Pragas na safrinha

Na safrinha, proteja-se das pragas iniciais do milho, adotando as técnicas indicadas por pesquisadores.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O segundo plantio ou “safrinha” - prática bastante adotada no Brasil - pode ser uma atividade vantajosa, pois além de aumentar a renda do agricultor, favorece a proteção do solo, quer pelo aumento do volume da palhada, quer pela manutenção da cobertura do solo por um período maior. Além disso, o plantio direto e a baixa necessidade de herbicidas utilizados nese tipo de cultivo, podem reduzir o custo de produção.

O milho é uma alternativa que vem sendo usada para a safrinha. O produtor deve ficar atento para a questão fitossanitária, especialmente com as pragas.O complexo pragas deve considerar as relações ecológicas. Pouco se conhece sobre os mecanismos que regem a dinâmica populacional de insetos tropicais. Sabe-se que vários fatores podem influenciar no tamanho das populações, como clima, solo, vegetação e manejo. A determinação dos fatores que afetam direta ou indiretamente o tamanho das populações, principalmente das pragas, é fundamental para a agricultura, já que esse conhecimento poderá facilitar o controle racional dos insetos.

A compreensão sobre o efeito das atividades humanas nas populações de animais é muito precária. Extensas áreas com monoculturas aumentam substancialmente a oferta de alimento para os insetos, beneficiando certas espécies que acabam sendo consideradas pragas a ser combatidas.

Em condições naturais, todos os insetos possuem algum tipo de controle biológico. Todavia, devido ao aumento no número de indivíduos dessas pragas, torna-se improvável que seus inimigos naturais consigam novamente trazer a população a níveis aceitáveis, exigindo assim o uso de controles artificiais, químicos ou biológicos. As populações de pragas normalmente voltam ao estado de equilíbrio somente quando cessa a oferta de alimento fornecido pelos plantios.

Os ecossistemas simplificados e intensamente manejados das lavouras, associados à redução da diversidade ambiental e ao uso constante de pesticidas, vêm agravando os problemas com insetos.

O aumento do número de pragas deve-se provavelmente ao uso continuado de agrotóxicos, o que pode ocasionar uma resistência cada vez maior dos insetos. Temos também a redução de áreas com vegetação nativa e a redução dos inimigos naturais. De qualquer modo, a necessidade da produção de alimentos será sempre crescente e as pragas terão que ser combatidas. O desafio é conciliar produtividade com a preservação ambiental e saúde humana.

Vários são os fatores que podem influenciar a ocorrência e o potencial de dano das pragas, inclusive o modo de preparo do solo. Em áreas de plantio direto vem ocorrendo, em geral, mais problemas com pragas de solo do que em lavouras com plantio convencional.

As pragas, de maneira geral, representam um fator limitante da produção, aumentam os custos da lavoura devido ao uso de inseticidas e esses agridem o meio ambiente e a saúde humana. A identificação correta da praga, com o conhecimento do seu ciclo biológico, é fundamental para a escolha mais adequada das medidas de controle. Além das espécies abaixo citadas, várias outras devem ser monitoradas como a lagarta do cartucho (

), lagarta da espiga (

), lagarta dos capinzais (

), cigarrinhas, pulgões, percevejos, formigas, broca da cana (

), entre outros.

Percevejo Castanho

- de difícil controle, pode causar grandes prejuízos. A monitorização do solo, por ocasião do preparo, é a melhor maneira para a prevenção. Postura: no solo. Ninfa: no solo; na estação seca podem ficar a grandes profundidades, apresenta cinco fases de desenvolvimento e se alimentam da seiva das raízes. Adulto: permanecem a maior parte do tempo no solo, mas podem migrar em revoadas. Sugam a seiva das raízes. Ocorrência: de modo não uniforme em todo o Brasil, com maior ocorrência de setembro a maio. Sintomas: odor durante o preparo do solo, amarelecimento, murchamento, secagem e morte das plantas. Controle: difícil, devido à profundidade em que podem permanecer no solo. Deve ser preventivo no plantio, com tratamento das sementes ou no sulco. Em solos com histórico de presença do percevejo castanho, o preparo do solo deve ser com aração e gradagem, além de evitar plantas daninhas durante o ciclo vegetativo.

Cupins

(

sp.;

sp.;

sp.;

sp. etc.)

Postura: a rainha faz a postura no solo ou no termiteiro (montículo). Ninfa: no solo ou no cupinzeiro, deslocando-se através de galerias subterrâneas. Nesta fase já é possível identificar as castas. Adulto: a casta das operárias ataca sementes e raízes. Ocorrência: todo o Brasil, durante o ano inteiro.

Dependendo da região, normalmente de agosto a novembro na maioria das espécies. Sintomas: falhas na germinação devido à destruição das sementes, posteriormente com o ataque às raízes, causa amarelecimento e murchamento, reduzindo a produção, e em certos casos pode levar a planta à morte. Controle: mais eficiente é o preventivo com tratamento de sementes e do solo.

