O perfil do inimigo

Estudos da biologia da mosca-branca mostram que o inseto se adapta a diferentes condições climáticas e plantas hospedeiras

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A mosca-branca Bemisia argentifolii foi introduzida no Brasil, provavelmente através da planta ornamental poinsétia (Euphorbia pulcherrima) em São Paulo, no ano de 1990. Hoje, é encontrada em praticamente todos os Estados, como praga de diversas culturas como tomate, melão, feijão, soja, plantas ornamentais, entre outras.

Esta praga pode causar danos diretos às culturas ao se alimentar da seiva. Favorece o aparecimento de um fungo preto, chamado fumagina, que reduz o valor comercial das culturas. O dano mais sério, no entanto, é o chamado dano indireto, onde o inseto é vetor de vários geminivírus.

A biologia deste inseto tem sido estudada em diversas plantas hospedeiras e em várias regiões do mundo, verificando-se variações nos resultados encontrados, em função das condições climáticas e das diferentes plantas hospedeiras. O estudo da biologia de insetos é importante, principalmente em espécies recém-introduzidas em uma região, por oferecer conhecimentos básicos ao estabelecimento de medidas adequadas de controle.

A biologia da mosca-branca foi estudada nas plantas hospedeiras abobrinha italiana ‘Caserta’ (Cucurbita pepo); feijão ‘Carioquinha’ (Phaseolus vulgaris); mandioca (Manihot esculenta); milho ‘Br 201’ (Zea mays); poinsétia (E. pulcherrima); repolho ‘Kenzan’ (Brassica oleracea var. capitata) e tomate ‘Nemadoro’ (Lycopersicon esculentum) com o objetivo de determinar a adaptação do inseto nestas plantas.

Os insetos utilizados em todos os experimentos foram obtidos a partir de uma população de mosca-branca previamente identificada como B. argentifolii, criada em plantas de poinsétia. Os experimentos foram realizados no laboratório de Entomologia da Embrapa Hortaliças, de setembro de 1998 a setembro de 1999, em câmaras climatizadas (“BOD”), com temperatura de 28 ± 2ºC , 70 ± 10% de umidade relativa (UR) e 14 horas de luz. Inicialmente, casais do inseto foram deixados por 24h em contato com as diferentes plantas hospedeiras. Após este período, os adultos foram retirados das plantas e o número de ovos sobre cada folha foi determinado. Com o auxílio de lupa, as plantas eram observadas, anotando-se a presença de cada fase do inseto e a mortalidade ocorrida, até a emergência dos adultos.

DESCRIÇÃO DO ADULTO

Os adultos apresentam coloração amarelo-pálido e asas brancas (Figura 1). Medem de 1 a 2 mm, e a fêmea é maior do que o macho. Quando em repouso, as asas são mantidas levemente separadas, com os lados paralelos, deixando o abdome visível. Os adultos são muito ágeis e voam quando molestados. Auxiliados pelo vento, podem voar a longas distâncias. Realizam também vôo baixo, quando migram de culturas velhas para culturas recém-transplantadas.

CICLO BIOLÓGICO

A mosca-branca apresenta metamorfose incompleta, passando pelas fases de:

OVO - Coloração amarela e formato de pêra, medindo de 0,2 a 0,3 mm. É preso por uma pequena haste ao tecido da planta. Os ovos são depositados pelas fêmeas na parte inferior da folha, onde formam colônias.

NINFAS - Apresentam quatro estádios. São translúcidas e de coloração amarelada. No final do quarto estádio (também chamado de pupa), quando o adulto está prestes a eclodir, os olhos vermelhos tornam-se bem visíveis (Figura 3).

Em laboratório, com temperatura controlada (28 ± 2ºC), verificou-se que o ciclo de ovo a adulto foi mais curto em repolho (20,5 dias), feijão (21,9 dias) e tomate (22,4 dias). Para poinsétia (26,6 dias), mandioca (25,0 dias) e milho (23,8 dias) o período de desenvolvimento foi mais longo (Tabela 1). Em feijão, verificou-se um mínimo de 17 dias e, em mandioca, um máximo de 29 dias. Em temperatura não controlada, em casa de vegetação (25 ± 8ºC), verificou-se um aumento no ciclo de ovo-adulto, obtendo-se 26,1 dias para abobrinha; 25,7 dias para feijão; 26,7 dias para repolho e 27,5 dias para tomate. Essa diferença se dá porque algumas plantas são mais adequadas nutricionalmente que outras. As maiores porcentagens de mortalidade total, observadas no ciclo ovo-adulto, foram registradas em mandioca (97,9%) e milho (94,2%) (Tabela 1).

A longevidade das fêmeas adultas variou, em média, de 21,3 dias para fêmeas criadas em repolho a 5,5 dias em milho (Tabela 2). Observou-se que em mandioca as fêmeas morreram nos primeiros três dias, e não realizaram postura, o que mostra que esta espécie não está adaptada a esta planta. Verificou-se ainda que o número médio de ovos por fêmea foi de 172,3 ovos em repolho e 83,4 ovos em poinsétia. Em milho, as fêmeas geralmente efetuaram poucas posturas, apresentando, em média, 5 ovos. A maior média de número de ovos por dia foi observada em repolho (7,9), poinsétia (5,4) e abobrinha (4,9) (Tabela 2).

De maneira geral, a mosca-branca B. argentifolii está bem adaptada às plantas hospedeiras abobrinha, feijão, poinsétia, repolho e tomate. Já para plantas de milho e mandioca, esta espécie de mosca-branca não se encontra adaptada, uma vez que o ciclo de ovo a adulto é mais longo e ocorre uma elevada porcentagem de mortalidade em fêmeas e na fase jovem.

Estes resultados são importantes porque podem auxiliar o manejo integrado desta praga. De acordo com os resultados, recomenda-se adotar a rotação com milho, na entressafra, entre as culturas de maior preferência do inseto como tomate, repolho, abobrinha e feijão. Também podem ser utilizadas barreiras ao redor da área com sorgo granífero ou forrageiro e milho. Não se recomenda, neste caso, deixar a área sem plantio, em repouso (pousio), pois a mosca-branca se utiliza de várias espécies de plantas daninhas, como hospedeiras alternativas, que se constituirão em fonte de futuras infestações. Assim, em áreas de intenso desequilíbrio, é recomendável interromper o ciclo das espécies preferidas, utilizando-se milho ou outra gramínea como sorgo, cana-de-açúcar ou até mesmo mandioca.

Geni Litvin Villas Bôas

Embrapa Hortaliças

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