Pesquisa com tipos especiais de grãos de arroz em Roraima

Potencial demanda na Ásia por grãos especiais pode representar uma alternativa para nichos de mercado e exportação de arroz

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Estudos de projeção de demanda realizados pelo International Rice

Research Institute (IRRI) em janeiro de 1994, apontam a necessidade de

aumentar a produção mundial de arroz em cerca de 70% em 2025. Além

disso, estes mesmos estudos mostram um mercado internacional diferente

do tradicionalmente conhecido.

Especialmente na Ásia, continente historicamente auto-suficiente,

existe um alto potencial de demanda. Os países asiáticos terão que

importar cerca de 10 milhões de toneladas de grãos nos próximos anos.

Vários são os fatores que tem contribuído para essa mudança no mercado

mundial e entre esses, crescimento populacional, com a conseqüente

expansão imobiliária em áreas rurais, é um dos mais importantes, aliado

a falta de água para irrigação das lavouras. Tomemos como exemplo a

China, maior produtor de arroz (190 milhões de toneladas em 1996), com

um consumo per capita em torno de 133 kg de arroz branco/habitante/ano,

que depara-se atualmente com o desafio de alimentar 1,2 bilhões de

pessoas (22% da população mundial) com apenas 9% da terra agricultável

disponível no mundo. Para fins de comparação cita-se o Brasil, cuja

população equivale a 3% da população mundial e dispõe de 8% de terras

agricultaveis do planeta.

Vários autores citam , ainda, que a população chinesa está crescendo

em, aproximadamente, 14 milhões de pessoas por ano, e por outro lado,

reduziu suas terras para a agricultura em 400.000 hectares, justamente

devido a expansão imobiliária.Dessa maneira, para poder alimentar o

país nos próximos anos, os chineses terão que importar grandes

quantidades de cereais, e em especial, de arroz, que é o principal

produto alimentar na dieta asiática.

Outro fator importante na mudança do mercado mundial diz respeito a

rodada de negociações do GATT (Acordo Geral Sobre Tarifas e Comércio),

realizado em 1995 no Uruguai, que permitiu a abertura de fronteiras

para o mercado internacional, em especial, o fim das proibições e

importações no Japão e Coréia. Neste cenário, das 10 milhões de

toneladas de grãos de arroz demandados pelos países asiáticos, metade

seria suprida por exportadores tradicionais como os Estados Unidos,

Tailândia e Vietnã e a outra metade teria que ser suprida por países da

América Latina e África. Considerando que nos países africanos há

constante instabilidade política e econômica, é pouco provável que

esses possam suprir essa demanda.

Abre-se, portanto, um mercado altamente promissor para o arroz

produzido na América Latina, onde o Brasil pode liderar essas

exportações.

Por outro lado, o mercado internacional é altamente organizado e

competitivo, e sendo assim, é necessário que o Brasil se prepare

imediatamente para ser exportador.Nos Estados Unidos, por exemplo, 20%

da área cultivada com arroz no estado de Lousiana é com grãos que se

destinam à exportação, principalmente par o mercado

japonês.Concomitantemente, os programas de pesquisas estão

intensificando o desenvolvimento e a avaliação de um grande número de

linhagens com grãos japônica. Por outro lado, onde não predominam

cultivares japônicas, o mercado internacional prefere grãos do tipo

longo e aromáticos, cujo preço é duas vezes maior que cultivares

não-aromáticas.

De um modo geral pode se dizer que no Japão, Coréia e algumas regiões

da China são preferidos os arrozes de grãos curtos, arredondados e que

“grudam” após o cozimento, enquanto que, na Índia, ocorre o emprego em

larga escala de cultivares aromáticas. Os mercados da Europa e América

têm como preferência grãos longos e finos. No entanto, sem sombra de

dúvidas, o mercado asiático é o mais atraente devido a grande tradição

e consumo elevado de arroz.

Além da demanda externa, o mercado brasileiro já vem acenando para a

necessidade de diversificação de tipos de arroz para serem usados em

receitas culinárias sem o acompanhamento do feijão.Restaurantes,

empresas e importadoras, sintonizadas no processo de globalização,

estão investindo em cultivares que apresentam grãos especiais para

preparação de risotos e pratos oriundos da culinária asiática. Há

estimativas que no Brasil a Colônia Japonesa seja de mais de 3 milhões

de pessoas, consumidoras potenciais das comidas orientais, que utilizam

como base arroz com grãos Japônica.

Do exposto, a pesquisa com arroz no Brasil procura se adequar a essa

nova realidade mundial, gerando tecnologias que atendam as demandas do

mercado, tanto em nível nacional como internacional.Como exemplo, a

Embrapa desenvolveu e vem avaliando cultivares aromáticas (aroma de

pipoca) em diversas regiões do país. Essas cultivares possuem atributos

apreciados pelos consumidores brasileiros: processados e embalados, os

grãos são translúcidos, com formato longo-fino (agulhinha) e após

cozimento ficam macios e soltos.

Em Roraima, para as várzeas, onde predomina a agricultura empresarial

com o cultivo de arroz irrigado, o enfoque é, além da obtenção de alta

produtividade e excelente qualidade de grãos de cultivares com grãos de

classe longo-fino(preferência no marcado nacional) desenvolver

pesquisas para obtenção de cultivares com grãos Japonicas(próprios para

a culinária japonesa), visando tanto o mercado interno, como o de

Manaus-AM como também o mercado asiático. Com o início de funcionamento

da Zona de Processamento de Exportação e das Áreas de livre Comércio de

Boa Vista e Bonfim (ALC´s), recentemente aprovadas, Embrapa Roraima

está atenta a esta possibilidade de negócio e intensificará a partir

deste ano agrícola(2008/09), pesquisas com a introdução e avaliação de

linhagens de arroz com grãos Japônicas em Roraima.

Engenheiro Agrônomo, Dr. em Genética e Melhoramento de Plantas

Pesquisador da Embrapa Roraima

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