A maioria dos produtos usados para combater os cupins são altamente perigosos ao homem e ao meio ambiente, com alta toxidade, persistindo por longo período no solo. A utilização de fungos como controle biológico pode se tornar viável a médio prazo.

Coró, Bixo-bolo

sp.

sp.

sp.

sp. etc. - várias espécies de besouros da família Scarabaeidae, são pragas importantes na fase de larva. A identificação da espécie é feita na fase adulta. Podem atacar diversas culturas. Os sintomas são murchamento e secamento das plantas. O definhamento dessas é em geral mais rápido do que quando causado por outras pragas. Postura: no solo, com ovos isolados ou em grupos, dependendo da espécie. Larva: fase que pode durar alguns meses, permanece no solo alimentando-se de matéria orgânica e raízes. As larvas são de cor clara com cabeça escura com três pares de pernas, conservando sempre uma postura recurvada. Pupa: no solo, em profundidades variando de acordo com a espécie. Adulto: os besouros são em geral de cor escura. Depois da emergência, que normalmente ocorre no final de outubro, são encontrados na superfície e podem ser capturados em grande quantidade com armadilhas luminosas. Ocorrência: todo o País, durante o ano inteiro, sendo a forma adulta encontrada mais facilmente entre outubro e março. Sintomas: secamento e morte da planta pela destruição das raízes. Controle: mais eficiente é a prevenção, com tratamento de sementes ou solo no sulco de plantio.

Vaquinha

- espécies de pequenos besouros pertencentes à família Chrysomelidae (

sp.;

sp. etc.), são pragas importantes nas fases de larva e adulta. Para o milho, as larvas são de maior importância econômica. Postura: no solo. Larva: conhecida em certas regiões do Brasil como larva-alfinete, ocorre com muita freqüência em todo o País. Alimentam-se das raízes. Pupa: no solo. Adulto: de cor verde com manchas amarelas, podem atacar as folhas, causando dano em plantas jovens. Ocorrência: em todo o País, durante o ano inteiro, alimentando-se de várias culturas. Sintomas: desenvolvimento irregular da planta, murchamento, secamento e morte devido ao ataque às raízes. Controle: nos adultos pode ser feito com inseticida recomendado pela assistência técnica. Para a larva o controle deve ser feito no plantio. O tratamento da semente é ineficiente em certos casos.

Larva-arame

spp. - denominação popular para a fase de larva de besouros de várias espécies da família Elateridae. São, na fase adulta, os pirilampos ou vaga-lumes. Postura: no solo. Larva: no solo, alimentando-se de raízes e sementes. Esta fase pode ser duração superior a um ano, dependendo da espécie. Pupa: no solo, protegida em câmara. Adulto: tamanho e coloração variados, dependendo da espécie. Ocorrência: todo o Brasil, sendo que o adulto da maioria das espécies tem pico entre setembro e março, dependendo da região. Sintomas: falhas na germinação, amarelecimento e secamento das folhas devido ao ataque a sementes e raízes. Controle: deve ser feito preventivamente no plantio.

Elasmo

- pequena mariposa da família Pyralidae, cujas lagartas perfuram o colmo de plantas novas, provocando a morte das folhas, especialmente as centrais. Postura: na parte inferior do colmo, no solo ou nas folhas. Ovos verdes. Lagarta: penetra o colmo próximo ao solo. Pupa: no solo. Adulto: mariposa de tamanho pequeno (15mm de envergadura), de coloração que varia de cinza a marrom avermelhado. São atraídas por armadilhas luminosas. Ocorrência: todo o país, praticamente durante o ano todo. Nas regiões Centro-Oeste e parte do Nordeste apresenta maiores populações entre outubro e abril, especialmente durante os períodos de estiagem (veranicos). Sintomas: murchamento e morte das folhas centrais. Controle: causa maiores danos em época seca e em plantas novas. A irrigação pode ser um controle eficiente. O controle preventivo com tratamento das sementes e inseticidas no sulco de plantio também são recomendados.

Lagarta rosca

- mariposas da família Noctuidae. A. subterrânea, de ciclo biológico semelhante, é também as vezes vulgarmente denominada de lagarta rosca. Postura: ovos brancos no solo ou nas folhas. Lagarta: acinzentada ou marrom, dependendo do estádio de desenvolvimento. Em plantas novas as lagartas cortam o colmo do milho próximo ao solo. Pupa: No solo. Adulto: mariposa de tamanho médio (35mm de envergadura), asas anteriores escuras e asas posteriores de cor clara. Ocorrência: todo o Brasil, o ano inteiro. Sintomas: corte do colmo, morte das folhas centrais e perfilhamento. Controle: inseticidas.

Moscas

Diptera, Nematocera, Sciaridae - insetos que se desenvolvem na matéria vegetal em decomposição, em lugares sombreados e úmidos. Normalmente não são pragas. Mas recentemente suas larvas foram observadas em raízes de milho de lavouras em plantio direto e em vegetação nativa do Cerrado. Em grande quantidade podem atrasar o desenvolvimento da cultura, afetando a produtividade.

Amabilio A. de Camargo

Embrapa Cerrados

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