O algodão mofou...

O mofo-branco do algodoeiro (Sclerotinia sclerotiorum), quando encontra condições favoráveis ao seu desenvolvimento, causa danos irreversíveis à cultura do algodoeiro.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

é um fungo polífago, tendo como hospedeiros plantas de 408 espécies. Sua ocorrência na cultura do algodão foi relatada pela primeira vez no Brasil no ano de 1999, em área cultivada sob pivô central. Durante a safra 2000/2001, foi constatada a ocorrência de

no município de Coromandel-MG, em algodão cultivado em regime de sequeiro. À semelhança do que ocorre com a soja, feijão e girassol, a doença pode causar perdas intoleráveis em regiões que apresentem condições favoráveis ao seu desenvolvimento.

O algodoeiro herbáceo ou anual (

L. r. latifolium Hutch) é uma malvácea fibrosa-oleaginosa, podendo ser cultivado tanto em condições de sequeiro quanto em qualquer sistema de irrigação (Embrapa, 1994).

Várias doenças afetam o algodoeiro no Brasil, com estimativas de perdas na produção na ordem de 17,55% para a região Centro Oeste, durante a safra 1998/99 (Neto & Machado, 2000). Algumas, como o mosaico comum do algodoeiro, a mancha angular (

pv. malvacearum), a ramulose (

var. cephalosporioides) e a fusariose (

f.sp. vasinfectum) são causadoras de grandes prejuízos.

Sclerotinia sclerotiorum é um fungo polífago, tendo como hospedeiros plantas de 75 famílias, 278 gêneros, 408 espécies e 42 subespécies ou variedades. Com exceção de uma espécie da divisão Pteridophyta, todos os hospedeiros de S. sclerotiorum pertencem às classes Gymnospermae e Angiospermae, sendo a maioria pertencentes à subclasse Dycotiledonea, embora muitos sejam da subclasse Monocotyledonea (Boland & Hall, 1994).

Essa doença encontra-se disseminada por todas as regiões de condições climáticas amenas (Região Sul do Brasil), bem como nas regiões dos cerrados com altitudes superiores a 800 metros (Embrapa, 2000). É um patógeno comumente associado a perdas significativas de rendimento em lavouras comerciais de feijão irrigadas sob pivô central no Distrito Federal (Charchar et al., 1994). Em soja, as perdas devido a ocorrência desse patógeno variaram de 11,5% a 61% durante a safra 2000/2001, na região sul do Paraná (Yorinori & Feksa, 2001). Além das culturas acima mencionadas, Sclerotinia sclerotiorum constitui-se em sério problema para outras culturas como girassol, ervilha e tomate.

Sclerotinia sclerotiorum forma micélio e escleródios na fase assexual e ascas com ascoporos na fase sexual. O micélio é composto por hifas hialinas multicelulares, sendo o escleródio formado pela anastomose de um grande número de hifas em um corpo duro e compacto, de formato variável, podendo atingir vários centímetros de comprimento (Masirevic & Gulya, 1992). Temperaturas do ar favoráveis ao desenvolvimento da doença encontram-se na faixa de 10 a 25°C (Weiss, 1980).

Duas formas de germinação podem ocorrer a partir do escleródio: uma miceliogênica, formando somente hifas e outra carpogênica, produzindo apotécios (Zimmer & Hoes, 1978).

Os apotécios são estruturas de forma plana ou de taça, apresentando coloração marrom clara, com cerca de 4 a 10 mm de diâmetro, onde são produzidos os esporos sexuais (ascosporos) de S. sclerotiorum. Solos úmidos por um longo período são essenciais para a formação de apotécios. Weiss (1980) observou que as condições ótimas para a produção de apotécios são de 10 a 14 dias com potencial matricial da água no solo de -250 mb, e temperaturas entre 15 e 18°C.

Durante a safra 2000/2001, foi constatada a ocorrência de Sclerotinia sclerotiorum em algodão cultivado em regime de sequeiro, no município de Coromandel-MG, em área de aproximadamente 100 ha, que previamente havia sido cultivada com soja. Anteriormente, Charchar et al. (1999) haviam identificado pela primeira vez no Brasil a ocorrência de Sclerotinia sclerotiorum na cultura do algodão irrigado sob pivô central.

A ocorrência de

na cultura do algodoeiro apresenta basicamente o mesmo padrão de interação que se conhece em outros hospedeiros. As lesões iniciais são de coloração marrom clara, de aspecto encharcado, evoluindo para marrom pardacento.

Sob condições de umidade elevada, a lesão pode ser coberta por um micélio branco, de aspecto cotonoso. Escleródios do fungo são encontrados em grande intensidade no interior das maçãs de plantas atacadas, em mistura com as sementes (Charchar et al., 1999).

A exemplo do que ocorre com outros hospedeiros, as sementes certamente são um importante meio de disseminação do fungo, uma vez que os escleródios nem sempre são removidos do lote por ocasião do beneficiamento. A prevenção do inóculo em sementes é uma das estratégias mais importantes no sentido de proteger áreas com potencial para a exploração do algodoeiro.

A ocorrência de mofo-branco em áreas cultivadas com o algodoeiro é um fator dos mais limitantes para a continuidade desse cultivo e de outras espécies hospedeiras do patógeno, pois uma vez introduzido na área de plantio, o inóculo de

é praticamente impossível de ser erradicado. Na ausência de hospedeiro suscetível, a persistência dos escleródios no solo pode atingir até 8 anos (Adams & Ayers, 1979).

e

CTPA

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