Padronizando a qualidade do algodão

A concorrência e a disputa por mercadorias, isto é, a lei da oferta e da procura, forçaram os produtores, comerciantes e industriais a praticarem a seletividade de seus produtos, através do estabelecimento de faixas de qualidade

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A essas regras dá-se o nome de “Normas e Padrões”. Elas tiveram uso crescente a partir da Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII, a qual, no período de 1850 a 1900, espalha-se pela Europa, América e Ásia. Cresce a concorrência, a indústria de bens de produção se desenvolve e as ferrovias e o transporte marítimo se expandem, devido à invenção da locomotiva e do barco a vapor.

Na primeira fase da Revolução Industrial (1750 a 1850) a indústria têxtil da Inglaterra monopolizava o mundo, e a cidade de “Lancashire” tornou-se o centro têxtil do planeta. Apesar da pujança da Inglaterra, toda a matéria-prima (algodão) era importada especialmente dos Estados Unidos, Brasil e Índia.

Primeiro padrão

O primeiro padrão estabelecendo normas de qualidade surgiu na Inglaterra, em 1800, para classificar o algodão em pluma e visava proteger os industriais têxteis ingleses contra o recebimento de fibras de algodão - desuniforme e de má qualidade - importadas de outros países.

Em busca de preços melhores e pressionado pela Bolsa de Mercadorias de São Paulo, fundada em 1917, o Ministério da Agricultura estabeleceu, em 1925, a padronização do algodão destinado à exportação, com base nos padrões de Liverpool.

Nos anos de 1933 e 1934 dois decretos do governo federal tornam obrigatória a classificação oficial de todo o algodão produzido no Brasil, e estabelece que o algodão somente poderia ser exportado se o descaroçamento e prensagem fossem controlados pela Diretoria de Plantas Têxteis do Ministério da Agricultura.

É importante frisar que em 1925, ano do estabelecimento do primeiro padrão de algodão no Brasil, o país exportou 30.637t de pluma. Em 1938, treze anos após o primeiro padrão, a exportação de pluma atingiu 268.700t e, no ano de 1946 - um ano após o término da 2ª Guerra Mundial - exportamos 352.800t de pluma, e o país permaneceu como grande exportador de fibra de algodão até o início da década de 80, devido a grande aceitação da fibra do algodão nacional, especialmente o algodão de fibra longa produzido no Nordeste.

É bom lembrar que a padronização e a classificação do algodão em pluma, no Brasil, obedecem a Portaria Nº 55, de 9 de fevereiro de 1990, do Ministério da Agricultura.

Padrões Meridionais

Com base nas análises do colorímetro para o algodão (Rd% de reflexão e +b grau de amarelo da fibra) e do analisador Shirley, que analisa o desperdício (percentagem de impurezas e de matérias estranhas contidas na fibra), foram estabelecidos os padrões para a região Meridional, com os tipos 3/4, 4, 4/5, 5, 5/6, 6, 6/7, 7, 7/8, 8 e 9; para a região Setentrional (Herbáceo) com os tipos 3/4, 4, 4/5, 5, 5/6, 6, 6/7, 7, 7/8 e 8, e para a mesma região com o algodão Mocó-Seridó, com os tipos 4, 4/5, 5, 5/5, 6, 6/5, 7.

Ressalta-se que para a região Meridional, existem mais 3 padrões para o algodão manchado (manchas provocadas por pragas e doenças): 6 MAN, 6/7 MAN e 7 MAN; e 6 padrões para a pluma de coloração levemente avermelhada (motivada pela cor do solo, especialmente terra roxa), denominados de 6 LAV, 6/7 LAV, 7 LAV, 7/8 LAV, 8 LAV e 9 LAV. A sigla MAN corresponde ao algodão de pluma manchada, e a LAV, refere-se a pluma levemente avermelhada.

Como se percebe, a padronização e a classificação são efetuadas para atenderem às exigências dos mercados interno e externo, cada vez mais exigentes em padrão de qualidade.

Por outro lado, a padronização possibilita a comercialização sem a presença física do produto, mediante a apresentação dos certificados ou descrição do resultado da classificação, o que facilita a fixação de preços dos produtos em diferentes mercados. E ainda agiliza a realização de negócios nas bolsas de mercadorias, para entrega imediata ou futura, além de proteger o nome do país exportador.

É importante ressaltar que a indústria têxtil nacional, considerada a sexta do mundo, consome em torno de 800 mil toneladas de pluma/ano, a qual tem de ser toda classificada para atender aos ditames da lei.

Numa análise global da produção nacional e em comparação com os demais países produtores, o Brasil vem produzindo algodão de boa qualidade. Mas ainda necessita de ação mais enérgica para diminuir o percentual de matérias estranhas e impurezas, durante a colheita.

João C. Farias de Santana

Consultor

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