Principais desafios do pomar de maracujá

Causadas principalmente por bactérias, fungos e vírus, doenças estão entre os maiores entraves para a produção do maracujazeiro

09.06.2016 | 20:59 (UTC -3)

Embora a cultura do maracujazeiro esteja em franca expansão, a ocorrência de problemas fitossanitários tem reduzido a vida útil dos plantios e pode ameaçar o sucesso da cultura, por tratar-se de um dos principais problemas, cuja consequência final é a queda na qualidade dos frutos e a redução na produtividade. As principais doenças do maracujazeiro são causadas por bactérias, fungos e vírus.


Dentre as principais doenças causadas por bactérias, destaca-se a mancha oleosa causada pela bactéria Xantomonas axonopodis pv. passiflorae descrita pela primeira vez em Araraquara, São Paulo, como Xanthomonas campestris pv. passiflorae. A disseminação dessa bactéria é feita por mudas e sementes contaminadas, águas pluviais ou de irrigação contaminadas, vento, bem como por ferramentas, utensílios e máquinas contaminadas. Pequenas manchas nas folhas de coloração verde-escura com aspecto encharcado e halo amarelo. As lesões podem aumentar de tamanho, apresentar coloração marrom e atingir todo o limbo, ocasionando seca e queda foliar.

Ocorre, ainda, o avanço da infecção nos ramos, provocando a seca destes órgãos e até causar a morte da planta. Além destes sintomas, a bactéria também pode causar podridão e deterioração interna de frutos. A principal medida de manejo para o controle da doença é a utilização de mudas sadias. Também é recomendado empregar quebra-vento, como o próprio nome sugere, para diminuir a ação do vento e da poeira sobre o pomar, contribuindo para a diminuição de ferimentos nas plantas e a possibilidade de entrada da bactéria, como também a sua disseminação entre plantas. Uma vez que essa bactéria é facilmente disseminada pela água da chuva e de irrigação, deve-se evitar a irrigação sobre copa. A erradicação das porções vegetais doentes pode ajudar a reduzir a epidemia, atentando-se para a desinfestação das ferramentas de poda com produto de ação bactericida, como o hipoclorito de sódio (água sanitária).

A rizoctoniose, mela ou “damping-of", causados por fungos do gênero Rhizoctonia sp., Pythium sp., Phytophthora sp., Fusarium sp. e outros que se desenvolvem na muda, em fase de viveiro, plântulas com três a quatro folhas, caracteriza-se por uma lesão no hipocótilo da plântula, determinando seu tombamento, culminando com a morte. Para realizar o controle é necessário que o viveiro apresente boa drenagem, ventilação e seja localizado em regiões afastadas de pomares adultos, além do uso de sementes de boa qualidade e procedência.

Em um estádio mais avançado a muda poderá apresentar sintomas de antracnose e bacteriose, em que as folhas apresentarão manchas de coloração marrom, com bordos aquosos ou cloróticos que se desprendem com facilidade. Assim é indicado localizar o viveiro longe de cultivos comerciais, empregar quebra-ventos para proteger o viveiro de ventos fortes e usar produtos à base de cobre como oxicloreto de cobre, alternado com mancozeb. No caso da identificação do agente etiológico recomenda-se para Rhizoctonia sp., a aplicação de pentacloro nitrobenzeno; para Fusarium sp., a aplicação de benomil, e no caso da Phytophthora sp., aplicar o fosetyl-Al.

Quando em fase de campo, as principais doenças, em função da frequência e dos danos ao maracujazeiro, são o vírus do endurecimento dos frutos, a podridão do colo, a murcha e a verrugose.

Endurecimento dos frutos

O endurecimento dos frutos Passion fruit woodiness virus (PWV) e Cowpea aphid-borne mosaic vírus é uma doença do maracujazeiro que merece destaque. Ocorre com maior frequência nas culturas do maracujazeiro amarelo (Passiflora edulis Sims. f. flavicarpa Deg.), do maracujazeiro doce (Passiflora alata Dryand) e do maracujazeiro suspiro (Passiflora nitida HBK). No Brasil, o agente etiológico considerado como principal espécie de Potyvirus que causa o endurecimento dos frutos do maracujazeiro é Cowpea aphid-borne mosaic virus (CABMV). A doença reduz o crescimento das plantas, comprometendo severamente a produtividade do maracujazeiro, o valor comercial dos frutos e o período produtivo das plantas. As folhas apresentam coloração verde-clara alternada com verde-escura, clareamento das nervuras e enrolamento, encurtamento dos entrenós, presença de bolhas, rugosidade e deformações foliares. Os frutos produzidos apresentam dimensões menores, com deformações e o pericarpo endurecido, o que reduz o seu valor comercial.

