Nitrogenado, milho produz mais

Mas é preciso observar as recomendações técnicas para não desperdiçar o produto.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O nitrogênio é um dos nutrientes mais requeridos e de maior custo para a cultura do milho. E sua maior eficiência depende de conhecimentos técnicos e práticos, que proporcionem maior disponibilidade para as plantas.

A maior reserva de nitrogênio no solo está ligada a matéria orgânica sob forma não diretamente disponível para as plantas e que representa mais do que 90% do nitrogênio total do solo. As principais formas de nitrogênio, ao redor de 2% do disponível, são o amônio (NH4+) e nitrato (NH3-). Vários processos e mecanismos envolvendo sucessivas reações de ordem bioquímica realizadas por microorganismos fazem parte da transformação do N orgânico em inorgânico.

A maior resposta na produtividade por unidade de nitrogênio aplicado está diretamente relacionada com a qualidade, época, fonte e forma de aplicação.

Quantidade a aplicar

O nitrogênio no solo se apresenta de forma orgânica e inorgânica. É através do processo de mineralização promovido pelos microorganismos que o nitrogênio transforma-se em N-orgânico e N-inorgânico (NH4+ e NH3-), principais formas disponíveis. Uma das dificuldades para a recomendação nitrogenada para a cultura do milho é a falta de um método que determine o índice de fertilidade para esse nutriente, considerando o N inorgânico disponível mineralizado durante o ciclo da cultura.

Diante dessas dificuldades, as recomendações atualmente têm se baseado na exigência nutricional da cultura, no histórico da lavoura (culturas anteriores, sistema de rotação adotado), curvas de resposta econômica e na produtividade esperada. Dentre esses parâmetros, o histórico das lavouras e as curvas de resposta econômica têm merecido especial atenção por parte de técnicos de campo, pesquisadores e agricultores. No histórico da área, o principal desafio tem sido dominar o manejo das diferentes culturas de inverno, respeitando principalmente as diferenças entre gramíneas e leguminosas, a fim de que se possa estabelecer um adequado fluxo de liberação de N ao sistema. Hoje sabe-se que existem diferenças significativas quanto ao fornecimento de N entre as diferentes coberturas e intervalos entre a época de manejo dessas coberturas e o plantio de milho. Quanto às curvas de respostas o maior esforço, atualmente, tem sido determinar as variações de resposta existentes na produtividade em função do híbrido usado, o manejo empregado, por exemplo o aumento da população de plantas por hectare, e os parâmetros nutricionais do solo.

Atualmente, existem no mercado alguns programas de computador que levam em consideração esses parâmetros, recomendando a quantidade de N a ser aplicada de forma mais segura e precisa. A Pioneer Sementes desenvolveu um software próprio totalmente adaptado às condições de solo e clima brasileiros e que está à disposição dos clientes, através de sua equipe técnica e representantes em todo o país.

Época de aplicação

De maneira similar à quantidade total, a época de aplicação e o percentual de N a ser aplicado no plantio e em cobertura também apresentam divergências de recomendação. Pior, há uma tendência forte para a generalização, esquecendo-se que o clima, os solos, o manejo, os sistemas e o histórico das áreas são diferentes. Em quase 20 anos de pesquisa, acompanhando e visitando produtores de milho em diferentes regiões do Brasil, observamos que os agricultores recebem informações nem sempre coerentes com a realidade local, seja do ponto de vista técnico ou prático.

Atualmente é possível encontrar recomendações que vão desde a aplicação total de todo N antes do plantio, 50% do N no plantio e 50% em cobertura e até mesmo em quatro ou cinco parcelamentos durante o ciclo da cultura. Essas recomendações na sua maioria se baseiam em resultados locais, sob condições específicas, que não podem ser indicadas para todos, em geral.

