​Nutrição adequada do mamoeira objetiva a prevenção de doenças importantes na cultura

O mamoeiro é afetado por doenças como o amarelo letal e a mancha anelar. Para que a planta possa expressar maior resistência é imprescindível nutri-la adequadamente

14.09.2016 | 20:59 (UTC -3)

O mamoeiro pode ser afetado por diversas pragas e doenças, que acarretam em quebra de produção ou até mesmo tornam inviável o plantio comercial em determinadas regiões (Ramos, 2008). Sua produtividade na região do Tabuleiro de Russas, no Ceará, tem sido afetada de forma negativa por doenças como a mancha anelar (Papaya ringspot vírus, PRSV) e o amarelo letal do mamoeiro (Papaya lethal yellowing vírus, PLYV).

O PRSV produz o amarelecimento das folhas mais novas do terço superior da copa, clareamento das nervuras e também mosaico intenso nas folhas (com áreas amareladas e outras esverdeadas). As folhas podem ficar deformadas e, muitas vezes, a lâmina foliar praticamente desaparece, ficando reduzida à nervura central (fio-de-sapato). Nos frutos aparecem manchas redondas que formam anéis. O pecíolo foliar apresenta estrias oleosas ou de aparência aquosa, estendendo-se até o caule. Os sintomas foliares podem ser confundidos com os causados pelo ataque de ácaros. Dependendo da estirpe de vírus presente, pode ocorrer a morte das plantas infectadas. As perdas de produção são variáveis, alcançando até 72% (Embrapa, 2006).

O PLYV em mamoeiro provoca o amarelecimento das folhas do terço superior da planta e retorcimento do ponteiro. Com o passar do tempo as folhas murcham e morrem, causando a morte da planta. Nos pecíolos ocorrem depressões longitudinais e as nervuras apresentam lesões necróticas na face inferior. Em outras variedades, os sintomas são semelhantes sem ocorrer o retorcimento do ponteiro e morte das plantas infectadas. Os frutos mostram manchas circulares verde-claros que amarelecem com o passar do tempo, sendo que a polpa fica empedrada e com maturação retardada (Jaimes & Andrade, 2004).

A obtenção de boa produtividade e qualidade de frutos está diretamente ligada a uma nutrição balanceada. Da mesma forma, sabe-se que uma planta nutrida adequadamente apresenta maior resistência às doenças e pode atingir seu potencial de produtividade. Porém, no Brasil, não se conhece o comportamento e as exigências nutricionais das principais cultivares de mamoeiro (Oliveira, 2004). Na adubação foliar com fontes de potássio (K) são necessárias várias aplicações para que se tenha um aumento dos teores de K nas folhas. Um aspecto importante é o efeito do íon ou cátion companheiro do K a ser aplicado, pois pode estar relacionado com a maior resistência das plantas a doenças e proporcionar produtividade máxima econômica.

Experimento

Com o objetivo de estudar o efeito de fontes e doses de adubação foliar com potássio (K) sobre doenças e a sobrevivência do mamoeiro Formosa, cultivar Tainung no 1, nas condições edafoclimáticas de Russas, Ceará, um ensaio foi conduzido em fazenda pertencente à empresa Frutacor. Foram utilizadas mudas de mamoeiro cultivar Tainung no 1. Após 30 dias da semeadura as mudas foram transplantadas em grupos de quatro mudas por metro linear, para futura seleção de plantas hermafroditas. Após 72 dias de transplantio foi realizada uma sexagem deixando apenas uma entre as quatro plantas transplantadas.

A área experimental foi dividida em 13 tratamentos contendo quatro parcelas, cada com área de 144m2 (12x12), com 20 plantas. As 14 plantas ao redor de cada parcela foram utilizadas como bordadura, restando seis plantas úteis em cada parcela.

Os tratamentos (Tabela 1) consistiram de quatro fontes de K aplicados via foliar (nitrato de potássio, sulfato de potássio, cloreto de potássio e silicato de potássio) com três doses (1%, 2% e 4% da concentração da solução). As aplicações começaram após a realização da sexagem das plantas, sendo mensalmente feitas com o uso de turbo atomizador Arbus 2000. A partir do oitavo mês foi avaliada a produção e aos 16 meses examinada a porcentagem de sobrevivência dos mamoeiros. Foi utilizado delineamento inteiramente casualizado, para os tratamentos em disposição fatorial (4x3) mais um tratamento controle totalizando 13 tratamentos com quatro repetições. Os dados foram submetidos à Anova e aplicado o teste de tukey a 5% de significância, por meio do software “Saeg/UFV 9.1'.

