Preparando o campo

Existem diversos equipamentos para realizar o manejo de pastagens e plantas de cobertura. Conheça os principais modelos e qual a finalidade de cada um.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Os sistemas conservacionistas preconizam manter a superfície do solo coberta o maior tempo possível e que essa cobertura esteja distribuída o mais uniforme possível. O manejo da vegetação tem por finalidade cortar ou reduzir o comprimento da mesma e fornecer condições adequadas para utilização de máquinas, de preparo do solo e principalmente de semeadoras.

O manejo da vegetação pode ser efetuado por dois métodos: o químico, utilizando-se pulverizadores, e o mecânico, que pode ser realizado durante a colheita da cultura principal, com o uso do picador de palhas acoplado às colhedoras combinadas, entretanto, esse manejo é realizado por equipamentos desenhados para essa finalidade como o triturador de palhas tratorizado, roçadora, rolo faca e grade de discos, ficando este último descartado no sistema de semeadura direta.

Os diferentes manejos de plantas de cobertura devem ser realizados na fase de grão leitoso, o que propicia vantagens, principalmente o não uso de produtos químicos e a fragmentação da vegetação, facilitando as operações subsequentes. Porém, têm como desvantagem a aceleração da decomposição das plantas, que em alguns casos é prejudicial.

A roçadora tem por função cortar/picar a vegetação. Essa máquina tem por princípio de funcionamento a elevada rotação dos mecanismos ativos, que são lâminas horizontais paralelas à superfície do solo. A altura de corte pode variar de 2 a 20 cm e a largura de corte de 0,5 m (roçadoras simples) até 3,0 m (roçadoras triplas). A elevada rotação dos mecanismos ativos (800 a 2000 rpm) exige que a máquina tenha proteção nas laterais para impedir o arremesso de pedras o que pode acarretar em acidentes. Outro ponto importante é o balanceamento das lâminas, para minimizar o efeito de vibração e, conseqüentemente, rendimento da máquina.

As roçadoras tratorizadas podem ser de três tipos: a) acionadas pela tomada de potência (TDP) do trator e acopladas ao sistema hidráulico de três pontos (SH3P), são as mais comuns, podendo ser centralizadas ou deslocadas. Essa máquina é composta de um chassi com chapas de 5 mm e travessas laterais para conferir-lhe resistência à mesma. Em sua parte anterior tem-se os pontos de acoplamento aos braços inferiores do sistema hidráulico e a torre para acoplamento do terceiro ponto. Nesse tipo, a torre deve ser articulada para que a máquina trabalhe sempre nivelada em relação ao solo, aumentando assim a eficiência. O controle de altura de corte é feito com rodas e/ou patins. As lâminas são dobráveis para evitar impactos contra obstáculos, trabalhando como um sistema de segurança; existe também uma embreagem que absorve a diferença de rotação das lâminas quando em contato com algum obstáculo, preservando assim a TDP do trator e o próprio sistema de transmissão da máquina; b) roçadora acionada pela TDP e acoplada à barra de tração (BT) do trator. A constituição orgânica é semelhante à anterior, porém, possui rodas locomotoras e também o cabeçalho e c) roçadora acoplada à barra de tração do trator e acionada pelas próprias rodas locomotoras, as quais possuem garras especiais. A transmissão da rotação das rodas para as lâminas é realizada por um diferencial. Essas máquinas têm largura de corte em torno de 2,40 m, porém, exigem mais de 59 kW (80 cv) na barra de tração dos tratores. A manutenção dessas máquinas é relativamente simples. Primeiramente devem ser verificadas as correias e eixo cardan quanto a folgas, afiação ou troca de lâminas, nível de óleo das transmissões e lubrificação geral.

Considera-se como bom rendimento para essas máquinas 1,5 ha/h. Segundo SILVEIRA (1988), as roçadoras acopladas ao sistema hidráulico de três pontos e acionadas pela TDP apresentam aproveitamento de 50% a mais da potência do trator, quando comparadas à de arrasto, representando grande economia de combustível e necessidade de tratores menores. BALASTREIRE (1987) cita que a cada 1,5 m de largura de corte exige-se ao redor de 8 kW (10,9 cv) de potência, e esta dobra no caso das lâminas estarem cegas. O requerimento de potência segundo a ASAE (1987) é de 4 kW (5,4 cv) a cada 1,3 m de largura de corte, considerando-se cortes leves. Porém, LINO et al. (1995) citam a necessidade de até 22,5 kW (30,6 cv) com grandes quantidades de massa.

O triturador de palhas tratorizado é outra máquina utilizada no manejo de restos culturais e plantas de cobertura. Também, tem por função cortar/triturar a massa com maior intensidade que a roçadora, com boa uniformidade de distribuição. Seu funcionamento é por meio de elevada rotação de facas dispostas em um eixo horizontal paralelo ao solo, possui altura de corte variando de 1 a 25 cm e largura de corte de 1,5 a 3,5 m. As facas são dobráveis com rotação de aproximadamente 3000 rpm, rotação esta que proporciona uma trituração bastante eficiente da massa.

