Pulgões e os danos diretos e indiretos em cereais de inverno

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Afídeos ou pulgões ocorrem em todas as regiões tritícolas do Brasil, com variações das espécies e da época de ocorrência, sendo observados ataques não apenas em trigo, mas também em cevada, triticale e aveia, bem como outras gramíneas não cultivadas. As principais espécies encontradas em trigo são Metopolophium dirhodum (Walker, 1849), Schizaphis graminum (Rondani, 1852), Sitobion avenae (Fabricius, 1775), Rhopalosiphum padi (Linnaeus, 1758), R. maidis (Fitch, 1856) e R. rufiabdominalis (Sasaki, 1899).

Os danos ocasionados por estes insetos podem ser diretos, por meio da sucção de seiva e do efeito tóxico da saliva, ou indiretos, pela transmissão de espécies do vírus do nanismo amarelo Barley yellow dwarf virus (BYDV) e Cereal yellow dwarf virus (CYDV). O tipo e a severidade dos danos diretos variam de acordo com a espécie de afídeo, a intensidade do ataque e o estádio de desenvolvimento da planta no momento da infestação.

O ataque por afídeos tem o poder de reduzir substancialmente a produção de grãos. Os efeitos sistêmicos de sua saliva tóxica retardam o crescimento de raízes e prejudicam o perfilhamento. Os principais componentes de produção afetados são números de espigas, de grãos por espiga e peso total de grãos. Como dano indireto da alimentação dos pulgões, o BYDV, transmitido exclusivamente por afídeos, é um problema de âmbito mundial, com grande impacto econômico em cereais de inverno. O BYDV afeta a produção de grãos pelo atrofiamento de raízes, redução do perfilhamento e pelo aumento da suscetibilidade do hospedeiro a fungos patogênicos e outros estresses ambientais.

A identificação correta das espécies de pulgões que estão atacando cereais de inverno é a primeira etapa para o sucesso e uso adequado de práticas de controle, que implicarão na redução de danos diretos e de incidência de viroses, além de fornecer informações que vão subsidiar o manejo destes insetos nas safras seguintes.

(Sasaki, 1899)

Os adultos ápteros apresentam corpo arredondado e de coloração verde-escura a oliva, geralmente com manchas avermelhadas ao redor e entre as bases dos sifúnculos; tamanho variando de 1,2mm a 2,2mm de comprimento; antenas com cinco segmentos, cerdas com comprimento maior que o diâmetro do III segmento e processo terminal caracteristicamente curvo; cauda curta, de cor negra e com dois pares de setas laterais.

(Fabricius, 1775)

Os adultos ápteros apresentam corpo alongado, de coloração amarelo-esverdeada e região dorsal do abdômen geralmente com mancha de cor negra; tamanho variando de 1,75mm a 3,8mm de comprimento; tubérculos antenais bem desenvolvidos; antenas com seis segmentos de cor negra, com ¾ do comprimento do corpo e ultrapassando a base dos sifúnculos; sifúnculos negros, cilíndricos e alongados; cauda de coloração clara, com ¾ do comprimento dos sifúnculos e com dois a cinco pares de cerdas laterais, podendo apresentar uma seta pré-apical. Os alados possuem corpo com coloração similar aos ápteros, mas com manchas escuras entre os segmentos dorsais.

(Fitch, 1856)

Os adultos ápteros apresentam corpo alongado, de coloração amarelo-esverdeada ou azul-esverdeada e com manchas negras na área ao redor dos sifúnculos; tamanho variando de 0,9mm a 2,6mm de comprimento; patas e antenas de coloração negra; tubérculos antenais pouco desenvolvidos; antenas curtas e com seis segmentos, processo terminal do segmento VI com 2 a 2,3 vezes o comprimento da base; sifúnculo com base mais larga que ápice, de coloração negra e com constrição apical; cauda de coloração negra com dois pares de cerdas laterais.

(Linnaeus, 1758)

Os adultos ápteros apresentam corpo ovalado de coloração verde-oliva-acastanhada, geralmente com mancha avermelhada ao redor e entre as bases dos sifúnculos; tamanho entre 1,2mm a 2,4mm de comprimento; tubérculos antenais pouco desenvolvidos; antena com seis segmentos e processo terminal do segmento VI com 4 vezes a 5,5 vezes o comprimento da base; sifúnculos cilíndricos, de coloração mais escura que o corpo e com leve constrição apical; cauda curta e normalmente com dois pares de cerdas laterais. Os alados apresentam coloração do abdômen marrom-clara a verde-escura.

