Pimentão cultivado em estufa

Especialistas orientam a produção de pimentão em estufa, esclarecendo dúvidas como espaçamento recomendado, sistema de tutoramento, hastes e etc.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A produção de pimentão em estufa foi uma das que mais cresceram na última década. Bem aceito pelo consumidor, o pimentão de estufa passou a oferecer uma nova opção de renda para pequenos e médios produtores, além de uma oportunidade de investimento para profissionais liberais aposentados. 

Independente de sua origem, o produtor sempre questiona os técnicos sobre a melhor maneira de conduzir a cultura do pimentão em estufa. Diversas são as perguntas: Qual é o espaçamento recomendado? Qual deve ser o sistema de tutoramento a ser utilizado? As plantas devem ser conduzidas com 2, 3 ou 4 hastes? 

Diante de tantas dúvidas a Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP de Botucatu/SP (FCA) pesquisou durante dois anos a cultura do pimentão vermelho em estufa. Foram testadas duas épocas de produção, seis híbridos comerciais, três espaçamentos, dois sistemas de tutoramento e 4 sistemas de condução. Baseados nesses resultados, algumas recomendações puderam ser extraídas. 

Leia também: 

Sistemas de tutoramento

Uma das primeiras decisões a ser tomada pelo produtor é quanto ao sistema de tutoramento a ser utilizado. A FCA comparou os sistemas de tutoramento em “V” e o do espaldeira simples. 

O cultivo em “V” consiste de um par de mourões fincado nas extremidades de cada leira e outro par no centro da leira, de maneira tal a formar um “V”. Esses mourões devem ser travados com sarrafos a cerca de 2,5 metros acima da leira, e distantes cerca de 1 metro entre si. Recomenda-se colocar uma trava nos mourões a 25 cm acima da leira, com a finalidade de servir de suporte para um fio de arame número 18, que passará pelo centro da leira, e sustentará as plantas na altura da primeira bifurcação. Esse cuidado adicional evita que as plantas tombem com o peso dos primeiros frutos. 

Outros dois fios do mesmo tipo de arame devem ser colocados a 2,5 m acima da leira, ligando os mourões, com a finalidade de sustentar e alinhar as varas de bambu utilizadas no sistema de tutoramento do cultivo em “V”. Recomenda-se ainda colocar duas varas de bambu com 3 metros de comprimento a cada 2,5 metros para melhor suporte. Em sua parte superior, essas varas de bambu devem ser amarradas a um dos dois fios de arame.

À medida que as plantas crescem, fitilhos de plástico de amarrar sacaria ou fios de arame devem ser colocados para servir de suporte para as plantas, cujas hastes devem ser periodicamente presas. Os fitilhos ou os fios de arame são suportados pelas varas de bambu. Um cuidado que se deve ter é de somente prender as hastes que estão apoiadas em um dos fitilhos ou fios de arame pois quando a haste de uma planta é pendurada no suporte, esta pode quebrar-se com o peso dos frutos. A distância entre os fitilhos ou os fios de arames, que são dispostos na horizontal, deve ser de 15 a 20 cm entre si.

O sistema de tutoramento em espaldeira simples constitui-se de um mourão colocado nas extremidades de cada leira e um outro no meio da leira, de maneira a estarem alinhados com a fileira de plantas. À cerca de 25 cm acima da leira, um fio de arame número 18 deve ser colocado para sustentar as plantas na altura da primeira bifurcação, pois estas podem tombar com o peso dos primeiros frutos. Esse fio de arame é preso nos mourões e também é sustentado por varas de bambu, colocadas no máximo a 2,5 m de distância entre si. No tutoramento em espaldeira simples se utiliza apenas uma vara de bambu enquanto que no sistema de tutoramento em “V” duas varas são requeridas. Em ambos os casos as varas de bambu devem ser presas no arame superior.

No sistema de tutoramento em espaldeira simples fitilhos de plástico de amarrar sacaria ou fios de arame devem ser colocados para servir de suporte para as plantas. A grande diferença nesse tutoramento em relação ao cultivo em “V” é o espaçamento entre os fitilhos ou fios de arame que pode ser de até 30 cm. 

Um cálculo básico de custo é capaz de demonstrar que o tutoramento da cultura de pimentão através do sistema de espaldeira simples acaba saindo mais barato para o produtor do que o cultivo em “V”. Além disso, o dia-a-dia de condução da cultura é bem mais fácil quando a cultura do pimentão é tutorada através do sistema de espaldeira simples. 

Por um outro lado, o tutoramento da cultura do pimentão através do tutoramento do cultivo em “V” apresentou uma maior produtividade por metro para os híbridos de pimentão vermelho avaliados. Por exemplo o híbrido Margarita alcançou uma produtividade de 7,1 kg no cultivo em “V” e apenas 6,5 kg com o tutoramento em espaldeira simples. Isso representa que o cultivo em “V” produziu 9,2 % mais do que o espaldeira simples. Mas será que a maior produtividade do cultivo em “V” versus o preço que o mercado paga pelo seu pimentão de estufa compensa o maior gasto com o tutoramento e a condução da cultura? Responder a essa pergunta é a chave para decidir qual sistema de tutoramento se deve escolher.

Muitos são os detalhes que fizeram um sistema de tutoramento melhor do que o outro, ou seja, adaptar as recomendações citadas aqui é fundamental para o sucesso da sua lavoura. Portanto, consulte o Engenheiro Agrônomo da sua região e discuta com ele a melhor alternativa para o seu caso.

Espaçamento entre plantas

A escolha do espaçamento parece ser mais fácil. O trabalho realizado pela FCA-UNESP avaliou seis híbridos diferentes em duas épocas de plantio e os espaçamentos de 25 e 33 cm entre plantas foram mais produtivos do que o espaçamento de 50 cm. A produtividade dos híbridos de pimentão vermelho quando transplantados entre 25 e 33 cm foram semelhantes. Portanto, as melhores opções para o produtor são os espaçamentos de 25 e 33 cm. Em geral o peso médio de frutos não foi alterado por nenhum dos tratamentos.

Sistemas de condução

A condução da planta do pimentão vermelho é o detalhe que faz a grande diferença. Por exemplo, os híbridos Atenas e Elisa avaliados no experimento da FCA apresentaram melhor produtividade com quatro hastes por planta ou plantas de crescimento livre (sem poda). Os resultados dos experimentos sugerem que o híbrido Commandant deva ser conduzido preferencialmente com quatro hastes por planta, enquanto os híbridos Margarita, Safari e Vidi podem ser conduzidos com três ou quatro hastes por planta.

Considerando o volume de serviço que representa a poda da cultura de pimentão vermelho em estufa, e portanto, o custo da mão-de-obra, a decisão de como conduzir as plantas terá um grande impacto no custo final de produção. Vale ainda salientar que o experimento realizado pela FCA em Botucatu avaliou apenas 6 híbridos, e o produtor tem dezenas de híbridos de pimentão a sua disposição no mercado. Mais uma vez, não se esqueça de consultar um Engenheiro Agrônomo e obter maiores informações sobre qual híbrido escolher na hora de plantar.


Sebastião W. Tivelli e R. Goto


Este artigo foi publicado na edição número 07 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas, de abril/maio de 2001.

Compartilhar

Mosaic Biosciences Março 2024