Essas máquinas podem ser centralizadas em relação ao trator, deslocadas para as laterais e ainda dianteiras. São compostas de um chassi de chapas de ferro, possuem pontos para acoplamento aos braços inferiores do sistema hidráulico e torre para acoplamento ao terceiro ponto; rodas para o controle de profundidade; defletores para esparramação homogênea do material triturado; sistema de transmissão por eixo cardan para acionamento do rotor onde são acopladas as facas. Têm como detalhe afiamento dos dois lados, o que possibilita a mudança quando desgastadas. Sua manutenção é bastante semelhante à roçadora: verificar correias e eixo cardan quanto a folgas, mudança de lado das facas, nível de óleo da transmissão e lubrificação geral.

Segundo BOLLER et al. (1992), o triturador de palhas é eficaz no manejo da aveia e ervilhaca, produz 50% de fragmentos menores que 25 cm, facilita operações posteriores e os fragmentos cortados não se alteram com a variação da velocidade de deslocamento. BOLLER et al. (1993) citam a capacidade de trituração de 8,0 a 14,4 t/h para velocidade de 3,8 a 7,0 km/h. LEVIEN (1999) encontrou exigência de potência de 3,9 kW (5,3 cv) na TDP para o manejo de aveia preta e FURLANI, (2000) utilizando o mesmo equipamento, encontrou 10,8 kW (14,7 cv) na TDP no manejo de restos culturais de milho, o que mostra que as culturas influenciaram a exigência de potência.

O rolo faca, também denominado de rolo picador ou cilindro picador, tem como função o pré-acamamento da vegetação. Esse equipamento provoca o esmagamento dos vasos das plantas, resultando na morte e/ou impedindo a rebrota. É muito utilizado no manejo de restos culturais e adubos verdes.

O princípio de funcionamento é por meio da rotação de um ou mais cilindros com lâminas (facas) transversais dispostas na periferia; possui largura de corte de 1,0 a 3,0 m; a rotação do cilindro é variável com a velocidade de deslocamento do trator. O rolo faca pode apresentar 1, 2 ou 3 cilindros, dispostos lateralmente ou em tandem, que podem ou não possuir rodas de transporte, que facilitam muito a condução do mesmo até o campo. Existem também rolo facas com sistema de transporte pelo SH3P do trator, porém, exigem bastante do SH3P devido a seu peso, pois na maioria das vezes deve ser lastrado. A lastragem é necessária para que toda a vegetação sofra o esmagamento pelas facas. No caso de uma vegetação rala, é interessante a retirada do lastro, pois com pouca vegetação as facas mobilizam o solo e podem facilitar a emergência de plantas daninhas. A manutenção desse equipamento é realizada com afiamento ou troca das facas e lubrificação dos mancais.

Segundo DERPSCH et al. (1991), o rolo faca é pouco exigente em força de tração, proporciona cobertura uniforme no solo, sem fragmentação excessiva. LEVIEN et al. (1997), utilizando rolo faca em vegetação espontânea, encontraram exigência de potência de 4,2 kW (5,7 cv) para 5,2 km/h. LEVIEN (1999), trabalhando com rolo faca a 3,6 km/h no manejo de aveia preta, encontrou 0,73 ha/h, 2,98 t/h, 9,7 L/ha e 2,49 L/ t, respectivamente para capacidade operacional, capacidade de rolagem, consumo por área e consumo por massa. FURLANI (2000), no manejo de aveia preta e nabo forrageiro com rolo-faca em diferentes sistemas de preparo do solo, não encontrou diferença no consumo de combustível no sistema de semeadura direta e escarificação (média de 7,2 L/h), porém, no manejo sobre o preparo convencional do solo consumiu 11,9 L/h.

Em regiões quentes, em áreas de semeadura direta, onde a formação de geadas no inverno são pouco freqüentes, há alta possibilidade de rebrotes de algumas das espécies de plantas de cobertura, além da infestação de plantas daninhas de difícil controle, quando somente submetidos ao manejo mecânico. Isto leva-nos à utilização de mais um tipo de manejo para o devido controle. Resultados satisfatórios vêm sendo obtidos no manejo, tanto de plantas de cobertura, quanto de diferentes espécies de plantas daninhas, quando se utiliza de forma integrada os métodos de manejo mecânico e químico.

Resultados obtidos por BRANQUINHO et al. (2002) mostram que o manejo integrado, através do uso de rolo-faca e triturador de palhas, acrescido do uso de herbicidas dessecantes após a formação de cobertura vegetal pelos rebrotes de milheto, além da presença de plantas daninhas, levaram ao maior benefício no manejo de espécies de plantas daninhas de difícil controle quando comparado ao uso contínuo do manejo químico. Atualmente, a utilização somente de uma forma de manejo tem levado à dominância de espécies de plantas daninhas tolerantes à maioria dos herbicidas recomendados para este tipo de situação. Desta forma, observa-se a credibilidade do uso de manejo integrado para regiões onde a formação de palha ainda apresenta-se ineficiente na cobertura do solo, suprimindo a comunidade infestante de plantas daninhas, seja por barreira física ou alelopática, promovendo a formação de povoamento puro com a cobertura vegetal de interesse.

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FCAV - Unesp

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