Resultado

A maior produtividade (75,3mg/ha) e sobrevivência (100%) foi observada nas plantas em que foi aplicado o silicato de potássio, não verificando-se diferença significativa entre suas doses. A menor produtividade (35,3mg/ha) e sobrevivência (11,1%) foi observada nos tratamentos em que foi aplicado o cloreto de potássio (Tabela 2).

Conclusão

O melhor comportamento do silicato é explicado principalmente pela menor incidência de doenças que favoreceram a maior população.

Tabela 1 - Composição dos tratamentos

Tratamento

Quantidade de K aplicado via fertirrigação

Concentração da fonte de K na solução aplicada via foliar

1

240g de KCl.planta-1.mês-1

Nenhuma quantidade de adubo via foliar

2

Nitrato de potássio a 1%

3

Nitrato de potássio a 2%

4

Nitrato de potássio a 3%

5

Sulfato de potássio a 1%

6

Sulfato de potássio a 2%

7

Sulfato de potássio a 3%

8

Cloreto de potássio a 1%

9

Cloreto de potássio a 2%

10

Cloreto de potássio a 3%

11

Silicato de potássio 1%

12

Silicato de potássio 2%

13

Silicato de potássio 3%

Tratamento

Quantidade de K aplicado via fertirrigação

Concentração da fonte de K na solução aplicada via foliar

1

240g de KCl.planta-1.mês-1

Nenhuma quantidade de adubo via foliar

2

Nitrato de potássio a 1%

3

Nitrato de potássio a 2%

4

Nitrato de potássio a 3%

5

Sulfato de potássio a 1%

6

Sulfato de potássio a 2%

7

Sulfato de potássio a 3%

8

Cloreto de potássio a 1%

9

Cloreto de potássio a 2%

10

Cloreto de potássio a 3%

11

Silicato de potássio 1%

12

Silicato de potássio 2%

13

Silicato de potássio 3%

Tabela 2 - Efeito das fontes e doses de adubação foliar com K sobre a produção e a sobrevivência do mamoeiro Formosa cultivar Tainung no 1

Tratamento

Produção (Mg.ha-1)

Sobrevivência (%)

1

40,8 BCD

27,8 DEF

2

62,5 BC

22,2 EF

3

63,4 BC

27,8DEF

4

60,8 E

27,8 DEF

5

40,8 E

66,7 ABCDE

6

42,6 E

77,8 ABC

7

54,3 D

72,2 ABCD

8

36,1 E

44,4 BCDEF

9

35,4 E

33,3 CDEF

10

35,3 E

11,1F

11

75,3 A

100 A

12

75,3 A

100 A

13

66,9 AB

88,9 AB

Tratamento

Produção (Mg.ha-1)

Sobrevivência (%)

1

40,8 BCD

27,8 DEF

2

62,5 BC

22,2 EF

3

63,4 BC

27,8DEF

4

60,8 E

27,8 DEF

5

40,8 E

66,7 ABCDE

6

42,6 E

77,8 ABC

7

54,3 D

72,2 ABCD

8

36,1 E

44,4 BCDEF

9

35,4 E

33,3 CDEF

10

35,3 E

11,1F

11

75,3 A

100 A

12

75,3 A

100 A

13

66,9 AB

88,9 AB

Produção do mamoeiro (Box)

O mamoeiro (Caricapapaya L.) encontra-se distribuído em vários países tropicais e subtropicais (Ramos 2008). O Brasil, no ano de 2010, produziu cerca de 1.871.295 toneladas de mamão (IBGE, 2010), sendo que o mercado interno consome a maior parte da produção total, sendo uma pequena parcela destinada à exportação (Rodrigues 2001). O maior produtor da fruta é o estado da Bahia, com cerca de 48,64% da produção total do país, seguido pelo Espírito Santo com 32,80% e o Ceará 5,5% (IBGE, 2010).

As cultivares mais exploradas no Brasil são: Solo (ex: Sunrise Solo e Improved Sunrise Solo cv 72/12) e Formosa (ex: Tainung nº 1 nº 2). A cultivar Tainung no 1 é um híbrido altamente produtivo, tendo um fruto oriundo de flor feminina redondo e alongado e o da flor hermafrodita comprido com peso médio de 900g, possui casca de coloração verde-claro e cor de polpa laranja-avermelhada. Possui produtividade média em torno de 60t/ha/ano (Embrapa, 1995).

Clique aqui para ler o artigo na exemplar 80 da Revista Cultivar Hortaliças e Frutas.

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