Os insetos que não crescem

Os reguladores de crescimento de insetos (RCI) são considerados como produtos da terceira geração de inseticidas. Alguns compostos sintéticos são análogos ou antagônicos aos hormônios juvenis naturais

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Os RCI, quando aplicados sobre as formas imaturas dos insetos, não causam necessariamente reações tóxicas, mas provocam alterações ou assincronia no seu desenvolvimento, o que eventualmente causam a morte. Na fase adulta, estes produtos podem também afetar a reprodução em várias ordens de insetos, interferindo no desenvolvimento ovariano, na embriogênese, na fecundidade e viabilidade dos ovos produzidos, bem como em aspectos comportamentais, como a cópula, liberação de feromômios, diapausa e migração.

Uma vez que os RCI podem regular a fecundidade e a viabilidade dos ovos de insetos e, consequentemente, o número de descendentes de suas populações, a aplicação destes produtos na fase adulta, tem-se constituído numa estratégia de controle de pragas. Todavia, esta prática é de maior relevância para espécies de insetos que têm dificuldades de controle através do emprego dos inseticidas convencionais, seja em decorrência da ineficácia de produtos disponíveis no mercado ou por restrições de caráter técnico, econômico ou ambiental.

A aplicação de RCI sobre adultos pode ser usada como uma alternativa viável de controle, quando as formas jovens do inseto causam danos à cultura. A vaquinha-verde-amarela

enquadra-se como uma praga adequada para o emprego de RCI na fase adulta, pois o controle de suas larvas, através do emprego dos inseticidas químicos convencionais, tem sido considerado ineficiente, especialmente quando os inseticidas são aplicados via sementes. Na cultura da batatinha, por exemplo, os adultos dessa praga alimentam-se da folhagem das plantas enquanto que as larvas danificam os tubérculos, reduzindo a produtividade e especialmente o seu valor comercial dos mesmos. Através de trabalhos conduzidos em condições de laboratório, verificou-se que a capacidade de postura de fêmeas de

foi significativamente reduzida, quando os casais foram tratados com o regulador de crescimento de insetos lufenuron. Em adição ao efeito sobre a fecundidade, os ovos obtidos de casais tratados apresentaram baixa viabilidade quando comparados aos de casais não tratados . Verifica-se, portanto, que o regulador de crescimento promoveu algum tipo de distúrbio fisiológico sobre os adultos de

, que afetaram negativamente a fecundidade e viabilidade dos ovos colocados pelo inseto. Como conseqüência, o número efetivo de larvas produzidas por fêmeas foi significativamente reduzido no período estudado. Se esta condição for reproduzida em condições de campo, a densidade populacional de larvas no solo poderá ser reduzida através de pulverizações na cultura da batatinha com o regulador de crescimento, o que, consequentemente, impedirá a ocorrência de danos nos tubérculos. No entanto, trabalhos dessa natureza devem ser realizados nas condições de campo, visando a comprovação dos resultados obtidos em condições de laboratório.

Trabalhos conduzidos no Departamento de Entomologia da ESALQ/USP, também demonstraram que a fecundidade e viabilidade de ovos do moleque-da-bananeira (

) e do bicudo-do-algodoeiro (

) foram reduzidos quando os adultos de ambas as espécies foram colocados em contato, respectivamente, com pseudocaules de bananeira e plantas de algodão tratados com RCI. Nos EUA, a esterilização do bicudo do algodoeiro empregando-se o RCI diflubenzuron, tem sido utilizada como um método alternativo para o controle ou de erradicação do inseto em áreas onde se cultiva o algodão. Os RCI também tem sido usados no controle de gorgulhos e carunchos que atacam grãos armazenados, através do tratamento de adultos. Este tipo de tratamento previne o aparecimento da progênie e, consequentemente, a ocorrência de danos na massa de grãos. O controle de pragas de grãos armazenados utilizando RCI tem vantagens adicionais em relação aos produtos convencionais, uma vez que o produto tratado pode ser consumido imediatamente pelo homem ou por animais domésticos após o período de proteção, ou seja, sem nenhuma restrição com relação à carência, em razão da baixa toxicidade deste grupo de inseticidas para vertebrados.

Embora os exemplos aqui abordados, sejam de pragas pertencentes à Ordem Coleoptera, os efeitos de RCI sobre a reprodução de insetos, quando aplicados na fase adulta, têm sido também verificados para outras espécies de pragas pertencentes às Ordens Hemiptera, Orthoptera, Hymenoptera e Neuroptera. Todavia, convém ressaltar que esta modalidade de controle é muito mais interessante e adequada para ser usada em insetos que apresentam restrições para o emprego do controle convencional como é o caso de pragas de solo, coleobrocas, pragas de grãos armazenados, etc., cujas formas imaturas não ficam normalmente expostas para receber a aplicação do inseticida.

O uso de reguladores de crescimento visando ao controle de pragas, apresenta várias vantagens ecotoxicológicas sobre os inseticidas convencionais, especialmente por serem caracterizados como produtos de alta atividade biológica (atuam em baixas doses), elevada especificidade e baixa toxicidade para vertebrados, já que os processos bioquímicos e fisiológicos no qual estas substâncias atuam são peculiares para os insetos. Consequentemente, os efeitos deletérios dos RCI sobre o ambiente, insetos benéficos, homem e animais domésticos são considerados nulos, razões pelas quais têm sido empregados, sem restrições, em programas de manejo de pragas do Brasil e do mundo.

Uma questão que ainda necessita ser melhor investigada, é com relação aos efeitos que os RCI podem causar aos inimigos naturais, especialmente com relação a predadores. Estes organismos podem entrar em contato com RCI, em condições de campo, através de pulverizações das lavouras ou quando alimentam-se de presas contaminadas com estes produtos. Em razão disto, espera-se que os efeitos deletérios sobre sua reprodução sejam semelhantes aos já comprovados para os insetos-pragas, embora este grupo de inseticidas seja considerado, de modo geral, como “seguros” ou “seletivos” para esses inimigos naturais.

Crébio José Ávila

Embrapa Agropecuária Oeste

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