos dados obtidos das análises de amostras de plantas ornamentais, a partir de 1992, no Laboratório de Nematologia do Departamento de Fitossanidade da UNESP/FCAV, Campus de Jaboticabal (SP). Esses dados representam um alerta para todos os cidadãos e cidadãs.

O que fazer, pois, com o vaso de uma planta ornamental que compramos em uma feira ou em um mercado, depois que a planta completa o seu ciclo e morre? E se a planta morrer antes do tempo previsto? A morte da planta teria sido causada por um nematóide? O que poderia acontecer se o vaso contendo milhões de nematóides fosse jogado numa área próxima de uma cultura hospedeira? Os ilustres leitores estão sendo alertados para os riscos de, inconscientemente, atuarem como agentes de dispersão de pragas muito danosas.

Como os nematóides são microscópicos e, na maioria dos casos, não produzem sintomas específicos nas plantas atacadas, passam despercebidos. Portanto, se sua planta ornamental morrer de uma causa desconhecida, aplique água fervente no vaso antes de colocá-lo no lixo. A temperatura letal para a grande maioria dos nematóides é de apenas 52oC. Com esse pequeno gesto você pode evitar uma catástrofe. Os nematóides causam perdas devastadoras, reduzindo a oferta de produtos de qualidade e aumentando os preços dos alimentos. Quando você viajar para regiões distantes, dentro ou fora do nosso País, não traga material vegetal ou solo. Bulbos e sementes, também, podem veicular nematóides em seu interior, permitindo, facilmente, sua dispersão a curtas ou longas distâncias.

O nematóide

, por exemplo, agente causal de uma doença do arroz conhecida como "ponta branca", pode sobreviver até 19 anos dentro das sementes. Bulbilhos de alho para semente podem manter os nematóides vivos de um ano para outro, assim como bulbos de várias ornamentais. Nematóides considerados pragas devastadoras da batata, do tomate, do feijão, do trigo e de inúmeras outras de nossas importantes culturas são encontrados em países vizinhos, incluindo nossos parceiros do Mercosul mas ainda não chegaram ao Brasil.

Ao contrário de outras pragas que voam ou são levadas pelos ventos, os nematóides não se disseminam pelos seus próprios recursos. Portanto, essas pragas só chegarão ao nosso país se forem trazidas. As sementes, mudas e solo aderentes a máquinas e veículos diversos são os principais meios de dispersão. É, pois, dever de cada um dos brasileiros evitar a dispersão dessas pragas, agindo de modo consciente no sentido de evitar a introdução dessas em nosso território. A figura ilustra estádios de desenvolvimento de

, um dos mais devastadores nematóides do cafeeiro (

). Essa praga ataca um grande número de culturas, incluindo várias ornamentais. Por conseguinte, produtores e consumidores devem procurar conhecer também essas pragas. Com a contribuição de cada cidadão e cidadã manteremos muitas de nossas áreas de cultivo livres de muitas delas.

Katia van Leeuwen e Jaime Maia dos Santos

UNESP

* Confira este artigo, com fotos e tabelas, em formato PDF. Basta clicar no link abaixo:

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