Como medidas de controle recomendam-se erradicar os pomares velhos ou contaminados na fase final do ciclo de produção; manter o plantio livre de plantas invasoras que podem ser hospedeiras e vetores, reconhecidamente diversas leguminosas, incluindo o feijão (Phaseolus vulgaris L.); utilizar mudas sadias; inspecionar periodicamente as plantas e desinfestar instrumentos de poda/desbrota para evitar a transmissão do vírus.

Podridão do colo

Causada por Fusarium solani e Phytophthora parasítica é uma doença responsável pelo decréscimo da produtividade e constantes migrações da cultura do maracujazeiro para outras áreas. O primeiro sintoma é uma ligeira clorose, seguida de mancha escurecida, murcha e morte da planta, resultado de uma podridão do colo das raízes da planta, como consequência da lesão que ocorre no cilindro central. Ocorre entumescimento do colo da planta com rachaduras longitudinais e raízes escurecidas. Os ramos apresentam lesões púrpuras que mais tarde evoluem para pardas. Os frutos verdes apresentam manchas de coloração verde-acinzentada de aspecto aquoso e as folhas mostram-se amareladas, principalmente se a lesão não circunda o tronco, há uma morte mais lenta.

Os locais de plantio não devem apresentar histórico da doença; evitar solos pesados e compactados; cuidados nos tratos culturais para não causar feridas no colo; em casos de feridas remover as lesões e aplicar pasta bordalesa. Pode-se utilizar uma solução aquosa de metalaxil (200g 100L); manejar a irrigação de forma a se evitar o excesso e o estresse hídrico; manter a integridade do sistema radicular e erradicar plantas doentes. O uso de porta-enxerto resistente permite conviver com o problema em locais contaminados, no entanto, menor desenvolvimento e produção das plantas enxertadas têm sido verificados.

Murcha

Causada por Fusarium oxysporum f. sp. passiflorae e outra doença que se destaca entre as mais temidas pelos produtores de maracujá, devido à morte da planta em poucos dias. A maior incidência da murcha ocorre no verão, devido às chuvas frequentes e às temperaturas altas, que favorecem o alastramento e a virulência da doença.

O fungo penetra pelas raízes ataca os vasos lenhosos da planta, deteriorando a casca, e, posteriormente, causa a murcha dos ponteiros e morte rápida das plantas, fase em que o sistema radicular encontra-se totalmente deteriorado. A planta pode morrer em quatro dias nos meses de verão, mas, em média, demora duas semanas. A doença ocorre com maior frequência em solos arenosos, em reboleiras e onde há maior concentração de matéria orgânica.

A escolha de terrenos bem drenados em locais altos e que não contenham restos de mata; evitar frequentes gradagens em áreas com focos descobertos; eliminação de plantas atacadas e destruição na cova.

Verrugose ou cladosporiose

Trata-se de uma doença fúngica, causada pelo Cladosporium herbarum (Pers.) Link, cujos esporos são disseminados a longas distâncias pelo vento e apresentam resistência a largos períodos de seca. Quando ataca os frutos, a doença pode apresentar-se na forma de verrugose e na forma de cancrose quando presente em folhas e botões florais. Na forma de cancrose, apresenta maior incidência nas épocas e regiões mais frias, sob temperaturas amenas variando de 15ºC a 22ºC. A verrugose pode não causar prejuízo na industrialização (depende do destino), pois não compromete a polpa. Os frutos apresentam-se com depressões de formato circular e as folhas com enrugamento, que após um certo tempo apresentarão a frutificação do fungo.

Para o controle, recomenda-se pulverizar a cultura com fungicidas à base de benomil ou à base de cobre, em aplicações semanais sob chuvas, ou quinzenais, em períodos com chuvas esparsas e menor umidade.

Para se conseguir sucesso é fundamental a participação de todos os setores envolvidos na cadeia produtiva do maracujá, desde a produção de mudas, fase de campo, até a comercialização e o processamento dos frutos.

Confira o artigo na edição 85 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas.

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