O “big vein” ataca

Doença engrossa as nervuras das folhas de alface, retarda a maturidade fisiológica da planta e pode levá-la à morte.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O engrossamento das nervuras ou “big vein” é uma doença recente no Brasil, e que neste inverno limitou a produção de alface, principalmente do tipo americana, em certas áreas do Estado de São Paulo. As folhas das plantas de alface apresentam o sintoma de engrossamento generalizado das nervuras, devido a hiperplasia das células próximas às nervuras, que aumentam de forma exagerada o seu volume. O porte da planta é reduzido, a maturidade fisiológica da planta é retardada. Plantas infectadas no estágio de muda podem chegar a não se desenvolver e morrer. Nos cultivares de alface do tipo americana freqüentemente ocorre a má formação de cabeça, enquanto que as do tipo lisa, o engrossamento pode ser generalizado ou visível somente em algumas folhas mais velhas da planta, de acordo com o estágio de infecção da muda.

A doença é aparentemente causada pelo vírus Mirafiori lettuce virus (MiLV), um possível membro do gênero Ophiovirus. Entretanto, historicamente esta doença vinha sendo atribuída a um outro vírus, o Lettuce big vein virus (LBVV), do gênero Varicosavirus. As partículas do MiLV são muito difíceis de serem visualizadas ao microscópio eletrônico, por serem finas, filamentosas e tendem a se circularizar. O MiLV é freqüentemente encontrado em infecções mistas com o LBVV, entretanto estudos recentes revelam que o LBVV causa infecção latente em alface, sendo o MiLV sozinho responsável pelo sintoma de engrossamento da nervura.

Ambos LBVV e MiLV são transmitidos pelo fungo de solo

, um parasita obrigatório que vive nas raízes de diversas plantas. O vírus é transmitido pelos esporos do fungo infectados com o vírus (zoósporos) que necessitam de um filme de água para se movimentarem e atingirem as raízes da alface. Como há necessidade de água, esta doença é comum em solos encharcados e mal drenados. O O. brassicae em si não causa problemas à alface desde que não esteja infectado pelo vírus. O fungo pode permanecer viável por mais de 25 anos no solo.

A doença ocorre tipicamente em regiões temperadas dos Estados Unidos e Europa, porém foi recentemente relatada ocorrendo em áreas sub-tropicais do Brasil. Os sintomas da doença são favorecidos por temperaturas amenas em torno de 16C°, desaparecendo em temperaturas superiores a 22 C°. Deste modo, no Brasil o engrossamento das nervuras é uma doença típica do inverno, quando temperaturas diárias variam de 18 a 22 C° e noturnas de 10 a 16 C°, desaparecendo completamente no verão.

O fungo O. brassicae é de difícil controle, principalmente pela capacidade dos oósporos permanecerem infectivos durante muitos anos no solo. Caso não tenha sido verificada a doença, deve-se utilizar mudas contendo substrato de boa qualidade, ausentes do fungo infectado pelo MiLV. A eliminação de ervas como Sonchus asper e S. oleraceus, hospedeiras do O. brassicae, o controle da irrigação, utilização de substrato de qualidade, além da utilização de cultivares de alface tolerantes, são opções para manejar a doença no campo.

Porém, o engrossamento das nervuras não é uma doença que se restringe ao campo. Mudas cultivadas em hidroponia também podem apresentar a doença, desde que estejam em contato com fungo infectado pelo vírus MiLV. Neste caso, o fungo pode estar sendo veiculado principalmente pela água utilizada no sistema, a partir de equipamentos e reservatórios de água contaminados. Neste caso sugere-se a limpeza geral do sistema antes da próxima instalação de mudas.

e

UNESP-Botucatu

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