O parcelamento e a época de aplicação do N na cultura do milho depende de inúmeros fatores, como a dose total a ser aplicada, a cultura anterior, a textura do solo, tamanho da área, estrutura da propriedade e de aspectos práticos do dia-a-dia da propriedade, como a própria parte operacional de se encontrar um determinado fertilizante e até mesmo observar se é possível distribuir através de equipamentos já disponíveis um fertilizante com elevada concentração de N. De maneira prática, em doses de N total até 150 kg/ha, solos de textura argilosa, distribuição mecânica do fertilizante e áreas maiores cuja estrutura poderá comprometer a distribuição e consequente eficiência do fertilizante é recomendada uma única aplicação. Entretanto, em doses maiores do que 150 kg/há, solos de textura arenosa, distribuição via irrigação, a aplicação de N poderá ser dividida em duas vezes, dependendo da análise econômica e da prática dessa operação.

Assim, com base em resultados obtidos em trabalhos no campo nos últimos oito anos, nos quais se avaliaram híbridos brasileiros de diferentes ciclos e regiões de diferentes tipos de solo e clima, concluímos que para doses de N total entre 120 a 150 kg/ha, na média dos sistemas adotados, em solos de textura argilosa e observando os aspectos práticos peculiares de propriedade, os melhores resultados de produtividade foram alcançados com o uso de 40kg/ha de N por ocasião do plantio e o restante em uma aplicação quando a cultura estiver na fase V4 (quatro folhas fora do cartucho). Nesses casos obteve-se uma resposta entre 80 a 100 kg de grãos por kg de N aplicado em cobertura.

Outro aspecto a mencionar é o fato de que muitas vezes nos deparamos com indicações de aplicação de doses de até 60 e 80kg/ha no plantio. Nesses casos, embora tecnicamente a indicação possa estar correta, o agricultor, para seguí-la, deve usar mistura de fertilizantes nitrogenados ao formulado de plantio. Entretanto, essa prática provoca sérios transtornos na distribuição, ocasionando, na maioria dos casos, sérios problemas no plantio. Como recomendação final, sugerimos que antes de qualquer mudança no parcelamento e época de aplicação do N, o agricultor verifique os aspectos técnicos, práticos e econômicos dessa mudança.

Fontes e formas

É ainda comum a dúvida do agricultor e dos técnicos em relação à melhor maneira de se aplicar fertilizante nitrogenado em cobertura. Dentre os vários produtos no mercado, a uréia recebe maior questionamento. A uréia no solo é reduzida a nitrato, através de etapas. As perdas por volatização da amônia ocorrem porque a uréia, após adicionada ao solo, sofre hidrólise enzimática, produzindo carbonato de amônio, que por sua vez desdobra-se em gás NH3, CO2 e água. Além disso, um agravante desse mecanismo de perda é o elevado aumento do pH causado pela amônia ao redor do local da aplicação, dificultando a transformação para uma forma mais estável NH4+, o que facilita a volatização.

Em trabalhos de laboratório, usando doses variando entre 120 a 240 kg/ha em diferentes métodos de aplicação superficial, incorporada a 2 e 5 cm e localizada a 5 cm de profundidade, foi possível determinar a velocidade e as perdas. Nas aplicações mais profundas o início da volatização ocorreu após cinco dias. Esse atraso é devido à resistência do solo ao deslocamento da amônia, já que esta é retida por mecanismos físicos e químicos associados à capacidade de troca.

Nesses mesmos trabalhos também se verificou que, quando a uréia foi aplicada superficialmente, 90% das perdas ocorreram nos primeiros oito a 10 dias. Quando, porém, localizada a 5 cm de profundidade, as perdas foram de 70% em média e ocorreram nos 16 primeiros dias. Trabalhos de campo da Pioneer, durante duas safras e em 18 locais, com uso de 90 kg/ha de uréia em cobertura localizada a 5 cm e superficial, mostraram um ganho médio de 492 kg/ha de grãos a favor da aplicação localizada, provando que as perdas do nitrogênio por volatização existem no campo e que reduzem a produtividade.

Claudio de Miranda Peixoto

Pioneer Sementes

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