(Rondani, 1852)

Os adultos ápteros apresentam corpo oval alongado de coloração geral amarelo-esverdeada e dorso com linha média longitudinal verde-escura, tamanho entre 1,3mm a 2,2mm de comprimento; tubérculo antenal pouco desenvolvido; antena com seis segmentos de coloração castanha e comprimento não atingindo a base dos sifúnculos; sifúnculos cilíndricos, da mesma coloração do corpo e com ápices escurecidos; cauda com dois ou três pares de cerdas laterais. Os alados apresentam cabeça e protórax de cor marrom-clara, demais segmentos torácicos negros; abdômen amarelo-esverdeado.

(Walker, 1849)

Os adultos ápteros apresentam corpo fusiforme de coloração verde-pálida ou amarelo-clara, dorso com linha média longitudinal mais escura e tamanho variando de 1,7mm a 3,7mm de comprimento; tubérculos antenais bem desenvolvidos; antenas com seis segmentos de coloração geral castanho- amarelada (ápice dos segmentos III a V e processo terminal do segmento VI negros) cujo comprimento ultrapassa a base dos sifúnculos; sifúnculos cilíndricos da mesma coloração do corpo, 3,5 vezes a 5 vezes mais longos que largos e com ápices escurecidos; cauda da mesma coloração do corpo, com dois a quatro pares de cerdas laterais e duas a três setas pré-apicais. Os alados apresentam abdômen de coloração amarelo-esverdeada.

, 1860

Os adultos ápteros são pequenos (1,0mm-1,9mm), corpo piriforme, achatado dorso-ventralmente e coberto de pêlos, apresentando coloração marrom-escura brilhante na superfície dorsal, que é totalmente esclerotizada (Figura 1). Os alados apresentam uma placa dorsal escura sobre os tergitos abdominais 4 a 7 e medem entre 1,3mm e 2,0mm.

O manejo integrado dos afídeos do trigo, no extremo sul do Brasil, fundamentado no controle biológico e no uso criterioso do controle químico, se constitui em um dos exemplos mais expressivos de sucesso, em culturas não perenes.

Entre o final da década de 1960 e meados da década de 1970, apesar da presença de inimigos naturais dos afídeos nas lavouras, o controle biológico natural não era suficiente para evitar os danos causados em trigo. M. dirhodum e S. avenae desenvolveram altas populações nos trigais do Sul do país, exigindo a adoção de medidas de controle para evitar que ocorressem severas reduções na produtividade das lavouras. O controle era feito com aficidas químicos, por meio de duas a quatro aplicações, em toda a área tritícola.

Em 1978, em colaboração com a FAO e a Universidade da Califórnia (EUA), a Embrapa Trigo iniciou um programa de controle biológico dos afídeos de trigo. Foram introduzidas no país 14 espécies de microhimenópteros parasitóides e duas espécies de joaninhas predadoras. O programa deu ênfase aos parasitóides que passaram a ser produzidos massalmente para liberação nas lavouras de trigo. Paralelamente, foi desenvolvido um trabalho de conscientização de técnicos e de triticultores para a adoção do manejo integrado dos pulgões, com base no controle biológico, no conceito de nível de dano econômico e no uso de inseticidas mais seletivos. O resultado superou todas as expectativas. Certas espécies de parasitóides introduzidos adaptaram-se e passaram a se reproduzir no novo ambiente, alterando a situação de desequilíbrio caracterizada pelos constantes surtos de afídeos. As populações de M. dirhodum e de S. avenae e de seus inimigos naturais se reequilibraram, reacomodando-se em níveis tais que a utilização de inseticidas para o controle dessas espécies reduziu significativamente. Esta situação persiste até hoje, todavia, como já era de se esperar, pelo caráter dinâmico do controle natural, o uso de inseticidas não foi totalmente abolido, sendo porém usado como medida emergencial e não mais generalizada como ocorria na fase anterior à introdução dos inimigos naturais dos afídeos.

Os afídeos são facilmente controlados com inseticidas diluídos em água e aplicados via pulverização da parte aérea das plantas. O tratamento de sementes com inseticidas também é tecnicamente viável e apresenta os melhores resultados no controle do complexo afídeos/BYDV.

Como critérios para a tomada de decisão na aplicação de inseticidas para o controle de afídeos, em pulverização da parte aérea do trigo, recomenda-se utilizar os parâmetros apresentados na (Tabela 1). O nível de infestação deve ser avaliado através de inspeções semanais da lavoura, amostrando-se aleatoriamente locais na bordadura e no interior das lavouras, que proporcionem resultado médio representativo da densidade de pulgões.

Embrapa Trigo

Universidade de Passo Fundo (UPF)

Embrapa Trigo

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